C O L É G I O

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Queria ter algo mais interessante sobre minha vida pra poder contar, tipo aquelas histórias que deixa qualquer um com olhos ansiosos e queixo caído, mas sou apenas uma adolescente problemática. Meu nome é Carrie, tenho 17 anos e moro em New York. Mas ao contrário de outros adolescentes, você não me encontrará no Central Park nem no Star Burks da quinta avenida. Eu prefiro curtir o meu caos sozinha.
Moro com meu pai e a Jenna, a madrasta. Ela não é má como no filme Cinderela, mas não somos uma família grandiosa. Ela me irrita na maioria das vezes, e embora eu quase não fale com as pessoas da minha própria casa, ela consegue me tirar do sério com suas exigências medíocres. Certo dia, ela me obrigou a dize-la pra onde eu ira, porque já passava das dez da noite, mas apenas dei de ombros.
Minha mãe mora em New Port com o Tom, um roqueiro de roupas bregas. Greggory, meu irmão mais velho, mora com eles. Eles estão pouco se lixando pra mim, só mandam cartão de natal e às vezes lembram de datas importantes, por exemplo, no meu último aniversário minha mãe me mandou uma câmera. Eu adorei, embora não tenha demonstrado o suficiente. Desde então me apaixonei por fotografias, eu sempre me encantei com o jeito que elas são congeladas e gravam aquele momento único por um longo tempo. Na parede do meu quarto eu guardava algumas já reveladas, junto há alguns posters de banda que era uma das poucas coisas que me alegrava a vista.

Eu sempre gostei do meu quarto, sempre me sentia no meu próprio universo dentro dele. Às vezes até literalmente por causa de alguns adesivos do teto que brilhavam. Eu lembro de ter comprado em um camelô quando era mais nova e me impressionava ainda causar aquele efeito todo. Quando me deitava reparava especialmente na lua. Era cheia, e as estrelas ao lado foram coladas em forma de círculos realçando ainda mais o efeito galáxia.
Eu não tive amigos para apreciar tudo isso mas lembro da reação do meu irmão a primeira vez que passou uma semana com a gente em NY.

— Como você colou lá em cima? — Gregg perguntou olhando curioso.
— Escada.
— Eu teria caído.
— Com certeza você teria.

Minha mãe foi pra Orange County quando conheceu o Tom. Foi logo após algumas consultas sobre minha doença.
Foi horrível escutar aquelas palavra; "você tem depressão nível máximo ". Foi difícil aceitar, ainda mais porque eu sabia que há dias eu não era a mesma. Eu estava fria, egoísta, e quase não suportava minha existência, era algo tóxico.
Minha mãe se mudou meses depois do ocorrido, achando que eu já estivesse boa o suficiente pra enfrentar isso sozinha. Queria eu estar.

***

Eram 11h45 da noite quando eu observava as ruas sentada no telhado. Era meu lugar preferido. Eu tinha acesso até ele pela janela, e passava a maior parte da noite lá. Eu estava usando meus fones e meu moletom mais antigo que cheirava já velho.
A primeira semana de fevereiro havia chegado e junto à ela muito frio e dias chuvosos. Mas não estava chovendo naquela noite, pelo menos não lá fora, já dentro de mim, era uma enorme tempestade. As folhas caídas na rua voavam pra longe e as que ainda permaneciam nas árvores estavam prestes a desaparecer com a freqüência em que o vento aumentava e eu não conseguia parar de chorar.
Meus pulsos estavam machucados, mas a dor era mais do que isso, consumia-me por completa. No dia seguinte eu teria que ir a escola, teria uma longa semana pela frente e isso me assustava. A ansiedade fôra desde então minha pior inimiga. Eu estava anestesiada, no mesmo tempo que eu sentia tudo, já não sentia mais nada e pensei não ser possível dormir, mas consegui duas horas depois de ir pra cama e rolar de um lado para o outro.

Acordei por um despertador de barulho irritante.
Quase sem ânimo levantei e comecei a me arrumar. Naquela manhã eu coloquei uma calça jeans preta rasgada nos joelhos e uma camisa masculina cinza. Peguei meu moletom e pus na bolsa em caso de emergência devido a época fria.
Quando desci as escadas e fui preparar meu café me deparei com meu pai lendo o jornal que ainda cheirava à sereno.

— Bom dia. — Ele disse tomando um chá de hortelã que de longe me embrulhou o estômago.
— Bom dia.
— Está animada? É o seu primeiro dia, hein?
— É. — Falei sem entusiasmo.

Esquentei o café e o coloquei em uma caneca térmica que eu tinha desde os onze anos e mesmo assim achava distante o dia que iria dispor dela.
Saí pela porta e fui até o ponto de ônibus mais próximo, que felizmente era só alguns metros à frente.
A escola não ficava tão longe, nem tão perto, era razoável, mas acabei chegando mais rápido do que queria. Os portões estavam abertos mas era preciso perdir licença se quisesse atravessar para dentro. Alunos de todos os tipos estavam alí, e como eu havia imaginado, milhares de olhares voltados à mim. Passei pelo primeiro corredor, e segui em direção ao próximo. Eu estava odiando tudo aquilo, e minha primeira ideia de fuga foi um cigarro.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora