V O L T A R P R A C A S A?

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— ÃH ÃH. — Um som irritante, como uma irritação de garganta nos fez se afastar do beijo.
— Espero não estar atrapalhando alguma coisa. — Meredith, estava abaixo da árvore, inclinada para cima, com uma expressão séria.
— Meredith? — Pieter e eu falamos no mesmo instante.
Não era possível! o que ela estava fazendo ali? e desde quando sabia da "nossa" casa na árvore?

— Preciso falar com você Carrie.
— Certo, eu ja vou...eu ja vou descer.
— Falei, passando a mão na boca, como se fosse ficar menos vermelha.

— Acho que você já imagina o que é, não é mesmo?
— Na verdade não.
— Você irá pra casa amanhã!  — Ela disse empolgada como se também fosse um alívio.
— Como assim? eu? pra casa... mas...
— Seu pai virá te buscar amanhã bem cedo, eu vim te dizer pra arrumar as malas. — Ela deu um tapinha no meu ombro, e seguiu a diante.

Fiquei parada apenas observando ela ficar cada vez mais distante. Eu passei a mão na orelha, em uma tentativa de limpar meus ouvidos e ter certeza de que, o que eu tivesse escutado era verdade.

— Carrie, o que houve? — Pieter veio andando rápido até mim.
— Eu... eu vou pra casa...amanhã.
— O quê? tipo, pra casa, embora?
— Isso, pra casa.
— Droga. — Ele passou a mão na cabeça e eu não consegui evitar, o quão atraente ele ficou, fazendo aquele gesto.
— Eu tenho que ir arrumar minhas coisas.
— Quer ajuda?
— Seria uma boa.

Chegamos no meu quarto, e Pieter continuava calado, e agora, ele não era mais o menino difícil de discernir, ele estava triste, e cada curva do seu rosto, provava isso.

— Nem acredito que esse dia chegou tão rápido. — Admiti.
— Nem eu. — Ele permaneceu pensativo.

Comecei pôr minhas coisas dentro da mala, e andar de um lado para o outro no quarto a procura de todos meus pertences, me certificando de que, não esqueceria nada.

— Não acredito que preciso te deixar ir.
— Eu nao acredito que preciso ir.
— Não tem outra opção?
— Alguma ideia?
— Fica? a gente compra passagens pra Cancún. Vamos usar aqueles chapéus enormes, comer muita pimenta mexicana e burritos.
— Eu ri.
— É uma ótima proposta.
Ele riu de volta. — E o melhor de tudo, a gente não precisa voltar. Depois vamos pro Brasil, te levo pra conhecer o Cristo Redentor, e aprendo a fazer brigadeiro.
— Continuei sorrindo, e era como se todos esses planos feitos por bobeira, dentro de mim desejasse ser cumpridos.
— Pieter? obrigada. — Ele me olhou sem entender e dobrou uma calça que estava jogada em uma cômoda.
— Obrigada por fazer de um hospício, um lugar bom de estar. Eu gosto de ficar aqui, mas a verdade é que, eu só gosto de ficar aqui, por sua causa. — Continuei.
— Ah menina. — Ele veio ate mim e beijou mimha testa. — Você foi um presente pra minha vida sem graça.
— Não diz isso, se não eu vou chorar.
— E não iria?
— Não na sua frente. — Sorri sem graça, e continuei;
— Eu sou durona, sabe.
— Garotas duronas não choram?
— Não quando alguém pode achar que elas são fracas.
— Você nunca me pareceu fraca.
— Espero que eu não seja, porque pra ficar longe de você, eu preciso ser forte.
— Minha garotinha, olha aqui.
— Ele erguei meu rosto com aos mãos e me olhou nos olhos. — Você é forte, e mesmo que o a vida me tire de repente de você, não pare sua vida, siga em frente de qualquer maneira, só nunca se esqueça que... que eu aprendi sobre saudade, depois que passamos o dia juntos, e durante a noite, olhava no relógio, e esperava ansiosamente o dia clarear porque eu sabia que viria você.
— Tá vendo? é por isso que eu não consigo parar de pensar em você.
— O que!? — Ele deu um sorriso. — Você pensa em mim?
— Só quando estou acordada.
— Por favor, não durma essa noite.
— Eu ri, ele sentou novamente na cama.

***

A noite passou tão rápido como uma estrela cadente quando temos centenas de pedidos. Pieter estava encostado à porta do meu quarto, enquanto meu pai carregava as minhas malas.

— Ele parece ser legal. — Pieter disse pra mim, enquanto eu estava encostada na parede, com os braços cruzados, ainda tentando dirigir tudo àquilo.
— Meu pai?
— É, digo, de um jeito estranho, mas legal.
— Ah.

Eu estava atordoada. Eu não sabia se queria ficar, dizer para todo mundo alí que Pieter e eu, estávamos apaixonados e deveríamos ir embora juntos, ou se queria chegar rápido em casa e ligar para o Lowis, e tentar descobrir o que há por trás de toda ausência. Meus sentimentos estavam embolados, e eu não sabia como agir.

— Tá legal, vamos Carrie.
— Ok.

Olhei para Pieter e consegui ver uma lágrima de dor, e no mesmo instante eu sabia, que, o que doia em mim, ele também estava sentido, eu nunca fora boa com despedidas, e ele parecia nunca querer despedir.

— Tchau Meredith. — Levantei uma mão.
— Tchau Carrie, nós vamos sentir sua falta.

Falsaaa.
Eu também.

Caminhei até Pieter, que estava olhando pra baixo, e o abracei.
Ele me abraçou de volta, e eu notei que a sua respiração parecia mais tensa. Era como se nós nunca mais íamos nos ver, ele parecia mais do que triste, ele estava...assustado.

— Ei, eu venho visitar você.
— Eu sei que virá.
— Que bom.
— Tenho algo pra você. — Ele dize baixo, enquanto ainda estávamos no abraço.
— Pra mim?
— É, isso daqui. — Ele se afastou de vagar e me entregou um papel. Ou melhor, uma carta.
— Mas, quando você escreveu isso? como assim?
— É uma carta de despedida, mas eu quero que leia só amanhã, não dentro do carro, por favor.
— Pieter, eu não escrevi nada mas...
— Eu nunca lhe dei uma coisa esperando algo em troca, é espontânea vontade, por favor, promete que não lerá hoje.
— Prometo.
— Vem cá.
— Ele me puxou pra um abraço outra vez. — Eu amo você, Carrie, como eu nunca vou amar ninguém em toda a minha vida. — Ele afogou o rosto no meu ombro e sussurrou. — Eu nunca pensei que fosse possível apaixonar tão rápido, pensei que fosse mito, pensei que o diretor de filmes românticos fossem loucos... mas...

Meus olhos se encheram de agua e eu permaneci dentro do abraço.

— Foram dias incríveis. — Ele foi interrompido por mim, e eu afastei do abraço, olhando firme em seus olhos.
— Os melhores, com certeza. Ei, faça algo por mim?
— Sim.
— Converse com o Lowis, e se for possível, o perdoe, ele é o amor da sua vida, não deixe que a vida o tire dessa maneira.
— Pieter, olha o que está me dizendo.
— Eu pediria qualquer coisa, desde que eu soubesse que isso a faria sorrir.

Eu o beijei. Meu pai, de longe, conversando com a Meredith, levou uma mão na boca.

— Você conseguiu conquistar uma parte em meu coração Pieter e é isso que importa pra mim. Eu vou sempre lembrar do quão importante foi nosso dia juntos, quando digo juntos, não é só nos momentos de beijos, foram todos os segundos que você me conseguiu fazer me sentir única e feliz como se não houvesse um amanhã, eu sou grata.  — O beijei na bochecha.
— Não diz essas palavras lindas, eu posso me apaixonar.
— Ele riu, para que eu entendesse que era um sarcasmo, e se virou.

— Até mais. — Gritei.
— Ok.
Ele disse de volta, só que baixo.

Entrei no carro sem dizer nada para o meu pai. Ele ligou o automóvel e depois de uma ré, tomamos a pista.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora