Q U E S E D A N E

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Lowis ficou em silêncio por longos segundos, e passou a mão no cabelo com expressão séria.

— Sabe que eu nunca quis fazer isso com você, não é? — Havia uma solenidade em sua voz.
— E quais eram suas intenções? mandar um bilhete dizendo que a Katy está atraente demais nesses últimos dias?
— Não. Claro que não. Eu nunca a achei atraente, não como você.
— Isso explica estar namorando ela.
— Não é nada pessoal, eu só não...
— Ah já sei, a famosa frase dramática "não é você, sou eu".
— Caramba, por que você tem que ser tão rude? deixa eu tentar explicar.
— Eu ri ironicamente. — Rude? você me mostra o paraíso, faz centenas de promessas, e depois some e a única coisa que achou que eu merecesse foi um, espero que me perdoe eu te amo. Ah, por favor, não tente consertar todo estrago que você fez, pode levar anos.

Eu me levantei.

Era um péssimo local e uma péssima hora, mas não tínhamos outras conversas além de brigas, ele me devia explicações. Ele parecia sincero me olhando e tentando expressar o que sentia, mas eu estava decidida a deixá-lo no passado, seja qual fosse a historinha que ele quisesse me dizer sobre o abandono.

— E o Pieter? vocês não eram um casal? por que quer me julgar? não sou o único errado nesse "conto de fadas". — Ele usou uma tonalidade diferente na voz, ao terminar a frase, e me seguiu.

Eu estava em passos rápidos, mas me virei.

— Não. Não éramos um casal, eu gostaria que tivéssemos sido, mas acontece Lowis, que até quem acaba de me conhecer sabe que eu carrego sentimentos fortes comigo, ele soube de você tão de repente, parecia que eu estava tatuada com o seu nome, tem noção do estrago que você fez com a minha vida? — Eu falei rápido e quase sem pausa e sem ao menos perceber, uma lágrima escorreu.

— Foi o seu pai.
— Ele disse alto, e de repente.
— O que tem o pai?
— Quando você foi... ele me pediu pra te deixar.
— O que? — Fiquei pálida — Meu pai?
— É, ele tentou te ajudar.
— E você simplesmente deixou? simples assim? — Agora eu já chorava com intensidade.
— Foi uma ordem, ele disse que se eu amasse mesmo você, eu a deixaria, eu sumiria da sua vida. Ele me convenceu de que você precisava ficar bem antes de viver uma história de amor, ele exigiu que eu não pudesse te ver outra vez. Quando você me ligou, meu coração ficou desesperado, eu queria te contar que, nem que fosse em outra vida eu cumpriria minha promessa, eu só não pude.

Nos olhos dele lágrimas também saíram, enquanto eu estava boquiaberto com toda situação. Ouvir aquilo me deixou arrasada, meu pai fez um pedido tão inútil, e ferrou tudo. Querendo me proteger, querendo proteger a filhinha dele, mas eu não era a garotinha que ele pensava que fosse.

— Você acha que eu não quis ir ver você? eu passa o dia todo imaginando se você estaria bem, se estava pensando em mim.
— Ele veio chegando mais perto, e falando rápido. — Eu não sou nenhum príncipe encantado, mas também não sou o monstro que você criou em seu subcontinente.
— Eu nem sei o que dizer, está tudo tão confuso.
— Falei olhando para o vento soprando as árvores.
— Eu tentei te proteger de mim, mas acabei sendo sua ruína. Acho que te ver dizendo que ama outro cara e trazer rosas pra ele todos os dias, será a minha sina.
— Você deveria ter dito! sobre meu pai, sobre isso, deveria. Eu não teria odiado você, mas agora, tem algo maior impedindo de querer te abraçar imediatamente, e eu não sei o que é.

Ele veio até mim e me abraçou.

— Estranho, por que eu quero te abraçar desde a hora que você chegou. — Me perdoe. — Ele depositou um beijo no meu rosto e o silêncio apareceu.

Eu afastei do abraço e caminhei até o carro, ele fez o mesmo.
— Pode me levar pra casa? se eu for a pé posso me jogar na frente de um carro.
— Achei que tivesse parado de dizer essas coisas, a escola não funcionou?
— Não era uma escola.
— O Hospício.
— Tá legal, pode chamar de escola.

Era interessante estarmos começando um diálogo diferente, além de brigas, ainda mais saindo de um cemitério, depois de ter ido visitar pessoas que amamos, mas acho que só tínhamos decido que a vida nos leva de qual jeito.

Ele riu.

— Eu admiro muito sua bipolaridade.
— Foda-se.
— Tá vendo? é linda.
— Obrigada.
— Tô elogiando seu jeito bipolar, não você.
— Desde quando sabe dar patadas? Katy te fez um livrinho?
— Rivirei os olhos. Ele ficou sério imediatamente.
— Não quero falar dela.
— Mas porque, ela é sua namorada, qual o problema?
— Não é bem assim.
— Não?
— Vamos falar disso outra hora?
— Não quero, aliás, pode me deixar aqui mesmo. — Apontei o dedo pra fora da janela.
— Aqui?
— Sim, é melhor meu pai não nos ver juntos.
— Tem razão.
— Engraçado, ontem mesmo ele falou de você, pensei que ele gostasse da gente como um casal.
— Era o que eu pensava.
— Se nem você gosta porque ele iria gostar. — Ri com irônia e saí do carro.

Lowis disse algumas coisas mas não fiz questão de escutar, apenas andei, sem olhar para trás, desejando ardentemente chegar em casa e xingar o meu pai, o que eu não fiz. Não valia minha gastrite nervosa, era passado, e eu estava disposta a recomeçar. Que se dane Lowis com a Katy, escolhas do meu pai, e toda essa merda, disse pra mim mesma e acendi um cigarro enquanto atravessava a rua.

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