A V R I L

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— Então quando eu percebi, tinha matado eles. O chão estava repleto de sangue, e as minhas luvas também. Eu estava usando luvas brancas, tínhamos acabado de chegar do casamento da minha irmã.
— Meu Deus. — Eu levei uma mão na boca com espanto, e me certifiquei de que a porta não estava trancada.
— Eu teria sido presa, mas eu recém completara dezesseis. Eles eram idiotas, acho que eu fiz um bem pra sociedade. E você, por que está aqui?

Eu tentava disfarçar o aceleramento do meu coração, e o suor que escorria na minha cartilagem.

— Eu sinto muito por isso Avril. — Disse, por fim, com os lábios trêmulos.
— Eu não. — Ela se deitou em um movimento rápido.

Nós estávamos em nosso quarto. Havia duas beliches, porém vazias, e eu torci para que tivessem mais duas pessoas alí pra que eu não dormisse sozinha com uma assassina.

— Vamos, me conte, porque está aqui? — Ela jogou uma almofada em mim, e eu ergui uma mão em defesa.
— Eu só tive algumas crises. Semana que vem, eu já posso ir embora.
— Crises? você atirou em alguém?
— Credo, não! Eu... tinha depressão.
– Tinha?
— Tinha. Eu conheci um cara legal, ele mudou minha vida, me sinto outra pessoa.
— Que nojo.
— O que?
— Vocês que acreditam no amor.
— Eu ri. — Não é amor... ainda.
— O nosso verdadeiro eu nunca morre. A velha Carrie só está dormindo, logo ele irá ferrar com sua vida e você odiará tudo novamente, é assim que as coisas são amiga. As pessoas te machucam e ainda perguntam porque você está chorando.
— Fiz uma careta, e uma análise ao teto. Algumas teias de aranha eram quase do tamanho de todo o telhado.
— Ele disse que vem me ver a semana toda.
— Romântico. Mas não acredito no amor.
— Eu também não acreditava. Mas Lowis está quase me provando o contrário.
— Lowis?
— Meu namorado. Quer dizer, eu acho que somos namorados, quase isso.
— Não tem certeza? e como você chama isso de amor?
— Ah, eu não sei, acho a gente simplesmente sabe que é.
— Eu nunca me apaixonei.
— É incrível. Lowis ainda não meu pediu em namoro, por que foram dias corridos, mas eu sei que vai.
— Você é tão confiante, me da ância.
— Avril mordia as unhas e aquilo me deixa apavorada.
— Eu vou dar uma volta. — Falei, e saí de pressa.
— Que seja.  — Ela que agora estava apenas sentada, ergueu os pés, e abraçou os joelhos.

Minha cabeça estava doendo, eu não conseguia me conformar que passaria uma semana alí. Eles tinham recolhido meu celular, meu fone, meus livros. Era eu, e eu, em uma noite turbulenta e assustadora.

Fui caminhando pelo local e olhando cada sala pelo vão da porta. Tinha algumas pessoas vendo TV e outras totalmente desligadas do que acontecia em sua volta. Em uma sala notei que estavam sentados em círculos, com as mãos dadas, e olhos fechados, parte de mim imaginou que seria um sessão espirita mas a outra parte lutou para crer que era uma oração.

— Veja Michael, são vagalumes.
— Eu já disse milhões de vezes que são insetos nojentos.
— Eles brilham.
— Cala a boca.

Dois colegas estavam parados em frente à um quadro de pintura, uma obra de 1942, feita por Claude Monet, e se desentendiam loucamente.

Abri a porta em direção ao jardim e notei que havia movimento aquela hora. Duas meninas corriam de um lado para o outro, e uma anotava algo em uma folha, com um pedaço de ganho seco.

Meus passos eram firmes e lentos. Eu ainda permanecia consciente de que alí, não era o meu lugar. Até um tempo atrás seria, mas eu estava bem agora, eu tinha o Lowis. Fui até um canteiro de rosas e comecei a cheira-las.

— Amendoim.
— O que? — Me virei subitamente.
—  Elas cheiram a amendoim, mas prefiro cacto.
— Amendoim? Apertei a rosa na minha mão, do susto, e acabei me machucando.
— Torrado.
— Isso não tem sentido algum.
— Me conte algo que tenha.

Um garoto que estava no mesmo canteiro das flores chegou mais perto, e eu firmei meu maxilar sem reação alguma.
A lua estava alta, e por um pequeno reflexo eu percebi que seus cabelos quase tapavam seus olhos, mas sua mão estava pingando sangue, as duas mãos na verdade.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora