H A L L O W E E N

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Em outra vida talvez eu teria usado aquela roupa de enfermeira, mas naquela noite resolvi pôr algo que eu realmente gostaria de usar.

Convenci Clair pesquisar alguns tutoriais no youtube e fazer uma maquiagem macabra. Ela desenhou uma boca enorme preenchendo boa parte das minhas bochechas e encheu-a de dentes. Comprei uma lente toda preta que tampava não só a pupila mas todo o resto, e por fim vesti roupas pretas, seguidas por sapato da mesma cor.

Quando me olhei no espelho, dei até passos para trás, eu estava realmente estranha, pra mim um elogio, mas não era isso o que as outras pessoas iram achar.

Se me olhassem de soslaio jamais diriam ser eu. Achei interessante o quão incrível era a  lente preta, no momento prometi que usaria outras vezes.

Toda maquiagem e look podia não combinar com a Carrie que eu vinha tentando ser, mas o que eu jamais pretendia era esquecer totalmente quem eu já havia sido.

— Caramba, ficou... tão assustador.
— Clair sentou na cama com cuidado, devido o mini vestido de policial.
— Principalmente se eu for a única assim, diferente.
— Ainda pode vestir a outra roupa se quiser.
— E ir parecendo uma prostituta?
— Reparei que Clair olhou para sua própria roupa e continuei: — Desculpa, eu não quiser dizer que você esteja assim, só acho que não é o meu tipo, sabe?
— Ela riu. — Tudo bem.

— A gente vai se atrasar.
— A voz de Greggory ecoou pelo vão da porta.

Olhei outra vez para o espelho, peguei meu celular e nós descemos.

Meu pai e a Jenna ficaram espantados ao me ver, porém meu pai assumiu que, qualquer roupa que eu usasse seria melhor do que àquela fantasia escandalosa.

Entramos no carro e Clair tomou a direção.

— Não sabia que dirigia. — Admiti.
— Greggory me ensinou.
— Ai meu Deus, essa é a sua segunda vez?
— Quase isso.
— Não precisamos de fantasia se formos fantasmas de verdade. — Greg brincou.
— E por isso você pediu que ela trouxesse a gente? inteligente.
— Eles riram e mudaram de assunto.

Eu fiquei olhando pela janela durante o trajeto, e agora a cidade estava clara e mais parecida com um conto de fadas. Várias luzes em cada área, abóboras espalhadas pelos cantos de todas as ruas, e várias crianças atravessando a faixa de pedestre desesperadas, como se tivessem apostado quem pegasse mais doces.

— É aqui.  — Clair estanciou o carro.
— Aqui?
— Abri a porta e desci. — Eu pensei que fosse no salão da escola, algo do tipo.
— Eu também. — Gregg admitiu.
— Aqui é a casa do Daniel, todo ano tem festa de Halloween, na escola é um saco.
— Então quer dizer que está tendo outra festa? e a gente veio de intrometido em uma? legal.
— Acredite em mim, desejaria estar morta se estivesse na escola, é um saco. As bebidas geralmente estão quentes e os doces nem são bons.
— Ok.

A entrada da casa estava decorada, uma decoração nada profissional, mas fiquei surpreendida quando Clair abriu a porta.

Nunca imaginaria que em uma casa comum caberia tantas pessoas, é claro que tinha gente até pendurada na escada, mas mesmo assim, estava repleto de jovens usando roupas ecléticas.

Assim que eu entrei todos olharam pra mim, os que não olharam estavam ocupados demais com o copo ou com os namorados (a), mas a maioria fez expressões diferentes, como se eu fosse inaceitável alí, mas ninguém saberia que era eu, resolvi fingir ser outra pessoa, o que já fazia semanas que eu praticava.

Notei que todas as meninas estavam vestidas vulgarmente, e lembrei da quantidade de vezes que Clair insistiu pra que eu colocasse a droga de fantasia. A minha esquerda, um grupo de amigos vampirescos tomavam vodka e jogavam baralho, do outro lado, meninas beijavam um só menino que a essa altura se achava o dono da festa. Logo a minha frente Clair e Greggory sumiram na multidão, e mais uma vez, eu estava sozinha. Mas eu não iria deixar isso estragar minha noite, fui até a cozinha, achei um copo e comecei encher de uma bebida transparente. Eu não sabia o nome do álcool mas resolvi tomar pela porcentagem. 67% de álcool. Deduzi que me deixaria feliz em segundos, então, de repente, levei o copo até a boca, quando ia tomar, escuto barulhos de uma porta se abrindo. Dei um gole e comecei a observar.
Um casal saiu de fininho, como se pedisse aos deuses o dono da casa não aparecer, e saber que eles haviam invadido um quarto para fazer sexo, e quando começo a notar melhor, percebi que os conhecia.

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