85

1.2K 73 7
                                    

— Você? ... (digo indignada com sua cara de pau depois de tudo que falamos uma para a outra ela ainda ir me procurar)

— Eu fiquei sabendo de tudo que aconteceu com você depois da nossa conversa, e vim ver como você está filha.

— Não me chama de filha! (viro o rosto)

— Mas você é minha filha, por mais que diga ao contrário, que diga que não aceita, você é minha filha amada, eu prefiro morrer do que te ver me odiando. Tenta entender meu lado, já te contei toda minha história, expliquei a minha situação, só te peço que pense muito bem em tudo que conversamos e não me odeie, não odeia a sua super Madá, eu te amo tanto meu amor e me arrependo amargamente de tudo que fui capaz de fazer algum dia.

– Me dá um tempo, pra pensar, pra tentar digerir essa história toda, com calma. O médico acabou de dizer que não posso ficar tendo fortes emoções e que minha gravidez é de risco. Assim que tudo se esclarecer aqui dentro eu te procuro. (coloco as mãos no coração e na cabeça)

– Está bem, fica com Deus minha princesa, só não esquece por nada nesse mundo que eu te amo. (sorri e vai embora)

Alguns minutos depois Felippo chega com uma sacola do Mc Donald's. Finalmente.

– O que aconteceu meu amor?

– A Madalena que acabou de sair daqui.

– E o que ela queria?

– Saber como eu estava. Disse que ficou sabendo o que aconteceu comigo. E veio toda preocupada.

– Normal ela se preocupar, afinal você querendo ou não ela é sua mãe.

– Ela me disse a mesma coisa. Mas eu preciso pensar, colocar minhas ideias no lugar e tomar a decisão se a perdoo ou não. Mas eu não consigo imaginar minha vida sem a Madá, eu a amo, sempre a vi como uma mãe, essa história agora só veio apenas para comprovar uma coisa que todos já sabiam.

– Pois então, se você a ama, porque não a perdoa?

– Pela sua mentira Felippo, quer dizer... ela e o papai esconderam de mim uma coisa tão séria como essa por vinte anos. Não dá pra simplesmente passar uma borracha e esquecer da noite pro dia.

– Você tem razão, mas acha que ela quis fazer isso, acha que se ela pudesse não teria ficado com você meu amor, uma mãe nunca quer abandonar um filho. Pelo menos tenta se colocar no lugar dela e ver com seus próprios olhos a dor que ela deve ter sentido, agora que você também vai ser mãe. Sei que você não quer conversar sobre esse assunto, mas você tem que pensar no que vai fazer.

– Tabom, prometo me colocar no lugar dela, e pensar muito, agora vamos mudar de assunto..

....


Miguel Albuquerque

Já não tinha ânimo para mais nada, depois daquele dia que assinamos os papéis do divórcio, a vida para mim já não tem graça, não quero sair de casa, ver pessoas, trabalhar, me divertir, nem mesmo ver minha família, por mim, passo o dia todo dentro desse quarto, deitado nessa cama, longe de tudo e todos.

Sinto.

Eu sei que tenho uma vida, pessoas e coisas que precisam de mim lá fora como meu filho, meu pai, minha irmã, as minhas lojas. Mas infelizmente a gente não manda em nossos sentimentos, e ações. Fui fraco, deixei a porta aberta e a depressão entrou sem pedir licença. Invadindo todo meu subconsciente e fazendo morada dentro de mim, apossando-se e tomando minhas forças e motivações, matando meus sonhos e sentimentos, se alimentando dos meus medos e me fazendo prisioneiro de mim mesmo. Era como se todas as pessoas, coisas, casas, carros, ruas, avenidas, sinalizações, enfim... tudo, do mundo desaparecessem em um passe de mágica, um piscar de olhos, restando apenas eu, sozinho e triste e tudo começasse a ficar escuro e frio. Sem absolutamente ninguém para me ajudar.

