Seu sangue era vermelho escuro, quase preto. Ele não me parecia sentir dor. Olhei ainda inconsistente de tudo, e quis conhece-lo melhor.
— Meu nome é Carrie. — Eu disse devagar.
— Eu não perguntei o seu nome. — Sua voz era forte e o movimento da sua boca suave.
— Tá, mas eu quis falar.
— Eu não ligo.
— Temos algo em comum.
— Não me compare com ninguém.
— Não foi uma comparação, estou falando de algo em comum.
— Não quero ter algo em comum com ninguém.
— Ah foi mal, deveria ter dito antes, assim eu nasceria diferente. — Disse ríspida e depois ri alto, pelo meu sarcasmo repentino.
— Seria melhor se nem tivesse nascido. — Ele disse, e agora me olhando sério.
— Caramba, outra coisa em comum, queria a mesma coisa.O vento balançava toda a plantação de rosas, e por mais um instante, senti uma leve pontada na mão.
Olhei para a palma da minha mão e notei que os espinhos da rosa tinha furado-a.
— Droga!
— Precisa aprender se cortar.
— Não foi de propósito.
— Quer dizer que é mais burra do que parece?
— Você é completamente irritante.
— Vai se ferrar.
Ele sentou em uma escora de cimento, ainda muito perto das flores e ficou assistindo seu sangue cair no chão em gotas frequentes.
— Com lâmina é melhor.
— É? e como você sabe?
— Experiência.
Ergui a manga do meu suéter e mostrei minhas cicatrizes.Esperei um pouco de piedade mas ele continuou agindo como um completo idiota.
— Estão antigas, precisa refaze-las.
— Eu não sou mais a garota de se corta e odeia a vida.
— Ah é? o que aconteceu? encontrou a fada do dente e pediu que coloasse a felicidade debaixo do seu travesseiro?
— Na verdade eu conheci alguém.
— Continuo sem me importar.
— Você deve estar se perguntando, se eu já estou boa, porque estou aqui, não é mesmo? é que...
— Eu não estou me perguntando nada. — Ele me interrompeu e se levantou.
— Espera! Deixa eu ajudar você, ainda tem muito sangue escorrendo. — Me levantei também.
— Não preciso da ajuda de ninguém pra curar meus machucados. Ao contrário de você. — Ele ergueu as sobrancelhas, e eu
fiquei impressionada com a beleza dele.Ele deu passos rápidos e logo desapareceu.
O comentário dele me fez ficar um bom tempo em silêncio. Era verdade. Eu precisei de alguém pra me tirar da calamidade, eu era só uma garotinha fraca e inútil.
Comecei chorar mais uma vez, e por mais que eu não quisesse admitir, naquela noite me senti completamente sozinha.
— Você errou.
— O que?
— Não conseguiu acertar seus olhos, mas está indo bem.Agora eu já tinha voltado para o quarto e encontrado Avril sentada na cama. Ela lia uma revista antiga, com imagens preto e branco, e me parecia concentrada, mas olhou pela segunda vez para meus olhos.
— Como assim?
— Aqui. — Ela apontou para um espelho que estava escorado em uma quina na parede e eu caminhei até o mesmo.— Nossa. — Abri a boca assustada.
Meus olhos estavam cheios de sangue, como se eu tivesse passado uma maquiagem de vampiresa. Tentei limpar com as mãos mas fiz piorar. Quando caiu a fixa, lembrei que, devido ter furado minha mão, e secado minhas lágrimas um tempo atrás, causara todo esse resultado atípico.
— Quem é essa? — eu sussurei para Avril quando vi uma menina na parte de cima da minha beliche.
— Uma colega.
— O que ela tem? — escutei soluços de choro.
— O mesmo que a gente. Dor.A menina estava sangrando, seus pulsos estavam totalmente cortados.
— Ai meu Deus. — eu falei perplexa.
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Minhas Marés
Romance[COMPLETO] Com uma vida fora dos trilhos, Carrie entra em depressão. A falta do carinho dos pais afeta sua rotina, mas quando conhece Lowis e se apaixona mais rápido do que imaginou, enxerga a felicidade perto. Contudo, quando a doença começa causa...