Pieter e eu tínhamos assaltado a cantina naquela manhã. Estávamos livremente felizes e despercebidos comendo as melhores bolachas que achamos, quando uma funcionária nos encontrou. Apesar de estarmos entre duas prateleiras, sentados chão, era visível a quem chegasse pela porta dos fundos.
— Ei, o que vocês estão fazendo aqui?
— A mulher ficou parada na porta, e colocou uma mão na cintura. — Isso é totalmente proibido.
— Senhora, nós só estávamos conversando. — Falei em minha defesa, e escondi uma mão pra trás.Pieter com a boca cheia, tentava sorrir, apesar de apavorado.
— A gente já estava de saída. — Falei por fim, e nos retiramos imediatamente.
Eu pensei que a história pararia por aí, que ela teria engolido nossas desculpas tolas e tudo bem. Mas horas depois, Meredith nos procurou.
— Caramba, aquilo foi hilário. — Piter sorriu satisfeito pra mim.
— Foi por pouco. — Sorri de volta.Estavamos no campus. Havia uma mesa de ferro, a olho nu parecia limpa apesar de antiga. Sentados no banco, ele à minha frente, com os dois cotovelos apoiados na mesa, e eu, com as mãos caídas pra baixo, ainda disfarçando o susto de ser pega em um furto alimentício.
— Deveríamos fazer isso mais vezes.
— Até que foi divertido.
— Mas você estava com medo, eu vi em seus olhos.
— Você não olhou nos meus olhos, estava muito entretido enchendo a barriga.
— Até parece que não. Talvez se me notasse mais, iria perceber que eu não tiro os olhos de você. — Ele disse, e sorriu.
E eu não sabia o que dizer, por que quando ele sorria, eu ficava admirando.— Eu deveria pedir licença por interromper a conversa, mas pelo jeito, bons modos não é o forte de vocês.
— Meredith chegou até nós e ficou nos olhando firme.Eu lembrei que ela não me parecia tão fria assim alguns uns dias atrás, mas quem era eu pra julgar as mudanças alheias.
— Oi Meredith. — Falamos em coral, porém o mais baixo possível.
— Eu preciso falar com vocês, sobre o que fizeram.
— O que nós fizemos? — Fingi espanto.
— É melhor deixar pra fingir de idiota uma outra hora! vocês vão para o armazém.
— Armazém não, por favor.
— Pieter fez expressão de piedade, e eu fiquei sem entender.
— Armazém?
— Sim. Mas antes, quero vocês na minha sala, em DEZ minutos. — Ela saiu em passos largos e nós permanecemos quieto.— O que é isso?
— É um lugar totalmente isolado, pra onde eles levam as pessoas que não cumprem alguma ordem aqui.
— E você já foi?
— Umas cinco vezes. — Ele riu e eu fiquei mais aliviada.
— Acha que eu vou sobreviver? — Brinquei.
— Eu estarei como companhia.
— A gente fica trancado lá?
— E algemados. — Ele levantou.
— Espera? como assim. — Me levantei também e fui atrás dele.
— Eles colocam algemas por precaução.
— Que absurdo, eu não vou aceitar isso.Começamos a caminhar em direção a sala principal.
— Não é tão ruim assim. Eles têm medo que possamos fugir. Dizem que, se conseguimos passar a enorme janela, tem um atalho para centro da cidade.
— E você nunca pensou nisso... digo, fugir.
— Não. Não teria muita coisa pra fazer lá fora.
— Como não? a cidade é repleta de Buger King. — Ri, mas ele não retribuiu.
— Isso tudo é bom quando se tem companhia.
— Eu fiquei em silêncio e parei de andar.
— A gente precisa ir, já se passaram dez minutos.
— Você teria minha companhia.
— Aqui dentro somos eu e você... lá fora, são você e o Lowis.Ele apressou os passo, e eu continuei aonde estava.
De costas ele parecia mais velho. O cabelo sem corte o deixava atraente. Por mais que o comentário me deixou desconfortável, por todo os momentos que lembrava da terrível ligação, tentei parecer mais animada.
— Me espera.
— Vem logo. — Ele olhou pra trás sorrindo.
Naquele momento eu percebi que ele fazia de tudo pra estar sempre alegre, ele não era transparente, eu nunca conseguia saber o que ele sentia de verdade. Às vezes, com expressão triste, sorria mesmo assim.— Com licença.
— Aí estão vocês.
— É. — Me sentei, mas Pieter permaneceu em pé.
— As mulheres da cantina acham que vocês não precisam disso.
— Sério? — Perguntei esperançosa.
— Sim, mas isso foi antes de perceberem o enorme quantidade que falta de bolacha.Qual é, vai fazer isso com a gente só por causa de umas bolachas.
— A gente pode se desculpar, se acharem melhor. — Pieter agora estava sentado.
— Eu acho melhor que aprendam a lição.
Meredith abriu uma gaveta e puxou uma algemas. — Para a sorte de vocês é a nossa última. Terão que decidir quem irá usar.
— Eu. — Pieter e eu falamos na mesma hora.
— Decidido. — Ela se levantou e nos prendeu um no outro. Aproveitando que nossas mãos estavam em cima da mesa.
— O que? nós vamos ficar assim, grudados?
— Foram vocês quem decidiram. E além do mais, o que há de errado, já que passam a maior parte do tempo assim.
— Meredith colocou os óculos e começou e começou a andar.Revirei os olhos, e a segui, rumo à minha primeira experiência, de algemas com um garoto.
Quando chegamos em frente ao armazém, havia um suposto guarda na porta. Ele estava uniformizado e mantinha uma boa postura. Reparei que era o primeiro funcionário homem que eu vira no local.
Meredith nos colocou dentro do enorme quarto quase vazio e deixou que o homem trancasse a porta.
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Minhas Marés
Romantizm[COMPLETO] Com uma vida fora dos trilhos, Carrie entra em depressão. A falta do carinho dos pais afeta sua rotina, mas quando conhece Lowis e se apaixona mais rápido do que imaginou, enxerga a felicidade perto. Contudo, quando a doença começa causa...