Eu choro, choro mas ninguém vê.
Eu grito, grito mas ninguém ouve.
Eu estou destruído por
dentro, mas ninguém percebe.
Eu peço ajuda, em silêncio, porque
eu sei que ninguém pode me ajudar.

Já estou a três dias aqui, trancado dentro do meu apartamento, do meu quarto, apenas me levantando da cama pra tomar banho, fazer minhas necessidades íntimas e beber alguma coisa, longe de todo mundo, off-line da vida social. Somente eu, algumas garrafas de bebida e minhas inúmeras lembranças de um Miguel que não volta mais.

Deixei meu filho aos cuidados da minha família e de uma babá dizendo que precisaria viajar, sem muitas explicações. E a loja aos cuidados do Renato, que na minha ausência, tenho certeza de que faria um ótimo trabalho.

Toc, toc...

– Miguel, abre a porta e me deixa tentar te ajudar?! Eu sei que você está aí dentro, e não vou sair daqui enquanto não abrir essa porta! (diz Gabi com sua voz doce, autoritária e preocupada)

– O que você quer Gabriela? Para de encher o saco caralho.. (digo bêbado caído ao lado da porta, sem camisa, sem tomar banho, com um bafo horrível de cachaça e somente de calça)

– Abre a porta, eu quero te ajudar.

– Eu não preciso da ajuda de ninguém, eu estou muito bem assim.

– Eu sei que você precisa de ajuda, já faz três dias que você sumiu, não dá nenhum sinal de vida, não responde minhas mensagens, ligações, etc... abre a porta.

– Eu não vou abrir. (as palavras tropeçam umas nas outras)

– Se você não abrir, eu peço o porteiro a cópia das chaves, ou caso contrário mando um próprio chaveiro vir aqui abrir.

(destranco a porta)

– Mas você é chata demais hein! (faço careta para ela e caio no sofá com o litro de whiskey já no fim nas mãos)

– Miguel! Que estado deplorável, você está... vem, eu vou te ajudar a tomar um banho gelado agora.

– Você só quer me ver pelado não é mesmo... (gargalha) Eu não sou mais criancinha pra que me deem banho, sei tomar muito bem sozinho.

– Eu sei... Vamos!

O ajudo a apoiar-se em mim, e subimos para o banheiro. Retiro sua calça que estava suja, e coloco ele sentado no chão mesmo, ligando em seguida a água extremamente gelada na sua cabeça. Dizem que é ótimo para curar ressaca. (sorrio pensando alto)

– Puta que pariu Gabriela, essa água está gelada... (digo um pouco mais alerta)

– Sim, é bom pra te acordar e retirar essa cachaça que está em você. Vai conseguir tomar banho sozinho mesmo, ou vou ter que me prestar a esse papel.

– Diz como se não fosse gostar não é mesmo... (me olha incrédulo e depois me puxa, me fazendo cair no chão também debaixo do chuveiro)

– Realmente, essa água está muito fria.

– Eu te disse! (gargalhamos e ficamos nos encarando por alguns segundos)

– Bom, acho que você não vai precisar da minha ajuda para tomar seu banho. Então eu vou arrumar outra coisa...

– Está bem... (ele diz tímido e eu me levanto do chão, saindo do banheiro)

Gabi: Depois que ele termina o banho e se troca, eu arrumo o quarto e em seguida se deita caindo no sono. O observo dormindo e pensando em como um cara tão legal poderia estar passando por tudo aquilo, e acabo percebendo nos seus braços algumas marcas. Observo de perto e comprovo infelizmente que Miguel estava se alto mutilando. Fiquei chocada, eu precisava e iria ajudá-lo de todas as maneiras a sair e superar essa depressão antes que ela chegasse ao estágio fatal.

Enquanto ele dormia eu vou arrumar as outras partes do apartamento. Não iria deixá-lo sozinho.


Oi meus amores, como vcs estão? 🍩💛

O MARIDO DA MINHA IRMÃOnde histórias criam vida. Descubra agora