B A N H E I R A

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É óbvio que eu havia cogitado me matar. Quem é que consegue aguentar a dor por tanto tempo assim? a gente vive esperando que um dia tudo melhore, mas esse dia me pareceu tão distante naquele momento.

Saí do cemitério depois das cinco. Eu estava sem forças para voltar pra casa, mas imaginei que ninguém me enterraria viva se permanecesse alí.

Subi para o meu quarto, mais uma vez com o sentimento de culpa, e a vontade absurda de acabar com tudo logo de uma vez. Fui para o banheiro e liguei a torneira até encher o nível mais alto. Olhei para água, o transparente dela me trazia conforto. A solidão ainda me consumia, e eu entrei furtivamente dentro da água, pondo primeiro os pés, depois todo o corpo e me encostando na hidromassagem. Por longos segundos comecei pensar em despedidas e o quão doloridas elas são. Partir geralmente é uma necessidade, mas é que na maioria das vezes, a gente vai embora e deixa parte de nós. Lowis tinha parte da minha alma com ele. Eu não queria ir embora da vida dele. Não é como a maioria pensa. A gente não acorda no dia seguinte e pensa, pronto, fui embora. Longe disso. A gente acorda e percebe que quando mais a gente luta pra seguir em frente, sentir saudade se torna um ato de coragem, e por ele, eu sempre fui disposta a me arriscar.

Era um decisão egoísta? sim, pra muitas pessoas eu seria a menina rebelde que se afogou na banheira. Mas eu não suportava mais não ter com quem contar, não ter como admitir para minha mãe que sem ela o fardo era muito mais pesado. Foi difícil pra mim ver meu mundo ruir, e não ter ninguém disposto a me ajudar.

Estava certo em minha mente. Iria afundar minha cabeça e depois de uns minutos, não lembraria de mais nada, seria escuridão e angústia da morte, o que eu ansiava.

Não quis me despedir do meu pai, Gregg e Clair, nem ligar para minha mãe, nem mesmo deixar um cartãozinho para o Lowis. Eu iria embora da vida de todos pra sempre, sem deixar rastros, e isso me pareceu tão certo.

Ah, Lowis quem dera a gente pudesse concertar todos os erros e viver um amor épico. Pensei.

Afundei minha cabeça na água, era uma água gelada e feroz. Senti a agonia de estar me afogando, mas não desejei levantar, não quando estava tão perto de não sentir nada outra vez.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora