D E C I S Ã O

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Ouvi dizer que a vida é um labirinto. E depois daquela noite, eu tive a certeza de que eu estava bem distante de encontrar minha direção.

— Você sabe o que é melhor para ela. Sei que vai concordar.
Vivian folheava um caderno procurando uma folha em branco na expectativa de fazer uma anotação.

— Eu compreendo. — Meu pai com os olhos cansados, e sim, de muito sono acumulado se levantou e caminhou até a porta.
— Qualquer coisa me liga. — Vivan se levantou também em movimentos tranquilos e caminhou até ele entregando seu número que estava posto em um pequeno papel.
— Tá legal. Obrigada. — Meu pai se despediu e abriu a porta.

Oliver, 53 anos, divorciado, com uma namorada e uma filha impulsiva. A ficha do meu pai não era uma das melhores, só que algo que eu ainda não sabia, havia aumentado nessa história.
Um filha jovem que, segundo a doutora Vivian, estava chegando cada vez mais perto do sono profundo. Meu pai evitou de me contar no mesmo dia, mas os exames mostravam que eu estava com uma grande chance de ter desmaios frequentes, os meus sinais vitais não eram de acordo com o necessário e, a cada vez que eu desmaiava, mais eu tempo desacordada eu ficava. E, se  eu fiquei uma noite inconsciente, na próxima crise poderia ser duas, nas outras, três, quatro, cinco e assim por diante.
Meu pai concordou com a decisão dela. Mas qual era essa decisão?

— Acho melhor você ir pra casa, seus pais devem estarem preocupados.
Agora acordado, Lowis me escutava e segurava minha mão.
— Não vou te deixar sozinha.

Meu pai se aproximava forçando um sorriso.

— Teve alta. — Ele ergueu um papel e procurou a chave do carro nos bolsos com a outra mão.
— Viu? Já estou bem.
— Se estiver mesmo bem eu preciso ir, meu pai precisa de mim. Me liga se sentir alguma coisa. — Lowis se levantou  e eu fiz o mesmo.
— Obrigada.
— Está me agradecendo por ficar dormindo e te deixar me assistir babando? — Ele brincou e me puxou para um abraço.
— Exatamente por isso. Te agradeço pela liberdade perto de mim. — Ri e o acompanhei até o seu carro, enquanto meu pai me esperava em outro.

— Eu sonhei ou a Katy me encharcou com cafeína?
Ele riu
— Pensei que tivesse esquecido disso. Lowis destravou o carro.
— Então não foi um sonho? — Me fingi assustada.
— Foi apenas um pesadelo, calma.
— Boa tentativa, mas ainda sinto cheiro de cappuccino em mim.
— Deixa eu sentir.
Ele veio pro meu lado sorrindo, e com um jeito brincalhão cheirou o meu pescoço, e depois me beijou o rosto.
Eu fiquei imóvel. Senti um arrepio bom subindo meu corpo e eu sorri de volta.
— Tenho que ir. — Ele se afastou e abriu a porta do carro.
— Precisa ir. — Dei a ele a razão e ainda sem sair do lugar.
— Manda um abraço pra sua mãe..
Ele respirou, fingiu um sorriso e concordou.
— Para seu pai também. — Gritei enquanto ele dava à ré.

O carro foi se afastando, ele fechou o único vidro aberto, e foi.

Fiquei por segundos analisando o automóvel, até finalmente desaparecer dentre outros carros.
Eu não tinha tanta certeza, mas eu precisa saber o que havia com a mãe dele. Falar a palavra "mãe" era como acionar sua tristeza e isso me deixou confusa.

— Eu gosto da chuva.
Iniciei uma conversa quando eu e meu pai já estávamos voltando pra casa e alguns pingos de água caíam e escoriam pelos vidros.
— Por quê?
— Minha mãe costumava dizer que os anjos estavam chorando.
— E isso é bom?
— Eu me sinto melhor. Se até anjos têm recaídas eu também tenho direito de não estar bem.
Ele deu um longo suspiro e continou concentrado à pista.
— Sinto falta dela.
— Eu também.
— Ela saberia lidar melhor que eu nessas situações.
Ele me pareceu preocupado.
— É, ela é boa nisso.

Seja qual for a situação, ela melhor do que nós dois, saberia lidar. — Pensei

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