C A D Ê V O C Ê?

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— Você também acha Carrie?
— Ouve uma pausa. — Carrie? Carrie?

— Ah, Oi? Acho.
— Você está bem? parece distraída.
— Estou.  — Falei devagar e coloquei minha cabeça sobre meu braço, que apoiava na mesa pelo cotovelo.

Greggory e Clair tinha ido me visitar aquela manhã. Eles estavam sentados e se levantaram juntos no momento em que eu cheguei, mas fizeram expressões de desgosto quando sacaram meu olhar com decepção.

O motivo era tão claro quanto centenas de luzes acesas, eu estava esperando por Lowis desde o primeiro segundo que me deixaram alí. É óbvio que eu queria ver meu irmão e a única colega que eu tinha, mas não era ele, e isso me deixou inquieta.

— Você fez alguns amigos?
— Clair perguntou e depois olhou para Gregg, como se já tivessem programado tudo o que iriam perguntar.
— Não tive tempo pra isso. Fiquei muito ocupada chorando.
— Eu sinto muito por ter que ficar aqui uns dias.  — Gregg apertou a mão da Clair e se olharam de canto.
— Pelo menos alguém da família sente.
— Não diz isso. Papai está triste por ter que deixar você aqui.
— Gregg, não vem com essa, eu sei muito bem o quão rude ele agiu perante toda à situação.
— Foi para o seu próprio bem.

Me levantei, colocando as duas mãos sobre a mesa e falei com uma tonalidade forte:
— Cara, as minhas colegas de quarto são psicopatas.

Ouve um silêncio múltiplo.
Clair olhou para uma aranha que subia na parede ao lado e se encolheu nos braços do namorado.

— Obrigado, por terem vindo. Diga ao papai que eu mandei um... Enorme beijo. — Falei como se estivesse usando toda a cota de deboche diário.

Me levantei e abri a porta.

— Mas ainda faltam dez minutos.
— A gente gasta semana que vem.  — Tentei um forçar sorriso.
— Esqueci de dizer, semana que vem eu e a Clair vamos pra Califórnia, a mamãe ligou e está super empolgada pra conhece-la.
— Ah, claro que está. — Fingi uma alegria, para não desaponta-los ainda mais.

— Carrie, nós estamos organizando um baile de inverno, quando sair podemos ir juntas alugar o seu vestido.
— Clair disse pelo vão da porta e sorriu na tentativa de me empolgar.
— Não vejo a hora.  — Ergui as sombrancelhas e acenei com as mãos.

Assim que eles se viraram eu desabei.

O barulho da porta batendo ecoou até muito longe, e eu corri até o campus outra vez. Era o meu lugar de uma possível paz.

Eu sentei em uma grama macia que ainda tinha cheiro de orvalho e deixei que saíssem todas as lágrimas que eu estive segurando.

Há uns cem metros de mim Avril estava sozinha em um balanço antigo que parecia estar pronto para ser jogado fora. Na minha esquerda, Pieter continuava deitado na sombra da árvore em que estávamos e percebeu quando eu olhava em direção. Ele me chamou com um  balanço de mão, porém mostrei dedo.

Alguns dos outros jovens corriam atrás de uma bola quase mucha e riam desesperadamente. Eu tentei imaginar se uns dias depois eu estaria alí, rindo, sem preocupações. Procurei saber se conseguiria me encaixar, mas em uma conversa com meus pensamentos, as repostas eram frias e sólidas.

Funcionárias do local com uniformes brancos passeavam entre nós, e cada uma delas que passavam por mim, pareciam querer chorar comigo. Eu me sentia inútil, e afoguei minhas mãos no rosto.

***

Quanto eu era mais nova minha mãe costumava tirar fotos enquanto eu chorava. Segundo ela, meus olhos ressaltavam a beleza, e trazia uma cor deslumbrante. Em algumas das fotos eu chorava e ria ao mesmo tempo. Ela dizia que no seu próximo salário, compraria um álbum só pra mim, que já viria escrito, "Carrie chorando" e deixaria eu guarda-lo para quando eu estivesse jovem e muito feliz, iria rir ao ver cada uma das fotografias.

— Eu chamei você.
— Eu vi.
— E me ignorou.
— Corrigindo, mostrei dedo, depois ignorei.
— Você não deveria estar chorando.
— E quem é que consegue ser forte por muito tempo?
— Eu.
— Parabéns, tome seu prêmio nobel. —Joguei um galho seco nele.
— Obrigada. Ele pegou o mesmo o guardou no bolso da sua jaqueta.

Uma nuvem escura se formou sobre nós e ambos olhamos pra cima, devido a sombra tão repentina.

— Vai chover.
— Ainda bem.
— Está com calor? — Pieter perguntou olhando ainda pra cima.
— É que eu gosto da chuva.
— Eu também. Eu costumava ficar tomando chocolate quente e vendo desenho.
— A minha mãe não me deixava ver desenho por muito tempo. Ela dizia que os filhos que ficam horas e horas na frente da tevê tendem a ser mais lerdos. — Sorri quando terminei de falar, e notei que as lágrimas haviam acabado.
— Deve ser por isso que eu sempre tirei zero em matemática.
— Eu odeio matemática.
— Quem não?

Nós rimos juntos e alguns pingos de água começaram a cair do céu.

— A gente precisa entrar.
— Você não disse que gosta da chuva?
— Ele ergueu as sombrancelhas como se fosse um desafio.
— Sim, mas não quis dizer que quero pegar um resfriado.
— Certo, vem cá.

Pieter se levantou e pediu que eu fizesse o mesmo. Andamos em direção à uma árvore mais distante, e a chuva começava a ficar mais forte.

— Suba.
— O que? está maluco, eu não vou subir aí.
— Ah fala sério, você parece uma criança mimada.  — Ele me olhou com desafio mais uma vez e eu quis intimida-lo.

Coloquei a mão em um tronco da árvore e depois joguei minha perna e meu corpo até um lugar de mais apoio. Quando reparei ele ja estava mais acima de mim.

— Aqui. — Ele estendeu a mão para que eu pegasse.
— Obrigada.  — Pisquei satisfeita ao encontrar um galho perto do seu braço estendido e deixa-lo desapontado.

— Uau.
— Eu que fiz.
— Nossa.

Assim que olhei pra cima vi uma linda casa de árvore. Eu fiquei impressionada por nunca ter pensado naquilo antes mas, no momento eu só queria explora-la.

— A gente pode entrar?
— Claro, é minha.

Eu sorri outra vez, por ser uma menina de dezessete anos subindo em uma árvore com um garoto que eu sabia apenas o nome. Era peculiar, mas engraçado.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora