S U R P R E S A

51 12 0
                                        

— Eu tenho uma surpresa pra você.
Ele disse todo empolgado, do outro lado da linha.
— Hum, ok. Vai me mandar por email?
ele riu. — Não, claro que não. É que eu pensei sobre a gente, acho que precisamos conversar, sobre tudo o que aconteceu e como vai ser.
— tudo bem. — ele estava completamente certo, tínhamos que resolver essa história.
— Faça suas malas, amanhã cedo passo aí pra te pegar.
— O que? vamos viajar? não posso, eu tenho um emprego, esqueceu?
— Fica tranquila, eu já conversei com o Willy.
— Você o que?
— Pegue roupa o suficiente, não sei quantos dias vamos ficar fora.
— Lowis, pera ai eu...

Ele desligou.

***

Seis e meia do dia seguinte escutei socos na porta. Eu já estava acordada desde as cinco, ansiedade sempre causou isso em mim.

— Já vai. — passei a mão no cabelo, e fui atender.
— Oi. — Lowis beijou meu rosto e entrou antes mesmo de eu pedir que fizesse.

Ele estava muito bonito, e eu pensei que algum dia eu iria deixar de acha-lo tão atraente.

Usando uma calça preta e moletom vermelho, ele cheirava a hortelã, até analisei seus maxilares, pra ver se ele estaria mascando chiclete.

— Está pronta?
— Eu não vou. — acompanhei ele que andava rapidamente até meu quarto.
— Como assim você não vai? — ele fez expressões sérias.
— Eu não posso simplesmente aceitar viajar com você sem saber pra onde e sem sei lá, planos.
— Por isso se chama surpresa, por que você não sabe de nada ainda. — ele alcançou uma mala que estava em cima do meu guarda roupas, abriu-a e começou colocar minhas roupas dentro, nem ao menos analisar, pegava peça por peça e jogava.
— Quer parar com isso? — cruzei os braços.
— Frederick está esperando a gente lá em baixo, não temos muito tempo... Hum, aonde fica as calcinhas?
— Lowis!!! — protestei.
ele riu. — ta bom, nada de calcinhas.
— Olha só, que tal a gente tomar um sorvete e resolver isso, não precisamos pegar um avião.
— Não vamos pegar um avião.
— Não?
— Não.

Sentei na cama, e fiquei olhando ele andar de um lado pro outro no meu quarto, procurando tudo o que achava que eu iria precisar. Creme, escova, toalha, tênis, até o meu notebook.

— Fala sério, você está querendo fugir comigo? — indaguei.
— Bingo! — ele riu e começou fechar a mala.

Pediu pra que eu trocasse e que iria me esperar lá em baixo, passando pela porta arrastando minha mala com a mão direta, desapareceu.

Eu abri um sorriso segundos depois. Parecia cena de filme, que o casal se amam muito mas os pais proíbem o relacionamento e eles fogem para viverem felizes para sempre, como os contos da Disney.

Seja qual for a ideia dele, eu vou. Pensei.
Minha vida estava pacata demais, eu bem que precisava de risco, ou de alguém pra me tirar da minha frustrante zona de conforto.

Me troquei e desci. Encontrei Lowis ansioso já dentro do carro.

— Oi Frederick. — cumprimentei-o enquanto abria a porta pra mim.
— Oi Carrie, como você está?
— Bem obrigada.

O automóvel começou se mover e eu ainda sem entender o que estava acontecendo. Andamos uns vinte km, e a cada minutos que passava eu enchia Lowis de perguntas.

Quando finalmente o carro parou, eu senti meu estômago gelar, um tipo de felicidade misturado com adrenalina e então, ele pediu pra que eu fechasse os olhos.
Ou melhor, ele com as duas mãos, tapou os meus olhos, me ajudou descer o carro e foi me guiando, dizendo a qual lado eu deveria virar e se já era hora de subir alguma escada, essas coisas.

— As malas já estão lá dentro. Boa Viagem. — a voz de Frederick passou por nós e logo seus passos foram impossíveis de serem escutados.

— Já chegamos?
— Quase.
— O que é isso?

Comecei a escutar barulhos e conversa para todo lado, crianças rindo e cantarolando, rodinhas de mala se arrastando pelo chão.

— Lowis, aonde estamos? — continuei.
— Por enquanto no Estados Unidos.
— Ha ha, engraçadinho.

Andamos mais um pouco, tive que subir uma escada longa, até que senti um clima mais gelado, escutei uma música baixa, algo formal demais para os meus ouvidos, e então, depois de entrarmos em um elevador e eu implorar pra ele não estar me levando pro deserto do Saara, ele tirou as mãos.

— MEU DEUS! — exclamei.

Eu estava simplesmente na suíte mais chique que eu havia visto em toda minha vida e apostaria qualquer coisa que veria alguma melhor.

Ele trancou a porta e sorriu pra mim.
— Gostou?

Eu ainda estava boquiaberta, analisando cada centímetro do local, encantada como nunca.

— Caramba! — eu disse por fim.
— Dê uma olhada pela janela. — ele piscou.

Caminhei até ela, abrindo uma linda cortina branca de vagar e quando notei que a vista era real, saltitei.

— Aaaaa. que incrível. — fiquei provavelmente uns dez minutos sem piscar.

Estávamos em um cruzeiro. E pelo jeito na classe riquíssima, algo que eu nunca pensei viver.

A vista da janela mostrava a imensidão do mar, e azul do céu naquela manhã fantástica.

— Gostou. — ele sentou em um luxuoso sofá que seria nosso por alguns dias.
— Está brincando? eu estou sem palavras! você faz isso sempre? digo, navegar por aí?
— Na verdade não, a minha última vez, foi há provavelmente cinco anos atrás, nem consigo me lembrar direito. — ele alcançou uma cerveja em um frigobar.
— Muito cedo pra beber não acha? — fui até o sofá e sentei do lado dele.
— Acho. Mas eu também acho que a gente precisa aproveitar isso daqui. — ele tocou meu ombro de leve, em um gesto brincalhão.
— É, com certeza. Por falar nisso, vou ir tomar um sol, até as dez faz bem para pele, se eu não me engano vi isso em algum livro.
— Ok. — ele sorriu.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora