M A D R U G A D A

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Quando seus lábios tocaram os meus, eu senti vontade de beija-lo mais e mais. Seu perfume era forte e durou a noite toda em meu vestido. Um beijo lento e provacante, mas de um jeito romântico e proibido, e só então depois de uns bons amassos, eu lembrei do Lowis, o cara com quem eu deveria estar, e não alí, beijando um desconhecido.

— Não, não, não. Para. Não.

— Carrie? o que foi? Carrie?

Pieter tocava meu braço empurrando, em uma tentativa de que eu acordasse imediatamente.
— Oi? — Abri os olhos de repente.
— Está tendo pesadelos? o que houve?

Eu sonhei que a gente estava se beijando.

— Não é nada, eu só... devo estar estranhando o lugar.
— Merda, você me assustou. — Apesar do xingamento ele disse brincalhão.
— Eu sei, foi mal.
— Tá bom.

Ele se virou para o outro lado, e eu fechei meus olhos novamente.

Na noite passada, quando eu estava disposta a encarar uma chuva forte, ele segurou meu braço e pediu pra que eu ficasse. Insistiu que estávamos nos tornando amigos e não haveria problema algum em dormir próximos.

Eu assenti, e passamos o resto da noite falando sobre nós e rindo com milhares de metáforas.

— Pieter?
— Oi?
Ele disse em sussuros.
— Está com sono?
— Você não?
— Não estou conseguindo dormir.

Depois de sonhar que estava beijando o garoto que no momento se encontrava deitado ao meu lado, sob um pequeno teto e uma pequena coberta, meu subconsciente não me deixou dormir. Eu estava com medo, porque uma parte de mim sentia vontade de beijá-lo, e isso me deixava culpada, pois eu já tinha alguém, eu tinha o Lowis, e essa frase continuou no passado.

— A gente pode ir no balanço. — Pieter despertou.
— Pode dormir, é que eu...
— Não se preocupe, eu acho todo mundo perde o sono depois de um pesadelo.
— Não foi um pesadelo na verdade é que... Certo, o balanço.

A árvore estava escorregadia devido a quantidade de chuva caída na noite e nós tivemos que ter muita cautela pra descer.

— Como eu não pensei nisso antes?
— No que?
— Os balanços estão molhados.
— A gente pode voltar lá pra cima e e fazer outra coisa.
Ele percebeu que meu olhar foi vergonhoso com um toque de braveza, e continuou; — Quero dizer, a gente voltar e, falar mais sobre nós ou sei lá. Aposto que você nunca comeu farofa de tomate com mirtilo.
— Bingo. Até porque eu jamais comeria isso.
Sem me importar de sujar a roupa, sentei no balanço e olhei para o céu.

Acima de nós a lua brilhava surpreendentemente, e fiascos de neve parecia querer surgir.

— Você sabia que existe mais estrelhas no céu do que areia no mar?
— Jura? — Olhei para Pieter, e assim como eu, ele estava encantado com toda beleza celestial.
— Eu li em um livro.
— Talvez seja verdade, porque se você quase fechar os olhos, as estrelas parecem se multiplicar. — Fiz o que estava dizendo. — agora são quase como farinha.
— Incrível. — Ele estava justamente como eu. Com os olhos quase fechados e pés no chão, dando início a uma loga balançada.
— Essa noite eu esqueci que estava aqui.
— Ele parou o seu balanço com os pés e olhou pra mim.
— Como?
Parei o meu também e comecei prestar atenção.
— Eu esqueci que estava em um hospício. Cercado por pessoas deconhecidas. — Você me fez não querer morrer.
— Ele analisou o que tinha falado e riu nervoso. — Esse Lowis é um idiota.

— Não fala assi... Ele é um grande idiota.

Nós dois começamos a rir sem controle.

— Aquele dia no jardim. Você já tinha planejado ser tão idiota com o próximo novato?
— Não, aquilo foi improviso, confesso que fui muito bem.
— Sim, eu odiei você.
— Minha vida é tediosa, eu adorei o jeito que ficou brava comigo, me tirou da rotina.
— Eu sorri. — Eu estava muito furiosa. Mas perai? os outros são agem assim?
— Não, quando são meninas elas flertam comigo.
— Mas que droga, você se acha demais.
— Se já tivesse me beijado entenderia.
— E você ja se beijou?
— Já tentei, mas não consigo, mas acho que você consegue.
— Engraçadíssimo. Mas eu já disse que não vai rolar.
— Uma pena.
— Porque está dando em cima de mim? eu já disse que tenho namorado.
— Na verdade você disse que ele não te pediu em namoro, e eu sendo homem posso afirmar que ele está enrolando você.
— Não está não. Você está dizendo isso só pra me beijar.
— Ele me olhou mais forte. — Não quero mais, mudei de idéia, você gosta muito desse cara, olha só esses olhos dizendo tudo.
— Como assim?
— Os olhos cara, eles contam tudo.
— É, talvez.

***

Uma semana se passou e ele não foi me ver. Eu esperei um, dois, três, até quatro dias loucamente ansiosa, e no sábado, minhas esperanças estavam esgotadas.

— Meredith?
— Carrie. — A mulher que estava na minha frente já não era tão desconhecida como antes. Meredith já havia me dado conselhos de comportamento, e conseguido finalmente, um quarto só pra mim.
— Eu posso usar o telefone?
— É só uma vez por semana você tem certeza que quer gastar hoje... Ah, você já sabe dessa regra.
— Cansada de ouvir.
— Certo, por aqui.

Ela usava um vestido verde forte, e sapatos totalmente fechados cor de madeira. Sua pele estava mais limpa, e eu me perguntei se ela ganhava muito dinheiro naquele lugar, a ponto de conseguir ir para um spa chiquerrímo e relaxar.

— Obrigada.
— Tenho certeza que seu pai ficará feliz em saber que você se encontra melhor.
— Não é o meu pai.
— Ok. — Vou lhe dar privacidade.

Com as mãos meio trêmulas, e medo do que eu fosse escutar, me aproximei do telefone.
Meus dedos estavam quase sem condições de digitar o número, e a ansiedade me consumia.

— Alô?

Do outro lado da linha, uma voz soou firme e calma, quase impossível de saber o estado de espirito da pessoa, mas as minhas palavras, demoram longos segundos para sair.

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