F L O R I C U L T U R A

68 12 0
                                    

— Eu acho que você deveria falar com ele.
— Eu não sei Clair, é tão complicado.
— E ficar chorando trancada no quarto não é a melhor opção. — Greeg tomou o suco que já estava quase esquentando em cima da mesa.
— Me poupe, eu jamais faria isso. Eu só me sinto mal. As palavras que ela me disse ficaram remoendo na minha cabeça, eu nem se quer liguei pra saber se ele estava bem.
— Não é sua obrigação, afinal, foi ele quem te abandonou. — Clair afirmou em um tom frio.

Quase um mês havia se passado desde a morte da Sara, e eu ainda não tinha conseguido ir ver o Lowis, saber como ele estava, ouvi dizer que ele andava de cabeça baixa na escola, e parecia irritado com a companhia de Katy, mas não quis me aprofundar no assunto. Eu continuei indo todos os dias falar com o Pieter, e aproveitava pra pedir desculpas a senhora Russel, eu falhara no pedido, e isso me fazia sentir longe de ser uma boa pessoa.

— Eu acho que você deve seguir em frente. Sem Lowis, sem culpa, sem ficar presa no passado, isso vai consumir você.
—!Gregg segurou a mão da namorada pra que ela concordasse com ele, o que ela fez.
— Todo mundo vive dizendo pra gente deixar o passado, mas quem é que consegue, assim, de uma hora pra outra?
— Você ao menos devia tentar.
— Venho fazendo isso a anos.

Era minha primeira vez naquele local. De tanto Clair insistir, resolvi sair com eles. Eu precisava mesmo de uns minutos com outras pessoas, falando assuntos aleatórios, o que eu havia planejado, mas o rumo da conversa sempre voltava ao Lowis.

Estávamos em lanchonete quase vazia, se não fosse por nós. Era um ambiente agradável. Eu jurava que fosse minha primeira vez alí, ainda acho que fora, mas, me senti bem, observando o vento levar as folhas caídas pra todo lado, enquanto meu irmão dizia coisas romanticas à namorada, e eu fingia não estar escutando. As ruas estavam geladas, e sem movimento, o que é comum em bairros afastado do time square.

— Se vocês não pararem de se beijar eu vou vomitar.
— Pelo menos você ainda tem senso de humor. — Gregg falou, e nós rimos.
— Desculpas, não era nossa intenção te fazer de vela.
— Tanto faz, eu vou colocar meus fones e dar um volta.

Caminhando pelas ruas, e encontrei uma floricultura, resolvi entrar, e, como sempre, procurar por rosas vermelhas. Além do mais, já estava no horário de ir falar com o Pieter, não que tivesse hora marcada, mas era um momento que não aguentava mais ficar sem desabafar.

Assim que entrei tentei dar meia volta imediatamente. Lowis estava com flores nas mãos, terminando de pagar por elas.
Me virei rapidamente, e quando tentei sair de fininho, ele me notou.

— Carrie? — Veio até mim e tocou meu ombro.
— Oi, eu estava passando e...
— Que bom te ver, você está... — Houve uma pausa e ele me abraçou. — Sumida.
— É, eu... andei aproveitando mais o telhado nessa época fria. — Sorri fraco.
— Sei como é. Veio comprar flores?
— Sim, eu...vim.
— Alguma ocasião especial?
— Visita.
— Você está indo visitar alguém?
— Na verdade, um túmulo.
— É mesmo, você ficou de me contar sobre isso.
— Fiquei?
— Ele ergueu as sombrancelhas. — A gente pode conversar no caminho, eu te dou uma carona, vou pro mesmo lugar.
— Não precisa, eu vou andando.
— Por favor, eu tenho ido sozinho ultimamente, seria melhor com sua companhia.
— Eu sempre fui sozinha. — Falei baixo.

Comprei rosas e margaridas novamente, até porque, eu precisava me desculpar novamente, por tratar com tanto desdém toda história.

— São lindas. As rosas.
— São mesmo.
— Qual o nome dela? a pessoa, que você vai vistar.
— Pieter.
— É um homem? — Ele me olhou com ciúmes e freiou o carro de repente, enxergando um quebra molas à frente.
— Um menino.

Ficamos em silêncio o caminho inteiro. Ao chegar no túmulo da mãe, Lowis depositou as flores e admitiu que estava com muita saudade. Eu coloquei as margaridas e falei em sussurro que sentia muito por ainda não fazer o que ela tanto queria, mas dei um sorriso, ao imaginar o quão feliz ela estaria ao ver nós dois alí, juntos.

— Eu já volto. — Expliquei, e me direcionei até o Pieter.
— Vou com você.

Ele sentou em um banco mais próximo e ficou me observando, provavelmente, tentando entender o que tanto eu falava com o "menino".

Coloquei as rosas e contei que meu dia tinha sido um desastre por aceitar sair com um casal e depois encontrar o Lowis na floricultura, até dei uma risada imaginando ele tentando me colocar pra cima.

— É tão difícil, não é? — Iniciei um diálogo, assim que sentei no banco, ao lado de Lowis.
— O que?
— Isso de, ter que aceitar uma despedida.
— Muito. Ás vezes sinto que não vou aguentar.
— Eu conheço essa sensação.
— Quem é ele?
— Eu o conheci durante meu período internada.
— Vocês...
— Não!.. quer dizer... não éramos namorados, mas ele é...importante.
— Você o amava?
— Sim.
— Como amigo?
— Como alguém que nunca me abandonaria.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora