D E S C O B E R T A

112 11 0
                                    

— Seu pai continua obcecado pelo trabalho? — Ela deu uma risada preocupada.
A senhora, me cumprimentou gentilmente com um balanço de cabeça depois voltou a atenção para Lowis.
— Sua namorada é linda, esperto você hein.
— Ela dava tapas de leve no ombro dele.

Ele me parecia anestesiado, e passava a mão no cabelo a cada segundo.

— Quem é ela? — Perguntei em sussuros.
— Ah, que cabeça oca a minha. Não nos apresentamos.
A senhora era simpática e sempre com um sorriso enorme.

— Carrie.
Estendi a mão para que ela pegasse.
— Courtney.
— Muito prazer. — Abri um sorriso gentil, e ela passou a mão no meu cabelo.

— Lowis nunca me falou de você. Mas deveria, você é tão linda. Seus olhos são azuis mesmo querida?
Courtney arrumava o óculos.
— Obrigada. Sim, azuis de nascença.
— É a sua primeira vez aqui?
— Sim, como sabe?
Coloquei uma mão no bolso, curiosa.
— É que eu nunca te vi antes, Lowis está sempre sozinho.
— O quê?
— Carrie, acho que a gente já pode ir. Lowis tentou interromper, e agora mais nervoso.
— Tá legal vou deixar os pombinhos subirem.
— Boa noite. — Lowis se despediu dela, à despaxando. Depois fingiu um sorriso e se virou me puxando, como se àquela mulher fosse uma delegada com todas as suas fixas criminais.
— Espere. — Ela nos chamou, e eu me virei imediatamente.
— Carrie né?
— Isso.
— Você veio conhecer o Sr Russel? Eu preciso te dar uma dica, compre torta, ele adora.
Ela deu uma piscadela, e me deixou sem entender.
— Senhor Russel? Pai do Lowis?
— Sim, torta de frang...
— Mas o que ele estaria fazendo aqui?
Ela riu, e olhou para o Lowis, como se eu tivesse fazendo uma piada.
— Ele mora aqui, trabalha aqui, aonde mais ele estaria?
Ela deu umas risadinhas e saiu.

Eu engoli seco e arrgalei os olhos. Lowis olhou para mim e depois abaixou a cabeça.

— Lowis, o que está acontecendo?
— Eu... — Eu..
— Tá legal. Não diga nada. Me deixe aqui feito uma idiota sem entender, até chegar outra mulher e me dizer que você é casado e tem três filhos.
— Me desculpe.  — Ele me olhou com pena.
— Aquela senhora te conhece? O que não está me dizendo? Seu pai mora aqui? Droga, que confusão.
— Olha, eu não fui sincero você.
— Caramba, estava demorando. — Dei um cansativo ruspiro e balancei a cabeça.

— Eu moro aqui.
Ele disse por fim.
— O quê?
— Meu pai, ele...  — Lowis passou a mão no cabelo, e notou que agora eu o escutava atenciosa, porém algo em meus olhos transmitia raiva. — Ele é dono de uns apartamentos aqui.

Eu soltei uma risada alta, mas voltei a ficar séria em três segundos.
— Ah, entendi.
— É sério.
— Tá legal. — Eu levantei meu olhar e assenti.

— Me desculpe, eu deveria ter dito.
— Você acha? — me virei ficando de costas para ele e comecei andar de volta para as escadas.
— Espera. — Ele veio logo atrás de mim.
— Esperar você pra que Lowis? Pra dizer que há vinte e dois dias que me conhece não pôde citar isso, aaaaah é um mínimo detalhe né. Puxa, até os dias eu contei. Você ficou com medo é? De eu casar com você e fugir com seu dinheiro?
— Carrie! Calma. — Agora ele me seguia pelos corredores enquanto eu ía em direção á saída.
— Calma? Você subiu escadas comigo, sabendo que poderia estar em qualquer elevador, tudo isso pra não dizer que é milionário? Você acha que eu quero isso? Seus bens? você me viu pagar mico na portaria, dizendo que morava aqui, e não fez nada! Não me contou que você é dono dessa merda.
— Me desculpa. — Ele pegou na minha mão, e quando eu me virei, lágrimas estavam escorrendo.
— Não, Lowis. Você deveria ter dito.

Cheguei até a porta e olhando pelos vidros percebi que lá fora chovia forte.

— Carrie?
— Não.
— Eu só não queria que me visse com esses olhos.
— Que olhos? Os olhos de quem está apaixonada por um menino rico, que me beijou há algumas horas atrás, que passou quase um mês sendo gentil comigo, que pegou um metrô comigo, foi sua primeira vez não foi? e ainda me levou em uma lanchonete que provavelmente nunca tinha pisado antes, mas nunca comentou que morava no maior prédio da cidade por medo de eu ter algum interesse, é isso?

Abri a porta e saí andando.
— Você vai se molhar. — Ele gritou e eu fingi não escutar. Passei pela porta e a chuva começou a cair na minha pele como uma grande onda enfurecida, até meus cabelos ficarem totalmente molhados.

— Ei.
Olhei para trás, e ele estava vindo em minha direção, todo molhado também.
— Eu já entendi. — Gritei, quando ele se aproximava.
— Não, você não entendeu.
— Sim. Nós somos de mundos diferentes e seria uma catástrofe se me contasse que seu pai pode comprar minha casa e dar de presente para o seu cachorrinho de estimação.
Usei o sarcasmo e andei com passos rápidos.
— Eu gosto de você, e sinto muito por isso. — Ele pegou em meu braço me fazendo parar.
— Sente é? e por que não me contou?
— Eu não sei.
— Não sabe?
— Medo talvez.
— De eu te sequestrar e pedir um apartamento em troca?
— Carrie, não é sobre isso. Eu só queria uma namorada que gostasse mesmo de mim, não do meu dinheiro.
— Ah, então quando viu a "coitadinha" excluída da turma, pensou que ela não estragaria um romance épico por dinheiro.
— Eu não disse isso.

A chuva estava forte. Nós estávamos ensopados e minhas lágrimas quase não eram notadas.

— Nada disso faz sentido. E quer saber? Foda-se. Eu não ligo.
— Eu não queria te deixar assim.
— Falhou miseravelmente.
Levantei uma mão chamando um taxi, logo apareceu, eu entrei e fui embora.

Outra pessoa teria lidado melhor com a situação, mas eu não. Eu só chorei e chorei.

Ele mentiu pra mim. Omitiu, ou tanto faz, mas ele ferrou com minha noite.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora