L O U C A ?

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Duas horas depois acordei e enxergava com dificuldades. Olhei para esquerda e reparei que os bipes indicando meus sinais vitais estavam normais, o que foi uma pena. Mais à frente meu pai dormia no sofá e pela porta entre aberta consegui ver algumas pessoas andando pelo corredor, o que me lembrou; outra vez no hospital.

— É, sério eu estou bem. — Insisti.

Uma medica me contava o quão era importante algum tratamento.
Agora eu já estava ao lado do meu pai no sofá.
— Nós vimos seu pulso. — Meu pai comentou.
— Gostaram? Eu que fiz. — Revirei os olhos.
— Carrie. — Meu pai chamou minha atenção — Não é hora pra brincadeira.

Eu sentia meu corpo cansado, como se eu tivesse feito ginástica olímpica por anos.

— Seu pai tem razão. — A médica entrou na conversa.
— Quem é você?
— Sara, sua médica de hoje. Eu e seu pai conversamos e decidimos um lugar ótimo.
— Lugar ótimo?
— É, um lugar para jovens como você.

Engoli seco. "Jovens como você?" ela tinha mesmo pronunciado àquilo?

— Pai, ela brincando certo?
— Querida, são só alguns dias.
— EU NÃO SOU LOUCA! QUE DROGA.

Ambos me olharam assustados e reparei que algumas pessoas pararam e começaram a me observar.

— Eu não disse isso. Sara tentou me acalmar.
— Vocês querem saber o que é louca? — Eu estava de saco cheio de tudo aquilo, e agi como eu exatamente queria. Fui em direção de uma mesinha de canto na qual ficava um telefone e um abajur e comecei a jogar no chão.

— Aqui a louca. — Gritei mais alto.

Agora eu já chorava e meu lápis e rímel forte deixavam as lágrimas negras.

— Eu não me importo com nada disso. — Chutei uma caixa com remédios e saí rumo ao corredor, correndo.

Minha respiração estava ofegante e resolvi para de correr e apenas andar rápido. Comecei a caminhar em direção à um lugar calmo. Acendi um cigarro e comecei a odiar tudo, como sempre.

Lowis não sabia o que estava acontecendo, e ele era a única pessoa que eu queria ver no momento.
Por um minuto reparei em meus pulsos e imaginei que talvez estivessem certos de que eu estava fora de si há tempos, mas nada disso fazia sentido. A vida sempre foi um porre. Imagina se fossem internar todos os que sofrem por alguma coisa, as cidades seriam cheias de hospícios invés de parque de diversões.

Eu ainda estava incrédula. Meu pai estava apoiando a idéia de levar a filha pra um lugar cheio de jovens drogados e psicopatas?

As lágrimas caiam em minha pele como a chuva cai sobre a terra, e a dor me corrompia como um tsunami vindo à tona.
Eu não sabia se ligava pra minha mãe, se corria pra mais longe possível que eu fosse capaz, se pulava de um prédio. Não tinha certeza de nada no momento, mas quando eu cheguei em casa desejei ter pulado.

— Ela chegou. — Jenna avisou meu pai que estava entretido na cozinha, assim que entrei pela porta.
— "Ela" está escutando. — Falei
— Eu fiquei preocupado. — Meu pai veio em minha direção me abraçando. — Você está bem? Onde estava?

Continuei imóvel com os braços pra baixo.
— Apareçam eu sei que estão aí. — Gritei afastando-se de abraçar.
— Ei, o que é isso? — Jenna levantou.
— O quê? O pessoal da camisa de força ainda não chegou?
— Eu já falei pra parar com isso. — Meu pai gritou de volta e segurou meu braço.
— Isso o quê? — Gritei novamente.
— Suas gracinhas Carrie, você não percebe que está doente? Você precisa de ajuda!

Eu fiquei por alguns segundos sem ter o que dizer mas algo em minha garganta eu sentia pulsar, e pus para fora.

— SIM! POR INCRÍVEL QUE PAREÇA EU PERCEBO, EU PERCEBI HÁ DIAS. MAS NÃO ERA SÓ EU QUE DEVERIA TER PERCEBIDO! NÃO ERA! EU PRECISAVA DE UMA FAMÍLIA E CADÊ A MINHA? EU PRECISAVA DE AMIGOS, EU PRECISAVA DE ALGUÉM AO MEU LADO, O PROBLEMA TALVEZ NÃO ESTEJA SÓ EM MIM. — Gritei como se uma multidão de pessoas tivessem que escutar.

O silêncio chegou. Meu diálogo foi exaustivo e eu chorava enquanto gritava aquelas palavras. Meu pai e a Jenna ficaram pensativos, e eu só dei de ombros e subi correndo pro quarto.

Não era uma sexta feira, muito menos treze, mas eu estava com um azar enorme. Até meus átomos pediam socorro.
Eu senti vontade de contar pra alguém, dizer tudo o que havia acontecido. Senti vontade de ter um consolo, mas as duas da manhã depois de estar com os olhos doloridos e inchados percebi que eu era tudo o que eu tinha, talvez parecesse pouco, mas eu tive que acreditar que seria o suficiente, e foi, pois tive uma longa história de dores pela frente. E acredite, você sempre será seu único ombro amigo no final das contas.

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