Minhas Marés

N Ã O S E J A V A G O

— Lowis?
— Ca... Carrie?
— Lowis?
— Carrie?
— Lowis eu...
— Espero que um dia possa me perdoar. Eu te amo.
— Espera, por quê? Lowis o que aconteceu?

Os apitos dizendo que na outra linha ele havia desligado, fez meu coração apertar e só conseguir por o telefone no guincho depois de uns minutos.

Meus ombros caíram  freneticamente e eu me sentei no chão, esperando a correnteza de dor me consumir, pois já estava sendo assim a todo instante.

Perdoar? ele me amava? o que realmente ele quis dizer como isso? eu deveria tentar ligar novamente?

Eu levei as duas mãos até a cabeça, apertando meu cabelo e me permiti chorar. Naquele dia meu choro foi diferente, não era saudade, foi um árduo de rejeito, uma forma exaustiva dele dizer que não iria me procurar mais.

Porque eu deveria perdoá-lo, o que ele havia feito de tão errado? é óbvio que eu estava triste por não ter ido me visitar, mas uma ligação longa e romântica me faria esquecer. Só que invés disso, ele preferiu me deixar mais um dia na calamidade, e se eu pudesse fazer a ligação novamente, seria pra dizer o quão infantil fora seu ato.

— Moça, Meredith solicitou sua presença na sala principal.

Uma funcionária me disse amigável e logo saiu.

Eu levantei devagar, limpei meus olhos e comecei andar. Por não saber mais meus sentidos, quis mais do que nunca, permanecer naquele lugar pra sempre, longe do Lowis, longe dos meus pais, de tudo. Por um instante eu quis somente ir correndo dizer para o mundo o quão vasto é tudo o que as pessoas dizem sentir.

— Posso entrar?  — Coloquei a cabeça pelo vão da porta principal.
— Está aberta.
Meredith levantou seus óculos com o dedo indicador, tirando da ponta do nariz, e juntando mais perto dos olhos.
— Você me chamou?
— Sim.
Ela fechou uma revista que estava lendo. — Eu andei observando seu comportamento, e acho que seu pai ficará feliz em saber que logo voltará para casa.
— Acredite, ninguém ficará.
— Não seja boba, todos sentem sua falta.
— Você não sabe o que está falando.
— Me arrumei na cadeira.
— Escuta, eu sei que nada é fácil, mas a gente tem que deixar a vida nos surpreender às vezes.
— Ela me surpreende o tempo todo. —Dei de ombros.
— Sim, mas a questão é como você reage a isso.
— Eu não sei do que está falando.
— Carrie.  — Ela se levantou e começou andar de vagar pela sala. — Eu notei algo diferente em você nesses últimos dias.
— Desculpe senhora, mas acho que todo mundo aqui tem algo diferente não é?
— Ela riu.
— Certo. Mas, eu estou tentando dizer, que o seu pai fez isso pelo seu bem, por te amar demais. Você é uma menina importante.
— Ele poderia simplesmente ter me avisado não acha? pelo menos um "Querida nos vamos te mandar pra um lugar com jovens peculiares e você ficará lá até se conectar com o seu eu interior e descobrir a verdadeira essência da vida."
— Não é tão fácil quanto você pensa.
— Eu nunca pensei que fosse fácil.
— Está no caminho certo.
— Eu geralmente me perco no caminho, talvez seja um enorme círculo.
— Correto. Nós estamos em um enorme círculo, e é o dever de cada um achar sua direção, ou melhor, achar seu ponto de paz.
— Isso daqui está parecendo uma sessão tediosa com uma psicóloga.
— Ok. Vamos direto ao ponto.
— Ela começou a limpar alguns livros em uma instante.
— Meredith, não que eu esteja sem interesse nessa meditação, mas...
— Você poderá ir pra casa semana que vem.  — Ela disse por fim.
— Ir pra casa? — Eu repeti incrédula.
— Você é diferente, eu acho que esse lugar não é pra você.

Me veio aperto no peito ao lembrar que teria que me despedir de Pieter mais cedo.
— Não acho que estou pronta.
— A gente nunca sabe quando estamos. Mas isso você precisa descobrir sozinha.
— Ela deu uns tapinhas no meu ombro.

Uma ansiedade forte me tomou e eu não conseguia dominá-la. Eu olhava para Meredith sem saber o que dizer ou agir diante de tantas palavras ditas.

Abri a porta e saí como um robô, minhas pernas não articulavam ao mandado do meu cérebro, o calor fazia minhas mãos suarem.

Eu não posso ir embora assim. Ainda me sinto quebrada.

— Você está bem moça? — Outra funcionaria chegou até mim.
— Senhorita, tem certeza de que está bem? você me parece pálida.

— Ei, alguém me ajude?  — Ouvi o seu grito longo de desespero e senti meu corpo mais leve.

Com os olhos piscando devagar, pude notar que estava caindo, e mais outras pessoas vinheram até mim. E antes de tudo escurecer mais uma vez, vi Pieter empurrando todas aquelas mulheres e me pegando em seus braços, consegui notar sua boca dizendo pra eu continuar acordada, mas eu estava vulnerável demais pra isso.