P I Z Z A

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Eu adorava acordar tarde aos sábados, mas infelizmente acordei ás 6:00 para me despedir do meu pai, que iria com a Jenna à Flórida.
  Eles como de costume faziam isso todo ano. Visitavam a família dela, e se divertiam pra caramba, eu imaginava.

— Você não quer mesmo ir? — Meu pai insistiu mais uma vez.
— Ano que vem. — Usei a descupa de sempre.
Eles Entraram no carro e foram, para minha felicidade.

Clair acordou e logo foi pra casa, não tínhamos muito o que falar e ela estava péssima, lembro de segurar a risada quando vi a marca da roupa de cama em seu rosto.

***

Eu sempre amei ficar sozinha. Era um alívio e tanto. Geralmente eu faltava na escola, fumava e bebida sem críticas. E aquele dia foi longo, só que, muito melhor que os outros. Incrível como ficar sozinha sempre me fez bem.
  Não posso mentir dizendo que não tive vontade de me matar. Até porque toda vez que eu ía na cozinha, olhar pra uma faca parecia uma passagem pra Dubai. Mas dessa vez, eu tinha um motivo pra aguardar a próxima semana, e ve-lo de novo.

  Eu odiava cozinhar, então naquela noite pedi uma pizza.
Em menos de meia hora, o alarme tocou e eu fiquei totalmente pálida e imóvel depois que abri a porta. Totalmente sem reação.
  Ele estava lá, com uma pizza na mão, com um uniforme cafona e mesmo assim tinha charme.

— Carrie. — Ele disse um tanto surpreso quanto eu.
— Lowis. — Assustei
— Você... — Ele procurava palavras.
— Você... — Repeti também incrédula.

Ainda anestesiada peguei a pizza e dei a gorjeta.

— Eu tô começando a acreditar em destino. — Ele bricou.

— Quer entrar? — Perguntei quando percebi que parecíamos dois robôs na porta. — Ele concordou.

No momento eu estava tendo um ataque de pânico por estar descabelada, de pijama.

— Eu já volto. — Expliquei.

Ele deu algumas analisadas pela casa e sentou no sofá.
Subi para o quarto arrumei meu cabelo e vesti algo melhor.

— Vai esfriar. — Ele disse, apontando para a pizza ao me ver descendo as escadas.
— Eu não sabia que trabalhava em uma pizzaria. — Falei confusa.
— Na verdade não trabalho, eu só estou quebrando um galho pro meu amigo, a pizzaria é dos pais dele.
— Ah. ele quis umas férias?
— Precisou levar flores pra namorada.
— Provavelmente fez uma burrada. Homens... — revirei os olhos.
— Você está me insultando, também sou homem.
— Que pena.
— Então você é lésbica?
— Acho que sim, provavelmente.
— Não acredito.
— Eu não ligo.
— Tudo bem, mas porque você queria me beijar ontem, se não gosta?
— Eu? beijar você? me poupe.
— Ta, vou ajudar você a se enganar.
— Eu não queria te beijar ontem.
— Não?
— Não.
— E agora? — ele olhou pra minha boca, depois para os meus olhos, e abriu um sorriso de canto.
— Quer ketchup?
— Não muda de assunto, isso daqui é destino, eu entreguei uma pizza na sua casa, no meio da noite, o que mais seria isso?
— Azar.
— Destino.
— Tá, mas por favor, não esteja na padaria amanhã de manhã.
— Já que tocou no assunto, que horas podemos ir?
— Ha ha, não abuse.
— Ok. — ele deu uma piscadela e continuou; — Eu não sabia que tinha preguiça de fazer janta.
— Acabou o macarrão estaneo. — Admiti e ambos rimos,
— Eu que fiz. — Ele apontou para pizza.
— Aceita devolução?
— Depende. — Agora ele olhava pra minha boca mais uma vez.

Eu não sabia o como agir, confesso. Até uns dias atrás eu era a invisível e agora estava na sala da minha casa com o menino mais gato do colégio.

Talvez esse ano seja melhor. — Pensei.

— Eu vou fazer um suco. — Falei quando o silêncio quis chegar.
— Não, não. Eu preciso ir. Antes que seus pais chegam do trabalho e me ponham pra fora. — Ele explicou rindo.
— Eles não estão.

O sorriso dele de canto foi inexplicável.
O meu entusiasmo pra falar sobre também.

— Foram pra Flórida.  Ergui as sobrancelhas. — Chegam semana que vem. —

— Eu ajudo. — Ele foi em minha direção.
— O que?
— O suco.
— Ah, é, o, suco, é.

—  Eu gosto desse. — Falei mostrando o pacote após ter pego na geladeira.
—  Eu arrumo a mesa. — Ele ofereceu.

Quando nossos olhos se encontravam eu abaixava a cabeça. Ele era interessante pra mim, de um jeito desejável. Sua boca era rosa único, eu lutava pra não ficar olhando mais de dois minutos seguidos.

— Pronto. Cadê os copos? — Ele perguntou olhando pro armário.
— Aqui. — Indiquei e fui em direção.
Ele também foi, nós estávamos perto até demais. Ele estava na minha frente e teve que chegar mais perto ainda para pode alcançar os copos, já que eu estava interferindo na passagem.

— Tá, vou pegar os pratos. — Falei desviando e quebrando o clima.
— Pronto.
—  Gosta de molho verde? — Perguntei
— Eu já vou indo.
— Que? Não. Vai fazer companhia pra mim. — Eu sorri e apontei a cadeira pra ele se sentar.
— Então não fala com estranhos, hein?
— Não é mais estranho pra mim.
— Sabia que sua grosseria  era temporária. — Disse ele arrumando o cabelo.
— Não é.
— Mas você não representou ser maravilhosa assim enquanto me ignorava no campo de lacrosse.

Maravilhosa. – Fiz um análise no elogio e sorri torto.
— Vamos me fale de você. — Ele levou um pedaço de pizza na boca.
— Ah, de mim? não tem muito o que falar.
— Que tal começar dizendo porque agiu daquele jeito quando tentei me aproximar.
— Tentando te proteger.
— Me proteger? de você? — Ele deu um sorriso sarcástico. — E porque?
— Porque eu costumo ferrar com tudo que se é próximo a mim.
— Não entendo porque pensa assim.
— Me passa a maionese. — Mudei de assunto.

Começamos a comer e o silêncio estava entre nós. Eu já não conversava muito e ele me deixava fora de si.

— É muito louco isso. — falei.
— O que?
— Você entregar a pizza, tipo? em milhões de pessoas logo aqui em casa, bizarro.
— A vida quer nos unir.
— eu ri. — ou a vida quer te ferrar. — comentei. 
Após o silêncio, arrisquei : —  Têm novos filmes na netflix.
— Vamos ver algum?
— Harry Potter? — Opinei indo pra sala ligando a TV.
— Já vi esse, quero um romântico. — Ele me acompanhou.
— Não gosto de romances.
— Em gênero de filme?
— Eu escolho. — Mudei novamente o rumo da conversa.
— A culpa é das estrelas. — Ele opinou.
— Eu já li, mas nunca assisti ao filme.
— Ótimo, decidido.

Sentamos, e filme começou.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora