H O S P I T A L

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— Tem certeza que gostou?

Meu pai insistia ao me ver analisando o presente que Jenna havia trago de viagem.

— Sim, da hora. — Menti

Eu estava muito intrigada com aquilo, era uma bolsa com listras e ainda havia brilhos ridículos.

Eles haviam chegado de viagem em média de duas horas e Jenna estava no banho enquanto meu pai tirava as malas do carro. Estava tudo tranquilo até eu receber aquele embrulho amarelo com um laço rosa. Sem dúvidas era alguma gracinha da "madrasta boazinha", ela sempre soubera do meu ódio mortal por rosa e amarelo.

Depois de ouvir meu pai dizer no quanto adorou o passeio de lancha e o quanto a família dela gosta dele, fui tomar um café. Meu dia havia sido cheio, e nem acabara.

***

6 horas antes...

— Oi, como está se sentindo?

Escutei vagamente a voz do Lowis e reparei com os olhos entre abertos que ele se levantou de uma cadeira e veio mais perto.
Segundos depois abri mais os olhos e percebi que estava em um hospital. Olhei para cima, havia soro em minha veia, agulha e esparadrapo.

Lowis agora segurava minha mão e tentava falar comigo. Eu estava sonolenta, é assim que a gente fica depois de desmaiar, e infelizmente houve outras vezes.

— Logo você já pode ir pra casa, e nós vamos passar no Burger King antes, aposto que ficou assim porque recusou as batatas. — Ele dizia tentando me animar.

— OK. — Respondi pouco baixo forçando um sorriso.

Foi maravilhoso acordar e ele estar alí comigo, preocupado. Nunca pensei que alguém teria medo de me perder. Mas eu estava preocupada no que ele achava de tudo isso, se já tinha desconfiado de algo, da doença ou de toda minha bagunça de vida.
Ele continuava com as mãos às minhas, mas estávamos em silêncio.

Eu me sentia segura com suas mãos nas minhas, o mundo não era mais tão perigoso, o medo diminuía e eu consegui ficar melhor.

— Como que ela está? — Lowis perguntava a uma enfermeira sobre mim quando a viu entrando na sala hospitalar e checando minha pulsação.
— Muito melhor.
— Então ela pode ir pra casa? — Perguntou ele animado.
— Acredito que sim.
— Maravilha.

— Sou a Dr Sandy, e vou buscar uns papéis pra você preencher antes de sair, a sua namorada só precisa de repouso.
— Ela não é mi...
— Você pode me ajudar? — a enfermeira o interrompeu enquanto me colocava sentada.

— Está na hora de ir querida. — Sandy disse retirando o soro.
—  Não quero voltar pra escola. — Falei em sussuros.
Ambos riram.
— Você vai comer algo e depois vai pra minha casa. — Lowis falava e me ajudava levantar.

Ele me ajudou chegar até o carro e abriu a porta.
—  Obrigada.
—  OK. — Ele concordou tentando colocar meu sinto de segurança.
— Eu consigo.

Ele foi até a outra porta ligou o automóvel e nos guiou à uma lanchonete.
— Você precisa de... — Depois de uma pausa olhando o cardápio disse por fim. — Sushi
— Eca.
— Tá brincando? Não gosta? — Ele dizia e agia como se nada tivesse acontecido mais cedo.
— Vamos pra casa.
— É brincadeira sobre o sushi.
—  Eu sei. Mas tô sem fome agora. Se importa de irmos? — Perguntei ainda pensativa, mas mostrei um sorriso pela piada.
—  Eu te levo pra minha, meus pais querem conhecer você mesmo.
— Eles sabem sobre mim?
—  Sim.

Eu fiquei pasma. Ele falava sobre mim, sobre nós. O que eu era realmente? Uma melhor amiga? Afinal, nunca havíamos ao menos se beijado.

— Outro dia. Pode me levar pra minha casa? — Pedi e ele entendeu que eu estava confusa em relação à tudo.
— Certo.

A distância era razoável e logo chegamos.
Minha atenção foi voltada ao carro estacionado. Meu pai havia chegado, óbvio.

— Eles chegaram. — Mostrei o carro e as janelas da casa abertas.
— Pelo menos não vai ficar sozinha.
— Eu gosto de ficar sozinha.
— Mas todo jeito não iria estar sozinha, se eles não estivessem aqui, eu faria torradas pra gente.

Aquelas palavras soaram doce e gentis, e eu só queria beija-lo.
A essa altura ele já havia esquecido a crise no colégio eu deduzi e fui em direção à ele, mais próximo possível, e pelo meu medo só abracei-o. E ele beijou minha testa, o que me fez passar a noite melhor.

— Se cuida. — Ele pediu analisando meu estado.
— Tá bom.
— Esse são os papéis, e aqui está... Ele procurou por alguns segundos algo pelo carro. — Seu remédio. — Finalizou.
— Obrigada.
—  Receita está ai, é só ler e... — Ah você sabe o que fazer.
— Sei sim, obrigada Lowis, mais uma vez.

Percebi que fora a primeira vez que usara o nome dele.

— Qualquer coisa me liga.
— Até amanhã. — Despedi e saí do carro.

O que mais me chamou a atenção, havia sido a maneira que ele cuidara de mim. A preocupação, o zelo. Eu fiquei completamente feliz e grata.

Entrei pela porta e logo vi meu pai vendo TV e tomando cerveja.

— Oi Carrie. — Ele disse levantando.
— Oi.
— Que cara é essa, parece que acabou de acordar de um desmaio. — Ele disse sarcástico e me abraçando.
— Literalmente.
— Que? — Ele fez expressão de não saber o sentido da palavra que saíram da minha boca.

A cozinha estava bagunçada, provavelmente eles haviam chegado a pouco tempo e pedido pizzas.

— Querida volta aqui. — Meu pai me chamava quando eu já subia o terceiro degrau da escada.

—  Aconteceu alguma coisa? — Perguntei desanimada.
— Tharaaaaan. Ele me mostrou um presente todo empolgado. — Foi a Jenna que escolheu, acho que vai adorar.

Só pode ser brincadeira. — Pensei observando as cores do embrulho.

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