D E Z E M B R O

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Faltavam três semanas pro natal e Jenna já procurava os enfeites.
— Eu tinha certeza que estava aqui. — Ela afirmava enquanto fuçava uma caixa velha de sapato, na sala.  — Você não viu Carrie? a árvore?
— Árvore? ah hã. — Eu estava na cozinha tomando café. Por volta das dez e meia eu iria encontrar com Clair no parque e iríamos almoçar juntas. Eu tinha certeza de que, Greggory havia dito pra ela tentar me tirar na "dreprê" mas ela jurou que queria mesmo bater um papo, e experimentar barbatanas de tubarão.

— Se você encontrar, me avisa.
— Oi? — Eu estava subindo as escadas quando Jenna me chamou a atenção.
— A árvore.
— Ah, ok.

Fui para o meu quarto escutar música, e embora o som tivesse alto, meus pensamentos ainda conseguiam  escapar, e ir direto para Lowis. Eu tentava evitar a todo custo, mas as falas iam e vinham na minha cabeça, e eu me sentia fraca. Fraca por não conseguir simplesmente seguir em frente.

Por sorte, logo chegou a hora de me arrumar pro almoço, acabei me animando um pouco. Tomei um banho e pus um vestido cinza, com coturnos marrom. Não usei maquiagem, mas deixei meu cabelo solto pra não ser tão casual.

Caminhei até o parque e lá estava ela, usando um vestido de malha também e uma sapatilha, fiquei mais confortável. Seria terrível se ela usasse algo chique e quisesse ir comer em um lugar caro.
Fomos pra restaurante ótimo. Eu não me lembro o nome, mas a comida realmente me surpreendeu, e o atendimento foi rápido, o que sempre fora um milagre na cidade.

— Caramba, isso é muito bom. — Clair engoliu de uma vez a tal barbatana.
— Uh. — fiz uma careta.
— Você deveria experimentar. — ela empurrou o prato para o meu lado.
— Nem ferrando. — devolvi.
— Garanto que está melhor do que esse macarrão a molho branco.
— Duvido muito.
— Carrie? — Ela limpou a boca com um guarda napos. — você vai ao baile de despedida?
— Pra passar vergonha quando a diretora não ler meu nome na lista dos aprovados?
— Ela riu. — Também.
— Não. — Ri um pouco.
— Queria que você fosse pra me fazer companhia, Gregg disse que vai estar viajando.
— Ah não, ja tive minha experiência no baile de inverno, e sinceramente, não to afim de uma segunda dose.
— Amiga, aquele dia você ainda era apaixonada pelo Lowis, agora vamos ir pra curtir.
Eu mudei a expressão, e ela percebeu.
— Espera? vai me dizer que... ai meu Deus. Você ainda gosta dele?
— Gostar é uma palavra forte, eu meio que ainda penso nele.
— E porque não me contou? ele vive perguntando de você no colégio.
— Ele pergunta?
— O tempo inteiro, eu fico até estressada.
— E porque não disse?
— Ela respirou mais fundo. — Você pediu pra eu ficar fora disso. — Disse desviando o olhar.
— Ah é. — Reconheci.
— Porque não diz pra ele.
— O que?
— Que ainda pensa nele, e que isso te incomoda.
— Não me incomoda. Só é questão de tempo. — menti.
— Questão de tempo pra você ficar trancada no quarto, arrependida?
— Ei, respeita meu cotidiano. — Disse rindo. Ela riu também.
— Ainda bem que você é sarcástica, se não, ninguém iria aturar você.
— Está me chamando de chata?
— Mais ou menos. — ela sorriu. — só um pouquinho.
— Tudo bem, eu sempre soube que só fala comigo por causa do meu irmão.
— Eu não sabia que tinha um irmão quando eu te seguia igual idiota pela escola.
— Eu ri. — Droga, verdade, me desculpa.
— Relaxa. Quer ir comprar vestido comigo pra festa comigo?
— Eu ja disse que não vou.
— Eu sei, mas o vestido quem vai comprar sou eu, você só vai opinar. —Nós pedimos a conta e saímos.
O taxi parou na quinta avenida, e começamos a entrar em todas lojas que víamos pela frente.

— Eu vou ali fora fumar um pouco.
— Me levantei de um pequeno banco que ficava na sala dos provadores.
— Fala sério, deixa isso pra outra hora.
— Clair falou alto, do provador, onde ja estava tentando gostar do quinto vestido.
— Já volto. — gritei de volta.

Sai de dentro da loja e fui para um banco que tinha logo do outro lado da rua. Acendi um cigarro e fiquei observando os carros passarem.
Eu já não sentia mais nada. Era tudo um enorme vácuo. Eu sentia que nada mais fazia sentido. Eu já não me sentia triste, mas isso não quer dizer que eu estava feliz, eu só estava neutra, e mais nada. Ali olhando os carros e os enormes prédios, eu me sentia em paz, era diferente do teto do meu quarto, o que tinha sido minha única vista, por longos meses. Eu estava me sentindo uma pequena cápsula no universo. E nada mais me importava no momento, nada nem ninguém. Quando o cigarro apagou, eu joguei no chão e pisei em cima, exatamente como fazem em filmes. Não senti vontade de voltar para loja, e então permaneci ali, como um grande nada flutuando.

Algumas pessoas do restaurante que eu estava mais cedo, não imaginaria como eu me sentia aquela hora. Ninguém podia imaginar. Até mesmo Clair, que me via rir enquanto batíamos um papo.
É que as pessoas não entendem que, existem dias que a gente só quer chorar ou desaparecer, mas nem por isso andamos por aí fazendo o mesmo. A gente ri, a gente brinca, porque uma pessoa com depressão, consegue facilmente parecer instável mas isso é quase uma máscara, é uma mentira que tentamos passar, porque enquanto a gente ri e finge que está tudo bem, o nosso âmago continua destruído, e quem é que consegue entender?

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