S I N T A -S E V I V A

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Dentre milhões de perguntas, a que eu pensaria mais para responder seria se você me perguntasse quando eu finalmente descobri que estava apaixonada por Lowis.
Eu nunca soube explicar como tudo aconteceu,  ou quando eu olhei pra ele e pensei, caramba, que encantador, acho que foi a junção de todas coisas interessantes que passamos juntos,  como por exemplo, nosso passeio em New Port beach onde fizemos amor pela primeira vez,  ou talvez quando eu vi que ele tatuou um casal observando as estrelas no meu músculo, ou até mesmo as vezes que ele me ologiava quando eu estava me sentido  completamente ridícula.

Por mais que eu soubesse que, assim como Pieter,  Lowis também seria inesquecível, eu tentava de todos os jeitos manter distância, bloquiei qualquer contato por celular,  até parei de correr no parque. Comecei explorar a vizinhança, e rezando pra não encontrar Katy novamente.

— Eu acho que deve usar.
— Não sei não,  isso me parece... — Analisei mais uma vez a roupa de enfermeira . — Vulgar.
— Mas todo mundo se veste assim Carrie,  ano passado a Michelle usou fantasia de polícial, não era preciso se esforçar pra ver o seu traseiro.
— Fiz uma careta seguida de risos.

Clair e eu estávamos no meu quarto.  Depois de escutar o análise do meu pai sobre a roupa, o deixamos vendo jogo de baseball com o Gregg e eu decidi que iria experimentar,  apenas experimentar.

— Acho que vai ficar bem em você.
— Não contaria com isso.

Levei os olhos mais uma vez para o uniforme bizarro a minha frente. Uma mini saia, com um jaleco e uma blusa básica, todos brancos,  tinha até uma luva e um estetoscópio, dá pra acreditar?

— Não me sinto confortável.  — Com a roupa já no corpo me olhei no espelho.
— Aaaah, eu adorei. Precisa ver quando colocar o sangue.
— Sangue?
— Pra finalizar a fantasia, afinal, você precisa estar assustadora. — Clair levantou da cama me olhando com mais atenção. — Hum, acho melhor a gente procurar outra mesmo.
— Eu jamais sairia de casa assim, sem chance.  — Comecei desmontar meu look.
— Azaro seu, pois eu acho que o Lowis ficaria babando por você assim.
—Dei de ombros.  — Não quero a admiração dele.
— Nem o arrependimento?
— Ela lançou o olhar de quem já soubesse a resposta.
— Talvez.  — Sentei na cama, e me esforcei para tirar a saia sem rasgar, era totalmente apertada.

— Se você quiser a gente pode sair e comprar outra. Eu quero muito que você vá.
— Por quê?
— Vai ser divertido, você precisa disso... diversão, sua vida anda muito parada.
— "Eu gosto assim" — quis dizer,  mas lembrei da mudança, lembrei de me prometer que me esforçaria.
— Tá legal,  mas não se preocupe com roupas, qualquer coisa eu vou de pijama, afinal, será uma festa a fantasia.
— Ela riu. — Bela observação.

***

As pessoas costumam dizer que no começo  tudo é mais difícil de lidar,  e com o passar do tempo a situação pega uma caminho melhor, muitas vezes até uma rota inesperada, mas eu realmente estava achando duro seguir a vida de outro jeito. No começo eu  me sentia protagonista na vida de outra pessoa, mas agora eu já começara aceitar a situação, porque se eu não mudasse, ninguém o faria por mim.

Mudanças são parcialmente parte de nós, é como se,  sem ela,  não houvesse vida. Eu estava gostando disso, eu estava bem comigo mesma, e isso era o que me importava, porque apesar de tudo, lá no fundo,  eu ainda era egoísta.

Não posso mentir e dizer que o Lowis não passou pela minha cabeça durante a semana, mas a quantidade de vezes foi diminuindo e isso me deixou feliz, por que no final das contas, seguir em frente é o que importa.

Clair me deixou desconfortável ao mencionar que ele estaria no halloween, e provavelmente acompanhado da namorada nojenta. Eu não usei essa palavra como ex revoltada,  Katy era totalmente nojenta, ouvi dizer que ela lava as mãos toda vez que toca em algo. imaginei-a gritando a coitada da empregada para calçar seus sapatos após sair da manicure.

Eram 8h40 quando eu estava sozinha no meu quarto remoendo tudo isso, e lembrando de Pieter. Ele sempre foi na minha mente como um boomerang, não importava o quão eu estava preocupada com algo, ou alguém, no final eu sempre lembrava dele. Pieter me fez perder noites de sono, às vezes chorando de saudades,  outras rindo dos nossos momentos, cheguei até cogitar que nós casariamos e teriamos cinco filhos, não sei porque mas ele tinha cara de quem iria querer muitos filhos,  imaginei cinco, mas também achei que, provavelmente ele optaria por mais que isso. Até sorri criando um diálogo de briga por causa de uma salada de tomates.
Pensamentos assim era frequente, cada dia que se passava eu tinha mais certeza de que ele havia sido muito especial pra mim,  e aquela carta era uma âncora pra não jogar tudo pro ar e passar horas chorando em volta do seu túmulo, que a propósito eu ainda visitava todos os dias e contava o que eu tinha vivido. Comentei até sobre as mudanças e imaginei ele dizendo que eu estava certa.

Fui até a cozinha e preparei uma xícara de chá gelado. Só depois que abri a janela para ir até o telhado percebi que lá fora fazia um um calor inesperado. Agradeci ao tempo, devido minha pouca roupa,  e aproveitei o momento, além do mais, em NY qualquer vento quente é bem vindo depois de passar tanto tempo sentindo até o nariz ser congelado.

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