M I N H A C A S A

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Não quero entrar em detalhes e contar como foi meu natal e ano novo. Mas aqui está um spoiler: horrível. A festa de despedida eu perdi, mas por um grande milagre recebi um email da escola dizendo que eu tinha chances de terminar o colegial se fizesse umas provas. O que eu fiz.

Eu decidi que mudaria da casa do meu pai na próxima semana depois do réveillon. Eu realmente queria estar sozinha na minha própria paz, mas essa ideia pareceu idiota quando meu pai se pronunciou:

— Como vai pagar o aluguel?
— Vou arrumar um emprego.
— Um emprego? Carrie você não pode simplesmente sair por aí e achar que é independente.
— Pelo contrário do que vocês pensam, eu consigo lidar muito bem com as coisas sozinha.
— Você por acaso já viu algum apartamento?
— Sim, alguns. Mas não foram totalmente do meu agrado, vou fazer isso o resto do dia.
— Você que sabe.

Vocês sabem quando os pais dizem isso né? é meio que um não por enigma, ou um "depois não diga que eu não avisei".

Estávamos tomando um suco enquanto discutíamos isso. Jenna não opinou, o que foi ótimo. Eu sabia que meu pai achava uma má ideia, mas eu já estava ansiosa pra ter um lugar único de paz.

— Ok. — me levantei da cadeira e saí.

Entrei no quarto, vesti uma roupa mais social, depois de revirar todo o guarda roupas, e passei um leve batom nude. Quis parecer mais formal, seria mais fácil de arrumar um lugar pra morar. (Usei até um coque alto no cabelo)

Eu era apenas uma adolescente ferrada, querendo fugir de tudo, mas isso eu não disse para o corretor de imóveis.

— Eu adorei! — exclamei enquanto caminhava pela pequena cozinha.
— Nós oferecemos uma boa oferta de ano novo, e provavelmente você se hospitalizará do jeito que sempre quis. Podemos proporcionar até vistoria com proteção.
— Ãh hã. — fiz um aceno de cabeça.
Ele continuou. — Queremos que você tenha tranquilidade de não se preocupar com o aluguel, e por isso vamos cadastrar o seu cartão na empresa, e ainda podemos oferecer um mês de experiência. — Ele era gentil e falava devagar.
— Parece ótimo.
— Não se preocupe, nada de ligações importunas. — ele riu.
— certo.
— E então?
— O que? — fiz uma pausa enquanto ele me olhava empolgado. — ah sim, vou ficar.
— Por favor me acompanhe até o escritório.

Dei mais uma olhada de soslaio e o segui. Depois de assinar vários papéis, ele me entregou a chave.
Parecia um sonho segurar aquele pequeno objeto de metal.
— Muito obrigada.
— Disponha.

Peguei o elevador e depois um taxi. Cheguei em casa felicíssima.

— Consegui. — joguei a chave na mesa da sala.
Papai e Jenna a fitaram incrédulos.

— Você alugou um apartamento Carrie? com o que? — Jenna agora já queria participar.
— Sim. Não é tão longe daqui, posso vir passar os natais. — Usei ironia.
— O que sua mãe acha disso?

Fiz um silêncio.
— Não contou para sua mãe? — meu pai interferiu.
— Não achei que precisasse. Ela não parece tão interessada na minha vida, sabe?
— Mas ela continua sendo sua mãe.
— Tudo porque assinaram num papel quando eu nasci, se isso é ser mãe pra ela, ok ela é minha mãe.

Os deixei e subi para o quarto. Depois desci, e subi de novo. Desci mais uma vez. E assim foi o resto do meu dia, até escurecer, subindo e descendo escadas a procura de tudo que eu gostava e queria levar comigo, especialmente minha xícara de café favorita. O apartamento já era mobiliado para minha paz, até porque dinheiro pra móveis eu não tinha de jeito nenhum.

Peguei algumas caixas no sótão, e embalei todas minhas coisas, que nem eram tantas. Deixei algumas bagunças pra trás. Muitas bagunças, aliás, se formos analisar toda angústia que eu prometi ter jogado debaixo do tapete. Uma metáfora idiota que eu rezava pra fazer sentido.

Quando comecei descer as escadas trazendo as malas Greggory e Clair estavam chegando de não sei aonde.

— Uau parece que alguém vai curtir Venice Beach. — Clair sorriu pra mim.
— Oi pessoal, estou finalmente indo embora. — eu disse casualmente.
— Como assim indo embora?
Eles disseram em coral e sentaram no sofá.
— Arrumei um lugar pra morar.
— Você perdeu a noção? eu sou seu irmão mais velho e tenho direto de não apoiar isso.

— Olha só, é o meu táxi.
apontei para a porta e saí.

— Pai, o que aconteceu? — escutei ele perguntar.
— Você não conhece sua irmã? o que a gente pode fazer?
— Sei lá, impedir?
— Deixa ela, aposto que daqui uma semana ela fica sem grana e volta. (eu escutei isso, e como podem imaginar, prometi que nunca voltaria morar ali, preferia vender churros se fosse necessário )

— Pai, é da sua filha adolescente que estamos falando!
— Eu sei Gregg, eu sei! mas acontece que até hoje ninguém nunca conseguiu ajudar quem não quer ajuda. Se é isso que ela quer, vamos deixa-la. Se eu não consegui convencer, a vida convence, e de um jeito pior.
— Ela ainda está doente, não podemos... não podemos deixar que ela se cuide sozinha.
— Eu sei garoto. — Greg contou que aquele dia, papai o abraçou e choraram. Jenna e Clair se olharam mas também não souberam o que fazer.

Eu estava feliz. Mais do que eu imaginei que estaria o dia que fosse finalmente ter meu próprio teto.

O segurança do prédio me ajudou com as malas e depois de andar pelos cômodos e me jogar no sofá, fiz torradas e um chá.

Eu não tinha muito dinheiro da última economia ou mesada, e sabia que tinha que economizar o máximo, e então decidi que no dia seguinte, eu iria procurar um emprego.

Ah e o mais importante eu já ia esquecer de dizer: meu pequeno apartamento repleto de bagunça, não era tão longe do cemitério. Óbvio que por opção minha. Eu havia analisado todos imóveis daquele bairro, era importante pra mim estar longe de tudo, mas perto de Pieter.

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