A V I D A

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Ainda sonolenta percebi que estava sozinha no quarto de algum hospital. Nem meu pai, nem Lowis, nem enfermeiros.
Levantei, fiz análises no vestido hospitalar branco ridículo a qual eu estava usando, tirei do meu dedo indicador o oxímetro e fui até uma janela a de cortinas fechadas e as abri.
Engoli o ar quando vi que estava à noite. Eu havia passado horas desacordada o que significava que cada vez que eu desmaiava o tempo inconsciente era maior.

— Ei, você acordou. — Meu pai entrou no quarto com um copo de café, e engoliu uma quantidade.
— É, e estou com fome. — Admiti ainda olhando pela janela.
— Não acha melhor ficar deitada? Eu vou comprar algo pra você comer.
— Pai?
— Oi?
— Obrigada.

Pela primeira vez em anos, consegui agradecer meu pai com o coração puro, eu senti que estava mudando, algo em mim estava ficando mais sensível, algo em mim estava...vivo.

Eu sabia que meu pai estava preocupado, pois não era a primeira nem a segunda vez que estive desacordada, mas ele agia como se quisesse pedir perdão pelo dia em que me chamou de louca. Ele estava calmo e paciente.

Andei até a recepção e quando ía perguntar para uma senhora que estava atrás do computador se eu poderia ter alta, pois era apenas um ataque de nervosismo, olhei para o lado e com os olhos brilhando sorri.

Lowis estava dormindo no sofá de espera. Todo desajeitado com uma mão atrás do pescoço e outra pendurada para baixo como se tivesse caída assim que ele dormira.
Caminhei até ele e o cobri com sua própria jaqueta que estava jogada no braço do sofá. Quando sentei ao lado dele, meu pai retornou com um pacote do Buger King e me entregou.

— Eu pedi para ele ir embora descansar.
Meu pai sentou em uma poltrona.
— Pediu?
— Sim. Umas cinco ou seis vezes.

Eu o observei e passei minhas mãos sobre os seus cabelos. Sua respiração contínua e os olhos pregados deixava ele ainda mais lindo.

— Ele é um ótimo rapaz. Fico feliz de te-lo encontrado.
Papai nos olhava contente.
— Sim, ele é.
— Há quanto tempo estão namorando?
— Nós não...

Uma médica com o nome Vivian (o que eu não saberia se não tivesse lido seu jaleco) veio em nossa direção.

— Oliver?
Meu pai ficou em pé.
— Aconteceu alguma coisa?
— O senhor pode me acompanhar por favor?
— Sim, claro. — Ele me lançou um olhar preocupante mas querendo transmitir conforto.

Eu fiquei alí, parada. Lowis continuava dormindo. Olhei ao meu redor e por minutos tudo pareceu cena de filme.
Enfermeiras empurrando deficientes físicos. Médicos andando de um lado para o outro com papéis em mãos. Pessoas chorando ao escutar resultado de exame, e foi aonde eu entendi.

A vida é uma constante batalha de sobrevivência, e eu nunca havia notado a preciosidade nisso.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora