Choveu a manhã inteira nas últimas semanas de outubro. Eu gostava da primavera, as flores, os pássaros, tudo isso me fazia ter um contato melhor comigo mesma, era tipo uma sessão de terapia ao ar livre toda vez que eu decidia correr alguns quarteirões e depois descansar em um banco próximo à uma barraca de churros.
O senhor Martin, dono da barraca, me olhava como se eu precisasse de companhia, mas ao contrário do que ele pensava eu estava indo bem. Era a manhã seguinte da minha decisão de seguir em frente quando encontrei Katy correndo também. Corri o mais rápido possível, evitando qualquer deboche, mas ela conseguiu me alcançar, afinal, eu já me sentia exausta, com a respiração ofegante.
— Oi querida. — Ela disse esplêndida, porém não deixei de notar a falsidade na sua voz.
— Oi. — Repespondi frio.
— Está tentando ter um corpo melhor, pra conseguir o que quer?
— Eu parei imediatamente de correr e embora tenha desejado socar ela, disse calmo;
— Eu corro pra não ficar em casa escutando conversa fiada da minha madrasta, mas preciso achar outro hobby, parece que as pessoas idiotas estão por toda parte, não é? — Voltei a correr no movimento de antes e a deixei para trás, intrigada.Parei em outro banco, dessa vez longe dos churros e tomei um pouco da água que estava em uma garrafa, nas minhas mãos. Segundos depois, vejo Katy andando rápido, ela parecia não conseguir correr, como se não fosse costume, imaginei que ela usava a grana do pai para tirar qualquer gordura localizada.
— Ah não. — Pensei alto, quando a vi em minha direção.
— Posso? — ela indicou o lugar vazio ao meu lado.
— Está ocupado. — Coloquei minha garrafa d'agua.
— Sabe... — Houve uma pausa equanto ela pegava minha garrafa na mão e tomava o lugar. — Eu não odeio você, pelo contrário, te acho esperta.
— Katy me poupe desse seu papo furado e me diz, o que você quer?
— Ah meu bem, eu estou sendo sincera, só preciso ver se esta bem, sabe, sem ele.Sua voz era irritante, e com um jeito irônico, eu senti meu estômago revirar quando ela pôs ele no assunto.
— Muito bem, obrigada. — Me levantei puxando a garrafa bruscamente de sua mão.
— Deve ter sido horrível ser trocada, não?Meus passos travaram, e eu com o coração cheio de raiva, não tive o que dizer.
— Eu vim dizer que sinto muito, mas isso já era esperado, nunca vi Lowis com uma garota assim... — Ela me fitou dos pés a cabeça. — Como você.
— Como eu?
— É, estranha, pobre. — Ela meio que cuspiu a última palavra.
— Talvez ele estivesse cansado de patricinhas idiotas. — Falei para tentar controlar a sede de arrancar os cabelos dela. — Na verdade, ele ainda continua cansado, se não, porque ele ainda viria me procurar ás vezes, não é? — Me virei e saí.
— O que????A deixei falando sozinha e corri para casa.
Tomei um banho para eliminar todo suor e depois fui para cozinha buscar alguma fruta. Eu cantarolava uma música do Ed, e então meu pai sorriu.
— Nunca te vi assim, animada?
— É, mudanças são mais necessárias do que imaginamos.O beijei o rosto e fui ver tv.
Eu nunca havia me sentido tão decidia assim antes. Talvez fosse o internato, a carta de Pieter, ou um milagre, mas eu, como nunca, decidi que viveria melhor, seria melhor. Teria razão pra estar viva, se não fosse pelos outros, por mim.
Essa escolha não foi exatamente naquele dia que desci do carro do Lowis e acendi um cigarro, foi em uma noite quando a cidade dormia e eu a observava com o coração vazio de tudo mas de repente tão cheio, cheio de amor, saudade, lembranças. Eu me senti como uma maré, uma hora no alto, outra baixo, mas sempre procurando uma direção, e talvez eu tivesse encontrado.
E lá estava eu, vendo um programa que nunca pensei em ver antes e até rindo de uma propaganda sem noção.
Não espiei mas presumi que meu pai estaria feliz, e isso era importante, para Carrie de antes não. Ela não ligava para o pai que destruiu seu relacionamento e tantas coisas que dizendo ele fora "pelo bem" mas a Carrie de agora, esperava que ele fosse feliz, um homem feliz e realizado.Clair e Gregg chegou do shopping duas horas mais tarde, com sacolas nas mãos.
— Eu trouxe pra você. — Clair colocou uma sacola no meu colo.
— Pra mim? — Abri a mesma e de primeira vista, achei estranho.
— ÉPeguei na mão, ergui, acabei deixando uma pequena caixa de plastico cair no chão juntamente com um objeto estranho.
— O que exatamente é isso?
— Sua fantasia. — Temos uma festa de halloween na sexta.
— E você espera que eu vista isso? nem ferrando.— Deixa eu dar uma olhada. — Meu pai veio até nós e pegou a roupa na mão. — Ela não vai usar isso de jeito nenhum.
Jenna apareceu na sala começando a rir, e nós caímos na gargalhada.

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Minhas Marés
Romantik[COMPLETO] Com uma vida fora dos trilhos, Carrie entra em depressão. A falta do carinho dos pais afeta sua rotina, mas quando conhece Lowis e se apaixona mais rápido do que imaginou, enxerga a felicidade perto. Contudo, quando a doença começa causa...