I M P R E V I S T O S

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Eu não me lembrava de estar alí antes. O hospital era diferente, e o silêncio assustador.

Com os olhos ainda sem firmeza olhei para um aparelho posto em minha boca, e percebi que era uma sonda alimentar.

Porque eu preciso me alimentar, se estou só algumas horas desacordada?

por que eu estou só algumas horas aqui, não é mesmo?

Olá. —Uma enfermeira falava baixo e sorridente.

Eu a olhava com cansaço e irritação. Queria puxar aqueles canos de mim, e toda aquelas coisas postas em meu braço.

— Seu pai passou por aqui hoje de amanhã.

Eu permanecia sonolenta.

— O seu namorado também veio. Passou o domingo aqui, ele te trouxe flores. — Ela apontou para um vaso e eu me virei de vagar.

Eu adorei as flores, porém veio um embaraço na mente ao lembrar do "papinho" do Lowis com a Katy. Só que nada disso importava agora.

Domingo? há quanto tempo estou aqui.

Meus pensamentos me sufocavam, muito mais do que toda aquela droga de alimentação posta em mim, pois se eu estava com aquilo, não era apenas uma noite desacordada.

Alguns minutos depois, vinheram dois médicos e começaram a tirar os objetos de mim, e ficaram felizes ao ver que eu permanecia estável.

— Você só precisa ficar de repouso por algumas horas.
— Ok. — respondi quase rouco.
— Como se sente?
— Sei lá. — Olhei para meus pés.
Agora eu já estava sentada na maca.
— Você pode telefonar se quiser. — O doutor me mostrou o telefone, e eu caminhei até o mesmo.

— Oi pai.
— Carrie? graças à Deus! que horas você acordou? como você está? eu já estou ind..
— Calma, eu estou viva.
— Chego aí em dez minutos.

No máximo em sete minutos meu pai já havia chegado, eu imaginei que ele nem tivesse respeitado alguns semáforos.

— Oi meu bebê. — Meu pai veio correndo até mim, aliviado e me puxou para um abraço.

Bebê?

Você me assustou. — Uma voz surgiu atrás do meu pai, e eu me afastei do abraço.

Era o Lowis. Ele estava em pé, usando uma jaqueta preta e com olhar de muita felicidade.
— Caramba, você acordou. — Ele me abraçou me beijou na bochecha.

Sentei novamente e eles no tiravam os olhos de mim.

— Ela está bem. — Meu pai olhou para ele e ambos sorriram.

Minha cabeça estava doendo e eu entendendo a situação por etapas. Era demais pra mim ainda tonta, digerir.

— Pai? — Chamei, e ele vindo até mim pegou a minha mão.
— Estou aqui.
— Quanto tempo eu fiquei desacordada?
— Filha, você está bem e...
— Quanto tempo?

Meu pai suspirou e ficou em silêncio.

— Duas semanas. — Lowis com as mãos no bolso, disse triste.
— Ok. — Sussurei

Levantei, fui até o banheiro do quarto hospitalar, tirei de mim aquela roupa branca patética e pus um vestido básico.

— Aonde você vai?
Meu pai deu alguns passou me acompanhado e eu andava mais rápido.
— Eu quero ficar sozinha.
— Carrie, você está de repouso.
— Eu quero ficar sozinha. — Repeti ríspida.

— Ela precisa disso. — Ouvi Lowis dizer ao meu pai, baixo e com piedade.

Eu sai correndo pelos corredores, chorando e empurrado portas.

As lágrimas caiam e eu as limpavam imediatamente, em uma tentativa fútil de ser forte. Mas ninguém é tão forte assim que não tenha passado um dia se quer se sentindo quebrado.

Saí do hospital e fui andando pelas ruas. Já era noite, mas a escuridão dentro de mim, parecia ter chegado mais rápido.

Duas semanas?

Quanto tempo seria depois? um mês, um semestre? um ano?

Eu estava desapontada. Eu não queria ter isso, não queria que algo me impedisse de viver, de amar, se ser uma pessoa como todas as outras.

Eu não queria aceitar toda ansiedade em mim. Não de um jeito tão cruel.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora