Minhas Marés

M O M E N T O S

LOWIS.

— Como assim ela não vem?
— Eu não sei, foi só o que ela disse.
— Tá bom, obrigada por avisar, vou dar um jeito nisso.

Eu estava arrumando minha gravata quando Clair me ligou dizendo que Carrie não viria.

Já se faltavam quinze para as oito, eu imaginei que ela estivesse pronta, mas como sempre, ela provando ser mais complicada do que eu imaginava.

É óbvio que eu reconheci o quão inútil fui nos últimos dias, mas isso não justificava ela tentar cometer suicídio e nem se quer mandar um bilhete.
Eu fiquei totalmente desequilibrado quando a encontrei desmaiada dentro da banheira, foi a pior coisa que ja vi durante todos meus anos de vida. Vi as ondas do seu cabelo flutuando na água, e aqueles lábios tão lindos já roxos, meu coração parecia saltar do peito, uma lágrima caiu imediatamente, e eu a peguei no colo, já gritando seu nome.

— Carrie? Carrie? Carrie? acorda! Carrie fala comigo.
A deitei a cama e comecei bombar o seu peito, fiz respiração boca boca e ela não voltava. Chorando como nunca, liguei pra emergência.
— Socorro. — Gritei ainda tentando acorda-la e seu pai subiu as escadas correndo, Jenna e Gregg veio atrás.

Todos ficaram pálidos, imaginei que fossem desmaiar e, eu logo disse que ela estava viva, mas precisava de ajuda.

— Carrie querida, fala comigo. — Seu pai pegava em seu rosto e depois checava o pulso dela, sem saber o que fazer. Greggory encostou na parede chorando feito um bebê.

A ambulância chegou, eles felizmente conseguiram fazer ela vomitar a quantidade de água ingerida, e me agradeceram por ter chegado na hora, disseram se eu demorasse mais um segundo, ela... ela não sobreviria .

Fui para o hospital com ela, passei a noite lá, e para minha tristeza ela não acordou tão rápido.

Fiquei na sala de espera quase a noite toda, sem conseguir dormir, e só consegui ir ver ela quando Oliver precisou descansar.

Entrei no quarto em passos leves como se fosse possível interromper seu sono, e sentei na cadeira ao lado.

Ela apesar de repleta com aparelhos de barulhos irritantes ainda era linda. O tom da sua pele estava diferente, mais pálido, mas seus cabelos agora já estavam secos e eu passei minhas mãos por eles. E naquele momento eu me odiei por não ser o que ela sempre  quis. Uma lágrima escorreu do meu olho e eu prometi nunca mais abandona-la. Eu quis voltar no passado e roubar ela daquela maldita clínica e consertar tudo entre nós, mas agora, eu era apenas o cara que machucou seu coração.

Enquanto ela estava desacordada, a disse que era minha, e eu iria lutar por nós, era meu único desejo.

Eu precisava que ela viesse a festa, era uma noite importantíssima para meu pai, e além do mais, Katy estaria de viagem o que poderia estragar nosso tempo juntos?

Pelo telefone, eu fiz Clair prometer que convenceria ela de vir e ser minha acompanhante, seria uma vergonha eu ficar sozinho o baile todo, comendo docinhos.

Terminei de me arrumar, esborrifei o perfume sobre meu terno e analisei mais uma vez meu cabelo.
Saí do meu quarto, passei pela sala que já estava praticamente lotada e fui rumo ao elevador.

Quando a porta do elevador se abriu, Clair e Greggory saíram do mesmo, elegantes e sorridentes.

— Boa noite Lowis, acho que tem um problemão. — Greggory bateu em meu ombro depois sorriu engraçado para a namorada.
— Deixa, ele vai se sair bem. — Ela o conduziu local a dentro e eu desci para a saída.

Quando saí do prédio percebi que o vento estava mais forte do que imaginei. As árvores alvoroçadas previam chuva.

Peguei o carro e fui buscá-la. Quer dizer, se ela estivesse lá.

Bati cinco vezes na porta (é, eu contei) e depois percebi que estava trancada. Saí em volta da casa e notei que todas janelas também estavam, e nenhum sinal dela no telhado. Triste, voltei para a festa, até porque meu pai iria exigir que eu fosse a frente na hora do discurso, ele insiste em dizer "Meu querido filho me apoia em tudo, sou grato por tê-lo".

Na portaria perguntei aos funcionários se tinham visto ela passar, todos negaram.

A festa já estava bombando, segundo o que o Frederick sempre dizia.
Certifiquei-me com Oliver e Jenna após vê-los tomando drinques, de que ela realmente teria ficado em casa, e sim, ela havia ficado, mas não foi o que eu vi.

Um pouco de ansiedade me tomou, um frio na barriga, ela me deixava preocupado, devido às circunstâncias.
Resolvi que não estava em clima de festa. Fui para o meu quarto. Tirei a gravata, me disseram até que depois meu pai ficou me procurando de soslaio e acabou cedendo umas palavrinhas pra outros empresários.

Comecei a ouvir músicas, com a mesma angústia, e enorme vontade de saber aonde ela estaria, e quinze minutos depois, tirei minha camisa, iria vestir algo para treinar. Academia era quase um anti ansiedade pra mim, agora, treinava duas vezes ao dia.

Senti passos atrás de mim.
Me virei rapidamente, e Carrie estava se aproximando.

— Oi.  — Ela disse solenemente.
No primeiro minuto não consegui dizer nada, só admira-la.
Ela estava usando o vestido que comprei, acompanhado de um escarpim vermelho e depois de notar o sapato não resisti e fixei meus olhos em sua coxa esquerda que estava amostra, pelo belo detalhe do vestido.
Seu cabelo estava solto e na mesma hora lembrei do quão macio ele sempre fora.
Seu cheiro chegou nas minhas narinas e eu ainda sem fala, suspirei.
— Carrie!
— É. Estava esperando outra pessoa? achei que tinha direito de trazer só uma garota pra festa.

Eu tentei sorrir do seu jeito sarcástico, mas minha boca logo voltou ao normal, enquanto eu resistia pra não morder o lábio.
— Você... está...  elegante.
— Adoraria dizer o mesmo, mas talvez você devesse colocar uma camisa.
— Ótima observação. Eu estava indo treinar.
— O discurso da noite?
— Não.   — Ri pra ela. — Claro que não.
— O que está esperando? a festa já esta quase no fim, coloque logo essa camisa, não quero meu acompanhante quase nu. — Não preciso vesti-la se ficarmos aqui.
— Me poupe, Lowis. — Ela disse de um jeito, difícil, olhando para meu corpo, e fingindo desinteresse. Quis amaldiçoa-la por ser tão interessante.