Um abrigo é definido como uma casa, uma barraca, talvez um telhado posto sobre algumas madeiras, mas pra mim, Lowis tinha tudo isso em seus braços, pois quando se envolviam em mim, eu era a menina mais segura do universo.
— Oi, seu café está pronto. — Jenna me direcionava palavras como se o dia inteiror não tivesse acontecido.
— Passo.
— É seu cereal preferido. — Ela insistia em parecer normal depois de tudo.
— Não gosto de cereal.Eu acordei naquele dia e fui direto pra cozinha, com o cabelo feito coque e ainda de pijama.
— Com leite fica ótimo.
— Aproveite. — Zombei.Apenas algumas horas acordada e com uma certeza enorme de que o dia seria uma completa piada.
Eu não tinha planos concretos, eu planejara passar o dia lendo ou vendo seriado mas nada que incluísse sair de casa ou encarrar a realidade novamente.Subi para meu quarto e olhava fixamente para o celular, em dúvidas se deveria ou não ligar pra ele. Eu tinha certeza de que Lowis me entenderia, ele sempre foi bom nisso.
Esperei o horário em que ele já estaria em casa e não na escola e por fim, liguei.
— Oi. — Ele atendeu com uma voz solene.
— Oi. — Falei apertando as mãos, ansiosa.
— Você está bem? Eu andei pensando em você, pensei em ir te ver, mas achei que estivesse descansando.Descanso longo hein. — Pensei, magoada por dois dias de ausência dele.
— É, estou melhor, foi só um desmaio. Ou melhor, mais um.
— Não brinque com isso. — Imaginei que ele tivesse dado um sorriso abafado do outro lado da linha.
— É minha maneira de estar melhor, brincando com os problemas.
— Precisa me ensinar.
— Com certeza. A minha avó sempre dizia, "Se não achar a solução do problema, brinque com ele."
— Sua avó é esperta.
— Era.
— Sinto muito pela sua vó. — Ele disse com compaixão.
— Tudo bem, faz muito tempo.
— O que vai fazer hoje?
— Dormir.
— Não, fora isso.
— Comer.
— Engraçadinha, fora isso também.
— Chorar.
— Você é louca. — Ele disse rindo.
— Um pouco de loucura é sempre bom.
— Muito, melhor ainda. — Consegui imaginar ele erguendo as sombrancelhas e flertando.Nós ficamos conversando bastante tempo, eu ria na maioria das vezes, e como sempre quando estava com ele, esqueci minhas marés.
— Ei. — chamei.
— O quê?
— Faz uma hora que estamos no telefone.
— Jura? — Ele perguntou e depois continuou devagar — Parece segundos.
— Seu relógio deve estar estragado. — Brinquei
— Droga, como você sabe?
— Eu sempre sei as coisas.
— Sério? O que mais você sabe?
— Sei que você faz um péssimo café.
— falei rindo.
— Mal agradecida.
— Sincera, eu diria.
— Eu também sei as coisas. — Ele arriscou.
— Eu duvido.
— Eu sei que uma pessoa te acha incrível.Eu fiquei em silêncio do outro lado e meu coração quis acelerar.
— Mentiram pra você.
— Não me disseram.
— Não?
— Não. Eu que acho.Eu suspirei. Algo forte e gelado tomou o meu corpo, ansiedade misturada com prazer de ouvir aquelas palavras.
— Me conheça de novo, conheceu errado.
— Eu ainda não conheço você. Não como deveria, não como eu quero.Ele percebeu o silêncio do outro lado e continou, com um convite.
— Está afim de caminhar?
— O sol está alto. — Fiz análise pela janela.
— À noite.
— Ah sim, ok.
— Eu pego você às 9h00.
— Que? — Falei assustada, sem entender o contexto. — Combinado. — eu disse por fim, envergonhada por transparecer meu espanto com o que ele dissera.
— A gente se vê.
— A gente se vê. — Repeti e demorei alguns segundos antes de desligar.Com todo meu conflito de vida, e dores internas, nada era melhor do que a voz dele para me acalmar. Eu sabia que ele despertava em mim, algo novo, algo bonito e intenso. Meu medo se esvaia e eu começava a sentir o começo de uma paixão.
Mais assim tão rápido? — Meu subconsciente me alertava.
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Minhas Marés
Romance[COMPLETO] Com uma vida fora dos trilhos, Carrie entra em depressão. A falta do carinho dos pais afeta sua rotina, mas quando conhece Lowis e se apaixona mais rápido do que imaginou, enxerga a felicidade perto. Contudo, quando a doença começa causa...