P E R T O D E M A I S

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— Eu ainda não tomei banho.
— Pieter me olhou safado, e eu sorri de canto.
— Esperto, mas essa não cola.
— Eu acho que você também precisa de um banho.  — Ele continuou me olhando.
— Como ousa dizer que meu cheiro está desagradável?
— Pra mim, você continua cheirosa, mas um banho é relaxante.
— E você só diz isso porque está preso à mim.
— Acredite, de qualquer forma eu iria desejar nosso banho juntos.

Um luz solar quase fraca adentrava o local por uma enorme janela, enquanto Pieter eu estavamos cada vez mais próximos, até mesmo no sentido literal.

Nossos braços encostados no outro para que nosso pulso não machucasse, e os olhares se encontrando a cada segundo.

Sentados em um sofá empoeirado, a gente trocava gostos e conhecimentos.

— Um lugar que sonha conhecer?
Ele me perguntou, atencioso.
— Grécia.
— Grécia?
— Sim, eu sempre quis ir à Mykonos, o lugar é poético.
— Interessante. Eu quero ir à Turquía.
— Ah, deixa eu adivinhar, são os balões não são?
— Na verdade as montanhas. Eu sempre gostei de altura.
— Eu também. Nunca me senti tão bem, como me sinto no telhado.
— Pensei que só em filmes as gorotas subiam no telhado pra chorar.
Ele riu e olhou pra baixo.
— Eu daria uma ótima atriz deprimida.
— Lily Collins que se cuide.
— Rá rá, pensei que não soubesse quem fosse ela.
— Até os garotos depressivos pesquisam "atrizes sexy" no google, dá pra acreditar?

Nos rimos, e ele balançou a cabeça.
— Se eu tivesse acesso a internet agora, iria pesquisar porque eu quero tanto beijar você.
— Talvez porque não pode.
— Não posso? — Ele perguntou chegando mais perto.
— Quanto tempo a gente precisa ficar aqui? — Mudei de assunto.
— Espero que a noite toda.
— Você está dando em cima de mim de novo?
— Desculpas, é meio que inevitável. Mas eu nao sou ele, não é... Digo, não sou páreo a ele, eu sei, é que você me faz querer isso, querer você.
— Não vamos falar dele, ok?
— Certo, desculpas.
— Não é isso, na verdade não me sinto instável.
— Muito cedo, compreendo.
— Você é tão maduro, eu não apostaria nisso, aquela noite.
— A noite em que nos conhecemos?
— Sim.
— Você foi fofa com aquela carinha desapontada, quando eu te ignorava.
— Você é um idiota, não precisava daquilo.
— É assim que eu faço pra conquistar alguém. Começo fingir desinteresse.
— E funciona?
— Me diz você.

Eu fiquei quieta, não tinha bem o que responder. Nós estávamos perto demais pra uma conversa tão realista.

O fim da tarde acabou e a noite surgiu. As infinitas estrelas deixava o céu esplêndido.

— Escureu rápido. — Eu disse olhando pelo único acesso que tínhamos da luz do dia.
— Dizem que a hora passa mais rápido quando fazemos algo realmente interessante.
— Eu sempre achei isso.
— Está dizendo que gostou de desperdiçar o tempo comigo?
— Foi um adorável desperdício.
— Sorri pra ele, que estava me olhando feliz.

A nossa volta, havia duas camas de solteiro. Uma distante da outra. Foi preciso muitos esforços para deixá-las o mais próximo possível.

Havia um criado mudo no canto do enorme vazio do salão e nos resolvemos colocá-lo no meio das camas, pra guardar alguns de nossos objetos.

— Isso funciona? — Apontei para um velho rádio e me sentei na cama.
Pieter, como no dia inteiro, sentou ao meu lado, sem mais opções. A idéia da algemas estava ficando meio cansativa.
— Aposto que não.

Eu levei o dedo indicador no botão maior do aparelho fazendo ligar imediatamente. — Quem diria!
— Pelo menos temos músicas.
— Ele se levantou, me arrastando junto.

O som emitia ruídos rápidos de uma música eletrônica e nós ficamos simplesmente parados, sem movimento algum. Seria um pouco constrangedor tentar se soltar em uma situação daquelas e nós optamos por apenas sorrir.
— Vamos lá, se solte.
— Eu só danço sozinha no banho, então... sem chance.

Ele passou a mão que estava livre, no meu cabelo, e pelo descuido do destino, uma música romantica e lenta, começou.

Não, não.
Lembrei doque acontecia em momentos assim, nos filmes clichês aque eu amava assistir.

— Ah, meu Deus, porque você tem que ser tão linda?
– Ele me puxou para perto e encostou os nossos corpos.
— Eu não sei dançar. — Admiti tentando mudar os passos.
— A gente inventa nossa própria dança. Não há regra. Somos duas pessoas presas em um enorme quarto, afinal.
— Ok.  — Falei baixo e me deitei no seu ombro.

Nossas mãos que estavam algemadas, se entrelaçaram, e as outras, ele envolveu minha cintura, enquanto eu aproveitei para envolver seu pescoço.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora