S E R Á?

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No dia seguinte, enquanto eu cuidava de um canteiro no jardim, a pedido de Willy, ele me perguntou se eu sentia falta do Lowis.

E eu não soube o que dizer, mas de uma coisa eu tinha certeza;

Eu sentia falta dele, eu sentia falta dele em todo canto. No café que eu tomava de manhã, no banho no fim do dia, ambos tão quentes quanto o meu coração, que apesar de tudo, ainda fervia de amor por ele.

Naquela manhã Lowis apareceu na floricultura. Não foi nada tão inesperado pois eu já imaginava que em algum momento ele iria comprar flores para Sara, mas meu corpo todo ficou sem reação, ele estava quieto demais, decepcionado mais ainda, e eu tinha quase certeza que era sobre minhas últimas palavras de adeus, eu simplesmente tinha jogado tudo no ar, dito tudo aquilo sem pensar e ido embora.

Ele abriu a porta devagar e ainda sem me ver, foi imediatamente a bancada de rosas, ficou olhando de um lado para o outro, como se tivesse dúvidas.

— Posso ajudar? — eu falei com um pouco de medo.
— Sim, eu... — ele virou-se e me viu. — O que está fazendo aqui? — perguntou com perplexidade.
— Consegui um emprego aqui.
Ele não disse mais nada, encarou o chão.
— Você está bem? — iniciei uma conversa completamente aleatória.
— Sim. — ele falou firme, e nem se quer quis saber como eu estava. Talvez quisesse, mas dado aos fatos, optou pelo silêncio.

Ele pegou as flores e me passou o dinheiro.
— Dê oi para sua mãe. — eu falei baixo.
— Ok.

Ele virou mas antes de pudesse passar pela porta e nunca mais voltar ali, eu o chamei. Até hoje não sei de onde veio tamanha coragem.

— Lowis?

Ele devagar, parou, e depois olhou pra mim, sem dizer coisa alguma.

Eu sai de trás do balcão e andei até ele.

— Eu acho que te devo desculpas, por ser tão, direta. — passei a mão nos cabelos. — eu nem se quer te deixei falar. — admiti.
— É, você falou muito.
— Eu falei. — concordei. — Pensei que talvez você pudesse ir na minha casa hoje.
— E porque eu iria?
Pensei um pouco sobre isso.
— Porque... — eu não sabia o motivo, eu só queria que ele fosse. — Porque eu preciso explicar sobre aquela noite.
— Carrie, sinceramente, eu já entendi tudo.

Caminhei até um papel e caneta, escrevi o endereço e entrei a ele.
— Talvez eu saiba dizer porque agi por impulso.

Ele colocou no bolso e sem dizer mais nada, foi embora.

Willy, que atrás de uma prateleira escutava tudo, deu uma piscadela pra mim, como se eu estivesse fazendo a coisa certa.

Naquela noite no empire, depois de dizer tudo aquilo e sair, eu escutei ele me chamar. Ele repetiu meu nome com um tom de piedade, eu desci as escadas com uma péssima coordenação motora. Tudo dentro de mim estava triturado, como cubos de gelo no liquidificador, e eu sabia que não seria como em filmes, ele não viria atrás de mim e puxaria meu braço e depois aconteceria um beijo romântico seguido de desculpas, não, pelo contrário, em pé, enquanto eu caminhava porta a fora eu tinha ideia do estrago que havia feito e a essa altura ele estaria tão destruído quando eu, isso era previsível.

Para Willy eu tinha feito o certo, mas pra mim, o que eu estava fazendo?

Ok, eu havia entregado meu endereço, havia tentando um mísero diálogo, e entendido que ele estava completamente sentimental, agora só restava esperar. Será que ele iria me ver? ele estaria interessado no que eu tinha pra dizer mesmo sabendo que seria desculpas com estupidez?

No fim do meu expediente, fui pra casa.
Tomei um banho, lavei meu cabelo e me joguei no sofá.
Eu estava um pouco ansiosa, na verdade muito. Não tinha nada ensaiado, eu não sabia o que ia dizer, e isso me deu um nó na garganta.

Deu oito horas e nada, nove, dez, onze.
Ele não viria, isso estava claro. Mas eu não conseguia dormir.

Andei de um lado pro outro, tentei assistir, tentei tomar um suco, e nada me deixava tranquila, estava parecendo como um eterno adeus. Estava tão óbvio. Ele havia me visto lá, mudaria sua rota, jogaria o papel fora, trocaria de telefone, e a gente nunca mais ouviria falar sobre o outro e assim seria o grande e terrível fim. O fim que por mais que a gente fingisse já ter tido, não me assustava tanto, quanto eu estava aquela hora, pensando em como viver longe daqueles braços.

Eu estava sem esperança, pronta pra dormir, e passar uma borracha em tudo isso, mas a meia noite e meia ele apareceu.

Eu pulei ligeiramente do sofá quando escutei socos na porta.

— Oi. — Abri a porta e um sorriso fraco.
— Oi. — ele falou baixíssimo.
— Entre. — dei lugar para ele passar.

Ele entrou analisando o apartamento, provavelmente sabendo que estava do jeito que eu sempre queria, porque eu lembrava de ter dito a ele sabia meus gostos.

— Pensei que estivesse dormindo. — ele sentou.
— Eu tentei. — falei olhando pra ele de soslaio.

Ele estava elegante, com a barba por fazer e um perfume que eu não conhecia, o cabelo meio bagunçado e incrivelmente gato.

— Eu queria falar com você sobre nós, mas eu não sei como. — olhei com sinceridade pra ele.
— Pensei que tivesse sido bem clara aquela noite.

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