Minhas Marés

J A N T A R

não demorei mais que meia hora no sol pra sentir minhas costas arderem. Fechei a revista que eu lia e me fui para um sombra tomar um suco, enquanto resolvia se ligava ou não para Clair.

Ultimamente não tínhamos contato a não ser o dia que o Greggory me ligou pra contar que iriam dar uma festa no aniversário pra ela e eu disse as felicitações, sendo respondida tranquilamente, mas nada de conversas de amiga como costumavam ser, porém eu realmente precisava contar pra alguém como eu me sentia, era tipo, "aaaaaaaa" eu estou num cruzeiro, óbvio que eu estava doida pra desembuchar isso.

— Alô? — Clair atendeu na terceira chamada e parecia cansada.
— Oi.
— Ah, oi Carrie, o que houve?
— Nada, está ocupada?
— Não, eu ia tomar um banho mas pode esperar. Greggory e eu estávamos correndo, caramba eu adoro a Califórnia!
— Ainda estão aí? e a minha mãe?
— Sim, estamos pensando em morar aqui, vimos uns apartamentos legais em Venice, eu não consigo mais abandonar a praia. — ela sorriu e continuou, empolgada — Tom vai emprestar uma grana pra gente, é um máximo não é? ah e sua mãe está bem.

"quem é, é a Carrie, manda um beijo."

Pude escutar minha mãe falando, do outro lado da linha.

— Manda outro. — falei com desdém.

Minha mãe nunca se importou comigo, era impressionante ela estar mandando beijo, eu queria era falar pra ela guardar o beijo pra próxima encarnação se ela tivesse a capacidade de criar uma filha, mas apenas suspirei.
— Fico feliz por vocês Clair, Venice é mesmo incrível.
— E você, o que faz da vida, seu pai disse que não voltou pra casa. Ele apostava que voltaria!
— Ah, de jeito nenhum. Achei um milagre aguentar a Jenna por tanto tempo. — sorri alto. — minha vida está tomando rumos diferentes e eu acho que estou feliz.

Clair pareceu espantada. — Ora, ora, quem diria você dizendo isso, e sendo sincera, eu acredito, porque sua felicidade está atravessando o telefone, dá pra perceber, o que aconteceu? tem haver com o Lowis, não?
— Parcialmente.
— Hum.
— Eu estou em um cruzeiro!!!  — joguei as palavras com a empolgação de uma criança adotando um filhote.
— Você o que? como assim? meu Deus!
— Pois é, foi o que eu disse. Lowis me trouxe, ai aqui é tudo lindo, eu nem sei como reagir a tudo, e toda hora tem uma mulher passando com bebidas chiques, queria já estar bêbada.
— Clair riu. — Eu apostaria que já está.
— Infelizmente não. Mas a vista é maravilhosa, me faz esquecer um pouco de tanto álcool disponível. — falei dando mais uma análise em tudo e sorrindo, porque realmente era um lugar sensacional.

Ficamos mais uns vinte minutos conversando. Contei sobre minha mudança, meu emprego, ela contou sobre a separação dos seus pais e como lidava com isso, contou também que planeja ir com o Gregg pro Japão na lua de mel, e nem sabem quando vão casar mas é um bom começo. Assim que desliguei Lowis chegou até mim, sentando do meu lado, só de short, eu fingi não me importar no quando seus músculos me deixavam perplexa.

— Aí está você.
abri um sorriso, e mudei a direção do olhar. — Estou adorando o clima.
— Que tal uma piscina?
— Ah, não sei eu...

Antes que eu terminasse ele me pegou no colo, me jogando em seu ombro como um saco de batatas e pulou na piscina que estava a poucos metros de nós.

— Você não fez isso. — falei assim que levantei da água e tirei os meus cabelos dos olhos.
— Fiz. — ele jogou um pouco de água em mim, que no mesmo estante fiz o mesmo.

Passamos o resto da tarde aproveitando cada parte do cruzeiro. Depois da piscina fomos pra um spa. Fiz minhas unhas e o cabelo enquanto ele ficou o tempo todo em uma hidromassagem. Quando já era umas cinco horas, a gente foi para a sala de jogos. Aquilo parecia mais um cassino em Vegas de tão chique. Vários homens com idade avançada apostavam milhões, enquanto outro pareciam mais interessados nas mulheres com os peitos quase de fora oferecendo drinques. Éramos  como duas crianças ali. Mas nada nos impediu de curtir muito, até porque gastamos uma boa grana em apostas com outros adolescentes que encontramos em uma mesa afastada.

Ao voltar pro nosso quarto, ele sorriu me vendo contar o dinheiro que ganhei no final da aposta.

— Caramba, que sorte!
— É. — sorri pra ele.
— O que vai fazer com isso?
— Gastar atoa, é claro.
— Mulheres. — ele deu de ombro.
— Carrie? — ele se aproximou arrumando meu cabelo que estava bagunçado devido toda a diversão da tarde, e continuou. — Obrigado por ter vindo.
Abaixei os olhos sem saber o que dizer.
— É, sério, nem acredito que você está aqui, estou tão feliz, há dias não me sentia assim.
— Eu também.
— Você também o que? está feliz ou há dias não se sentia assim?
— Sim para as duas últimas perguntas. — pisquei pra ele. — vou tomar um banho.
— Ah, espera? — ele pegou minha mão.
— Hum?
— Aceita jantar comigo?
— Como assim? — eu ri. — claro, viemos juntos, vamos comer juntos.
— Acho que é um pouco mais que isso. Eu reservei um jantar pra gente, em um restaurante italiano aqui no navio, é algo meio formal, tipo um encontro.
— Aah. — levei alguns segundos para processar. — certo.
— Te espero as 9.
— Espera, onde você vai?
— Me arrumar, preciso de um terno, essas coisas, te encontro lá. — ele beijou meu rosto de sumiu da minha vista.

Maldição! lembrei que não tinha nenhum vestido pra ocasião, nem se quer eu tinha arrumado minha mala. E nove horas era muito tarde, analisei.

Abri a mala e a revirei toda. Nada de encontrar algo que me fizesse sentir bem, até porque experimentei algumas peças.

Como ainda estava cedo demais pra me preocupar com isso, afinal, eu usaria alguma calça rasgada e tênis, o de sempre, ele nunca se importou, fui ver tv.

Quando eram umas sete horas escutei alguém batendo na porta.

— Sim? — abri a porta e era uma mulher bem vestida, com uma saia longa bege e uma fina blusa azul.
— Carrie?
— Sim. — repeti.
— Me pediram pra te entregar isso. — ela me deu uma sacola preta, com um enorme nome prada escrito, quase soltei um grito, mas seria totalmente sem noção.
— Obrigada. — Fechei a porta rapidamente e fui correndo ver o que estava dentro do embrulho.

Quando vi o objeto fiquei boquiaberta. Era um vestido preto, completamente encantador, eu provavelmente fiquei longos minutos  admirando-o.
Sua manga era fina e na altura dos ombros, com um decote grande mas mesmo assim formal, e o seu comprimento ia até o joelho, de um jeito espetacular e chique. Nas costas uma boa quantidade era aberto, com apenas dois fios cruzados deixando elegante, e quando parei de olhar, notei que um pequeno papel havia caído no chão.

"Da última vez que usou vermelho você me xingou, optei pela sua cor preferida, vai que dá sorte.  bjs Lowis"

Eu sorri do sarcasmo e da gentileza dele, e fui correndo me arrumar, precisava de um longo banho de banheira e pétalas de rosas, afinal, eu tinha mesmo que aproveitar.