A D E U S

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— Querida, está aí? Carrie... acorda.
— O que foi. — Levantei impaciente.
— Tem um telefonema pra você.
— Já vou descer.

Subindo as escadas, meu pai veio em direção com o telefone na mão.
— É a Meredith.
— Meredith? — Fiquei curiosa.

— Oi?
— Carrie, é você? espero que esteja bem.
— Estou. Você quer falar comigo?
— Aconteceu algo horrível, e eu preciso avisar você, devido a aproximação que tinha dele e...
— O que aconteceu?
— Sinto muito Carrie.
— Meredith, o que houve?
— Nós encontramos Pieter  morto essa manhã. Ele estava...

O telefone escorregou da minha mão, caindo no chão e fazendo um barulho. Barulho a qual eu não escutei devido o choque em que eu estava.

— Não. não. não...não ele não morreu.
— Carrie, o que foi? — Meu pai veio mais perto de mim.
— Ele não morreu pai.
— Querida, calma. Me conte o que houve.
— Ele está vivo. Ele não morreu. — Gritei.
— Vem cá. — Meu pai me abraçou, enquanto eu chorava em soluços.
— Ele está vivo. Pieter está vivo, ele está me esperando, amanhã eu vou visitar ele. Pai, ele está vivo, não está?
— Filha...  — Meu pai apenas passou a mão sobre meus cabelos sem entender o que estava acontecendo.

Saí dos braços do meu pai e corri para o quarto. Me joguei na cama, e chorei o suficiente para deixar meu travesseiro totalmente encharcado.

— Pieter, o que você fez? — Eu chorava descontroladamente.

Não. não. não.
Minha cabeça parecia querer explodir na maioria do tempo, e a um nível de dor interna, a qual eu nunca imaginei que fosse possível existir.

— Carrie? Meredith está aqui.
— Escutei socos na porta do meu quarto.

Desci novamente as escadas e dessa vez com os olhos vermelhos e cabelos bagunçados.

— Saía daqui, ele não está morto!
— Você precisa se acalmar.
— Pai, tira essa mulher daqui.
— Carrie, ela veio conversar com você.
— Ele não morreu.  — Eu sentei no sofá, e coloquei as duas mãos no rosto, tentando impedir as lágrimas de deixarem minha casa um oceano.
— Tudo bem. Pode chorar. — Meredith me abraçou. — Eu vim até aqui, porque o enterro será hoje, e eu tenho certeza que ele gostaria que estivesse lá, você era muito importante Carrie.
— Saia da minha casa, ele está vivo, saia daqui. — Agora eu estava em pé totalmente sem controle.
— Trás algum calmante pra ela por favor. — Ela pediu para o meu pai que em um reflexo foi até a cozinha.
— O que aconteceu? — Falei em soluços.
— Suicídio. Eu sinto muito.
— A culpa é minha. — Toneladas de culpa caíram sobre mim.
— Não pode se culpar, foi uma escolha dele.
— Eu deveria ter ficado lá, ele precisava de mim, eu fui embora. Eu o matei.

— Rápido. — Meredith disse ao meu pai, que abria todas gavetas da cozinha. 

— Não preciso.
Joguei o copo de água com açúcar no chão. — Eu preciso ficar sozinha, só isso.
— O enterro será as 3h00.  — Meredith se levantou e foi conversar com meu pai.

Eu voltei rapidamente para o meu quarto e subi para o telhado. Não era possível. Não podia ser verdade, ele não havia tirado a própria vida, o que aconteceu? o que eu deveria ter feito? por que ele não me disse que precisava de ajuda?

Chorei sem consolo por muitos minutos, até que caiu a fixa e eu fui procurar o que vestir. Revirei todo o meu guarda-roupas a procura de uma roupa preta.

Pieter me desculpas.

Minha mente não deixava de me culpar. Eu deveria ter ficado. Ele me amava, e ao contrário do Lowis, ele não me abandonaria.
O que foi que eu fiz?

Três horas chegaram mais rápido do que eu imaginei, e me vestindo para ocasião, peguei um táxi. Meu pai insistiu em me levar, mas eu precisava agora mais do que nunca, estar sozinha. Chorei o caminho inteiro, e quando cheguei no cemitério, tive a certeza de que não era apenas um pesadelo.

Desci com o buquê de flores que eu havia comprado. Rosas vermelhas. O símbolo do dia que nos conhecemos. Caminhei até Meredith, e como eu havia imaginado, só tinha nós duas.

O padre perguntou se viria mais alguém, e juntas, dissemos que não. Era uma tarde fria. O vento vinha do leste, e balançava todas as árvores que estavam por perto, deixando meu coração cada vez mais inquieto.

O vazio dentro de mim, era inexplicável, seja qual fora os motivos, ele havia matado a nós dois.

Meu cabelo também voava para os lados, e minhas lágrimas nunca cessavam. Todas as palavras que o padre dizia, parecia estar sendo ditas distantes, como um eco. Eu fechava os olhos de vez em quando, em uma expectativa de acordar.

— Podem se despedir. — O padre fechou a bíblia, e a abraçou.

Meredith se aproximou do caixão e deixou um buquê de gira sois. — Você está em um lugar melhor agora. — Ela se afastou e acenou com a cabeça para mim.

Com as pernas quase sem movimento consegui me aproximar. Ficando de joelhos perto do túmulo, coloquei levemente o buquê.
— Eu sinto muito Pieter, eu sinto mesmo.

Naquela tarde, eu sofri por dois funerais. Porque eu sabia, que dentro de mim, algo morrera junto com ele.

— Eu deveria ter dito antes o quanto eu tive medo de nunca mais ver você. Fazem apenas horas desde que você está aí dentro. — Eu olhei para o caixão fechado, e uma lágrima caiu sobre ele. — E eu já me sinto quebrada. Eu não sei se consigo enfrentar a vida sem você, eu iria te visitar, você sabe. Eu prometi. Por que você fez isso?  Pieter, por que?

— Senhorita, não pode chegar muito perto.
— Você não entende não é? eu o perdi pra sempre.
— Sinto muito. Temos que prosseguir o enterro, pode ser afastar por favor?
— Só mais um pouco.
— Não temos mais tempo. Tenho outro funeral daqui meia hora.
— Você fala como se fosse uma bobagem.
— É o nosso destino afinal.
— Vai á merda.
— Que Deus tenha piedade de você, tão nova e com esse desrespeito à um padre.
— Ao contrário das mocinhas, as meninas más, dizem o que querem.
Me lavantei. — Pieter, eu amo você.
— Com licença, precisamos fechar a cova.
Dois homens de preto chegaram e começaram a jogar terra.

— Não, não. — Eu soquei os dois homens e Meredith foi para me segurar.

— Não. Não pode deixar ele aí dentro.
— Carrie, ele está morto.
— Me solta. — Ele segurava com mais forças meus dois braços.
— Nãoooooo. Meredith não deixem fazer isso por favor.
Gritei quando eu vi mais terras sendo jogas.
— Nãooooo. — Minha voz agora falhava.

— Senhora, tire ela daqui.
— Pieteeeeeeeer.

Gritei, mesmo sendo arrastada. Eu não fui forte o suficiente pra dizer adeus. Meus átomos pareciam não reagir, eu estava sem forças até para respirar.

— Eu vou levar você pra casa. — Meredith me abraçou.
— Eu não quero ir pra casa. — Chorei em seu ombro.

Ela me colocou no banco do carona e ligou o carro. Quando chegamos, desci imediatamente e corri para o quarto, eu não sabia quantas pilulas iria encontrar, mas eu precisava acabar com aquela dor. Eu precisava tirar de mim toda agonia de viver.

Quando abri a gaveta para encontrar alguns remédios, avistei a carta. A carta de Pieter para mim.

Deitei na cama abraçando a mesma, e chorei pelo resto da tarde. Eu estava com medo de abrir, eu me sentia mais que culpada, eu estava sem equilíbrio, eu estava sem ele, o que estava naquele papel, seria uma despedida?

Assim que a noite chegou e a lua com seu brilho mágico saiu, eu subi para o telhado, e criei coragem para ler o que ele tinha a me dizer. Apesar da dor infinita consegui abrir o papel que ja estava pouco amassado em minha mão.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora