Capítulo 1 - A Emma sumiu

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Patrick

Acordo às 06:00 da manhã. O quê acredito ser um pouco cedo... ainda que para mim. Olhei para o relógio por alguns minutos. Pensando em tentar dormir outra vez, mas, ao invés disso... me levanto. Tomo um longo banho, trato de minha higiene pessoal, e em seguida visto um roupão desses de hotel, branco e bem macio. Tão confortável que eu poderia sem dúvida ficar assim o resto do dia. Com meus pensamentos que atualmente, não andavam muito tranquilos. Até cogitei isso por algum tempo, olhando o telefone e pensando se deveria ou não pedir pelo serviço de quarto, no entanto, decidi ao menos tentar aproveitar o local onde estou, pois estarei de volta em casa daqui a uma semana e fala sério, é —Veneza. — Havia certo tempo que já não fazia viagem alguma, focado apenas em trabalho. E lá fora é realmente deslumbrante e tem muito a se fazer.
Lembre-se: "O intuito da viagem são as mudanças" ouço uma espécie de voz murmurar em tom de cobrança em minha atordoada mente. Assim sendo, desisto de ligar para pedir meus croissants e meu café, abro uma gaveta ao lado do espelho, e opto por uma calça jeans escura e uma camisa branca. Para por fim encontrar um bom lugar para comer. Sei que a Itália é famosa mundialmente pelas massas... mas, seria  também um ótimo lugar para tomar café? Vamos descobrir. