Com outras pessoas em casa além de mim, o tédio era freqüente. Eu não conversava com a Jenna, quase nunca, era um milegre, e meu pai havia desistido de tentar nos aproximar até porquê ele precisava de aproximação com a filha primeiro antes de exigir que a namorada fizesse tal.
Eu não fui pra escola. Obviamente para não ouvir nada sobre o dia anterior, não porquê me afetava a fofoca mas eu seria capaz de socar todo mundo. (O que eu sempre quis fazer.)
Depois de acordada continuei na cama, não estava com ânimo pro dia, era uma merda tudo aquilo; desânimo, sentimentos, dor na cabeça, que sem dúvidas o motivo era o desmaio. Meu pai não soubera do acontecimento na escola, pensei que não fosse saber, mas eu estava enganada e depois disso tudo ficou pior. Ele tão pouco insistiu em perguntar se eu estava realmente bem. Lembro dele assentir quando me perguntou se estava tudo bem, e eu disser que tudo estava sob controle, e que gostei do presente.
— Oi pai. Oi Jenna. — Falei quando deparei com ambos na mesa da cozinha.
— Oi Carrie. — Disseram em coral.
— Por quê não foi pra escola?
— Não tem aula. — Menti
— Mas...
— Estão preparando uma festa. — Falei interrompendo meu pai e inventando uma desculpa esfarrapada.
— Às festas não são no final do ano? — Jenna falava firme como se soubesse a verdade.
— É. Tanto faz.Peguei Nutella e waffles, e voltei pro quarto.
Não pude deixar de notar que meu quarto estava um lixo. Literalmente. Havia papéis no criado mudo e alguns livros estavam fora da estante.
Comi o suficiente pra dar sede e ter que voltar à cozinha, mas quando comecei a descer a escada, travei.
Meu pai agora estava na sala, em pé com uma das mãos escoradas na parede e outra segurando o telefone, fixo.
Me mantive parada ao perceber que ele falava com minha professora de geografia.— Certo Julie, muito obrigada. — Essas foram as quatro últimas palavras antes de colocar o telefone no gancho e virar-se imediatamente à mim.
— A gente precisa conversar.
— O que é?
— Termine a escada e senta aqui.Embora eu estivesse ferrada em meus conceitos de quem enganou o pai e matou aula, não importava, afinal, minha vida precisava de algo novo, broncas novas, estava caindo na rotina. Mas o pior que depois dessa ligação eu percebi que nunca estamos tão ferrados totalmente, há sempre uma surpresa por vir.
— OK. — Eu disse sem saber iniciar a conversa assim que sentei ao lado nele no sofá maior.
— Era a sua professora. — Ele falou indicando o telefone.
— Legal.
— Não vai querer ir à festa? — Ele usou sarcasmo.
— Talvez. — Dei de ombros.
— Olha. — Ele pegou em minhas mãos, e continuou falando. — Eu sei que não ter a sua mãe por perto tira as coisas do controle e eu queria poder ser mais presente na sua vida, saber dos seus amigos, namo...
— Que amigos?
— O que eu estou querendo dizer Carrie, é que você... — Ele agora respirava com medo das próximas palavras.
— Eu o quê? o que tem de errado? Eu matei uma aula, todo mundo já fez isso, certo? — Eu me encontrava já magoada por ele não saber ao certo tudo, mas eu estava completamente enganada, ele sabia, e sabia do que eu precisava.
— Não é isso, é que...
— Tá legal, não vou fazer de novo, ok? não vou matar aula, nem beber, nem nem sair, nem nada que algum adolescente faz, muito menos existir. — Eu disse levantando e quando estava à dois passos da escada ele disse por fim, as palavras que mudaram tudo.— Você precisa de um psiquiatra. — meu pai gritou, como se aquela frase estivesse engasgada há anos.
Eu fiquei completame imóvel. Virei em choque e percebi que ele estava tão assustado quanto eu.
Foi cuntatório processar o que havia acontecido naquele exato momento.
Jenna já espiava tudo tentando disfarçar perto à porta da cozinha.
— Então eu sou louca? É isso?
— Eu não disse isso. Eu só estou preocupado. Você não sai, não tem amigos, não fala com a gente, não diz o que sente.
— Você acha que e escolhi ser assim? fazer essas coisas? cortar os meus pulsos?
— Eu não disse isso, mas sua professora ligou, e você desmaiou e tudo mundo viu e ficaram preocupado e ela também disse que você não conversa com ninguém e que...As palavras dele congelaram, eu as ouviam distante e meu mundo ficou em pedaços imediatamente.
— Ei não quero que fique assim, é normal precisar de ajuda. — Meu pai estava na minha frente e tentava me acalmar.
Eu apenas chorava. Ele sempre soube que eu era diferente, mas ele havia gritado claramente que talvez eu fosse pra uma clínica, que eu precisava de um tratamento.
— Querida, é um lugar legal se caso precisar ficar internada por uns dias. Você vai conhecer pessoas legais.
Eu não conseguia compreender mais nada, estava tudo amargo e difícil de digerir.
Um certo dia ouvi dizer que a vida é boa, as pessoas que estragam ela, e naquele dia eu tive a certeza que eu de alguma forma tinha estragado tudo.
— Carrie. Carrie. — Meu pai me chamava cortando meu devaneio, e eu continuava intacta, olhando pra frente e sentindo as lágrimas caírem.
Eu sentia minha pulsação forte, o ar ficou pesado e minha vista não conseguia alcançar mais nada, e mais uma vez... Tudo ficou escuro.
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Minhas Marés
Romance[COMPLETO] Com uma vida fora dos trilhos, Carrie entra em depressão. A falta do carinho dos pais afeta sua rotina, mas quando conhece Lowis e se apaixona mais rápido do que imaginou, enxerga a felicidade perto. Contudo, quando a doença começa causa...