— Você vai contar pra ele não vai?
— O que? — Tomei um gole do coquetel. — Óbvio que não.
— Duvido.
— De verdade, eu estou de saco cheio desse triângulo.
— É exaustivo mesmo. Mas eu falaria, ela é mega irritante, merece isso.
— Eu ri. — Talvez, mas, uma hora ele descobre quem ela é, e eu quero estar distante, e nem to falando de físico.
— Você é inteligente.
— Diga isso a professora de História que está querendo me reprovar por falta.
— Por falar nisso, você deveria voltar, já teve o tempo que precisava, certo?
— Parcialmente. Eu ainda não quero ir.
— Você acha que eu quero? essa não é a questão amiga, é uma necessidade. Não quero te encontrar daqui a cinco anos e saber que trabalha em uma cafeteria até as nove. — Clair riu e pediu outra dose.
— Não seria uma má ideia, adoro café.
— Você estaria servindo não bebendo.O Telefone tocou dela tocou.
— Eu vou atender, não saia daí. — Ela saiu dentre as mesas do bar, se distanciando do barulho.Estávamos sentadas na cadeira do balcão e o atendente já estava preocupado, até me questionou quando pedi outra dose.
— Moça, você está bem?
— Ótima. — Virei toda a bebida e permaneci olhando para ele. Depois sorri. — Uma vodka por favor.
— Eu posso ver sua identidade?
— Que?
— É que, para de menores só vendemos coquetel.
— Eu tenho 19. — Menti.
— Certo, agora, sua identidade por favor.
— Olhei de um lado para o outro, tomando tempo para elaborar uma desculpa.
— Eu...
— Ela está comigo. — Um rapaz que estava sentando em um sofá distante de mim, se aproximou. Provavelmente estava atento na conversa há minutos.
Ele mostrou sua ID, pegou a vodka e me entregou.
— Aqui.
— Valeu.
— Pega leve, essa é forte.
— Ah, é essa mesmo que eu preciso.
— Dia ruim?
— Ano ruim.
— Veio no lugar certo, depois de alguns copos nem lembrará de nada.
— Nem de você? — Disse sem pensar.
— Ele abriu um sorriso. — Depende das lembranças que quer ter.Ele mudou de assunto quando fiquei sem diálogo.
— Sou Henry.
— Carrie. — Peguei na sua mão.
— Porque está tão elegante em um bar? todos aqui estão olhando pra você.
— Longa história.
— Tenho tempo.
— Ai céus, não acredito que vou me tornar a pessoa que desabafa na mesa de um bar e no último copo já está chorando.— Ele riu. — É o amor, não é?
— O que?
— Que está causando isso em você.
— Está tão claro assim?
— Desculpa, mas está na cara.
— Não precisa se desculpar, eu que sou transparente às vezes.
— O príncipe era um sapo?
— Tomei mais um gole. — Adoro metáforas mas acho que ele realmente merece ser chamado de idiota. Os dois.
— Espera, você tem dois namorados?
— Por sua sorte, nenhum. — Percebi que já estava alegre o suficiente, mas não parei de beber. — Ele e ela, um casal.
— Caramba, o caso é mais complicado do que eu pensei. Ele traiu você? e está namorando a garota?
— Não, credo. Ah, é complicado, você não vai querer saber os detalhes.
— Porque acha isso?
— Porque teríamos de passar o final de semana inteiro aqui, e acho que essas garrafas não são suficientes.
— Tá bom, então me fale sobre você.
— Não há nada de interessante na minha vida, vamos falar de você, porque está aqui?
— Costume.
— Só isso? costume de ir no bar e beber sozinho a noite toda?
— Você é afrontosa.
— Nada disso, só estou admirada.
— Sim, só costume. Gosto de vir aqui encher a cara e esquecer que não tenho nada.
— Nada? como nada, todo mundo tem alguma coisa.
— É, acho que decepcionei você então.
— E sua família?
— Eu moro sozinho, não tenho notícias deles.
— É uma opção sua?
— Inteligência minha.
— Eles não eram uma boa família?
— Você não vai entender.
— Talvez sim porque eu também pretendo abandonar tudo e ir viver sozinha.
— Por favor não faça isso. Eu imploro.
— Se arrepende de ter feito?
— Não. Eu só não quero que você sinta-se assim, vazia, pra sempre.
— Deveria ter me conhecido antes e dito isso, agora não tem mais tempo.
— Você se sente assim?
— Na maior parte do tempo. Não é atoa que completei a sexta dose e ainda pedi vodka e estou contando minhas lástimas pra um desconhecido.
— Ele riu outra vez. — Você é tão linda, e interessante, acho que o cara que te deixou assim passa o dia inteiro chorando arrependido.
— Na verdade ele está em uma festa agora, com a namorada dele.
— Caramba!
— É, foi isso que eu disse.
— Você deveria ir mais devagar. — Ele abaixou o copo da minha mão.
— Porque está exigindo isso de mim seu hipócrita, olha só para o seu copo, está vazio o tempo todo.
— E nem é só o copo.
— Você também usa sacarmos pra falar sobre tristezas, eu gosto disso.
— Você é muito legal Carrie, gostei de você.
— As pessoas costumam dizer ao contrário.
— As pessoas costumam ser babacas.
— Concordo.
— Olha, você me disse que não tem nada, isso tem uma vantagem, você tem tudo a ganhar.
— Até um beijo seu?Eu fiquei em silêncio. Não sabia ao certo o que dizer.
Sob nossas cabeças um globo de luz colorido rodava, deixando o local mais bonito, e a música apesar de baixa, era ótima de se estar ouvindo.— Eu gostei daqui. — Mudei de assunto.
— Espero que venha outras vezes.
— Se eu começar a frequentar esse local, daqui uns dias você já vai saber até sobre minha coleção de tatuagem que ainda pretendo fazer.
— A propósito, adorei essa. — Ele pegou em minha mão, virando e observando.
— É dos Ar...
— Arctic Monkeys. "I wanna be yours".
— Ele disse cantarolando.
— Estou mais tranquila, pensei que estava contando minha vida pra alguém com péssimo gosto musical.
— Eu entendo você, também nunca entendi quem não escuta eles.
— É.Ele me flertou e retribuí.
— Quer conhecer a minha casa?
— É melhor irmos mais devagar.
— Tudo bem, o quarto você conhece outro dia.
— Ele brincou e eu ri, ainda olhando pra ele.
— Quando disse pra irmos mais devagar, inclui eu não te roubar um beijo hoje?
— Não será mais roubo, porque agora eu já sei. Deixa eu te ensinar uma coisa sobre as mulheres. — Virei meu banco para ele, deixando nossas pernas mais perto e olhares fixos.
— Nós gostamos de beijos roubados, só nos fazemos de difícil pra ser interessante.
— Não precisa ser difícil, você já é interessante. — Posso te pagar uma bebida amanhã?
— Está se despedindo?
— Não! estou garantindo te ver outra vez.
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Minhas Marés
Romansa[COMPLETO] Com uma vida fora dos trilhos, Carrie entra em depressão. A falta do carinho dos pais afeta sua rotina, mas quando conhece Lowis e se apaixona mais rápido do que imaginou, enxerga a felicidade perto. Contudo, quando a doença começa causa...