L O W I S

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Assim que entrei reparei que a sala era grande e estava lotada. No máximo quatro lugares vazios, e teve toda aquela coisa de primeiro dia, horário de matéria, trabalhos e apresentações, que na opinião é um saco. Eu não gravei nenhum nome muito menos olhei quando iam um por um à frente falar sobre si. Me recordo apenas de escutar risos quando uma garota falava que queria arrumar um namorado.

— Oi, eu sou a Evie. Morava com meus tios em Savannah. Eu preciso de namorado porque tinha um namorado mas ele terminou comigo por causa que eu não gostei da fantasia que ele usou no halloween e...
— Certo Evie, pode se sentar. — A professora disse interrompendo-a e todos ainda riam.

Eu continuava com a mesma cara de tédio e aquilo era mais uma prova de que o ano seria péssimo. Evie usava uma calça amarela e saltos branco. Eu nunca entendi porque os norte-americanos gostavam daquilo.
Quando chegou a minha vez de apresentar, tive toda a atenção voltada a mim, eu apenas franzi o cenho e comecei a falar.

— Meu nome é Carrie. Não queria vim mas meu pai me obrigou. Deixei meu armário aberto, espero que não seja um problema porque vou fazer mais vezes ao resto do ano. É, tô adorando a escola.

Todos riram. E a professora me olhava assustada.

As duas primeiras aulas foram de muito tédio. Eu olhava pro relógio o tempo inteiro até que finalmente chegou o intervalo.
O tumultuo no refeitório era cansativo olhar, então decidi dar uma volta.
Passei pelo campus, vi alguns grupos de meninas lendo, continuei até uma turma de nerds ensaiando teatro, e cheguei até o campo de Lacrosse.
Pelos meus cálculos eram 9h00. O vento tranquilo da manhã balançava meus cabelos e eu achei que seria um bom momento pra acender um cigarro e odiar tudo, mais uma vez.
Subi a arquibancadas e parei no quinto degrau, aonde conseguia ver um time sendo esmagado, e as lideres de torcida nem se importavam pois estavam babando pelos meninos sem camisa do time oposto.
Liguei o esqueiro e quando ía acender meu cigarro, já com ele posto na boca, um menino começou subir os degraus em minha direção.

— Isso mata.  — Ele disse sentando do meu lado, e apontando ao cigarro que agora estava aceso.
— Porquê você acha que eu fumo?

Ele deu um sorriso abafado e ficou um pouco confuso.
— Meu nome é Lowis.
— Legal.
Meu tom de voz era sem nenhuma empolgação.

Seu cabelo era preto, o rosto claro e algumas pintas quase impossíveis de serem vistas se não fosse pela claridade do sol que já estava alto acima de nós, e aquele olhar castanho me causou um frio na barriga repentino.

— O que acha? — Perguntou mostrando os times em campo.
— Eu não falo com estranhos.  — Dei de ombros.
— Por sua sorte, eu falo. — Ele falou sorrindo e piscou.
— Maneiro.
— Pode tentar se legal pelo menos?  — Ele pediu tentando criar um diálogo.
— Não se formos falar de esporte.
— Ah qual é? acha que eles vão ganhar?
— Eles são bons.  — Falei sem fazer a menor idéia do jogo.
— Está brincando? Eles são péssimos e estão perdendo há dias.
— Eles deveriam usar uniforme, talvez o outro time seja gay. Causa desconcentração, é como se fosse um roubo.

Seus olhos fixaram em mim, e dessa vez com um sorriso largo, e espanto por ouvir o que eu tinha acabado de dizer.

— Isso não faz sentido.  — Ele questionou.
— Faria se você estivesse vindo aqui na arquibancadas apenas para assistir o jogo.
— Ótima lógica.
— Tanto faz.  — Olhei uma última vez para o campo e levantei.
— Ei, aonde você vai?  — Ele levantou também.
— Não é da sua conta.
Desci os degraus e comecei a andar.
— Você não me disse seu nome. — Ele gritou ainda em pé.
Eu só revirei os olhos, e andei com passos mais de pressa.

Quando passava pelo corredor pude perceber passos firmes me alcançando, e logo uma menina surgiu ao meu lado.

— Oi.
— E aí.
— Você é a Carrie, não é? Escutei na hora da apresentação.
— Meu nome é Clair. — Continuou ela ao ser ignorada.
— Da hora.
— Reparei que fica muito sozinha.
— Por opção.
— Posso sentar com você, nós temos aula de inglês juntas. — Ela continuou acompanhando meus passos.
— Tenho que entrar.  — Indiquei a sala, quando chegamos no fim do corredor. — Tchauzinho Clara. 
— É Clair!

Entrei de volta para a classe e as duas últimas aulas foram de total desconcentração quando percebi que  o garoto do campo de Lacrosse, fazia Geografia comigo. Talvez outras matérias também, mas eu não havia notado antes.

Ah não. — Pensei

O sinal avisando o término foi  música para os meus ouvidos, e mal sabia eu, que a voz dele seria meu som preferido.

— Você não me disse seu nome. — Ele falou chegando perto enquanto eu colocava meu material na bolsa.
— Não disse. — Afirmei.
— Deveria dizer.
— E porquê você quer saber?
— Na verdade deveria ser menos grossa comigo.
— Não acho. — Ergui as sombrancelhas.
— Você é interessante.
— Defina interessante.
— É a primeira menina da escola a me ignorar, estou impressionado.
— Caramba você se acha.
— Não é isso, é que...
— Olha, eu não ligo se você e o desejado do pedaço.
— Nossa, quanto desdém.
— Eu ri, e depois disse devagar. — Bem vindo ao meu mundo, eu não me importo se o cara é gostoso ou não, odeio todo mundo do mesmo jeito.
— Então me acha gostoso?
— Queria poder confirmar porque naquela luz, ele estava realmente elegante. Mas menti. — Não! eu te acho irritante.
— Porque não acredito em você?

Revirei os olhos.

— Lowis e Carrie, precisamos fechar a sala.  — A professora gritou impaciente da porta.

— Está na hora de ir, Carrie.  — Ele disse meu nome com tom de pirraça.
— Droga.
— Até amanhã Carrie. — Ele fez questão de repetir meu nome e em seguida passou pela porta e logo eu o perdi de vista.

Cheguei em casa e encontrei a TV na sala falando sozinha, sem ninguém no sofá. Me perguntei se meu pai e a Jenna estariam namorando na lavanderia mas logo escutei a conversa deles na cozinha.
Eu desliguei a televisão e sentei no sofá, sem ânimo algum.

— Tem macarrão. — Explicou meu pai ao me ver subindo as escadas em direção ao quarto.
— Tô sem fome.

Entrei pro quarto, e mais uma vez, na rotina exaustiva coloquei meu fone e esperei o dia passar.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora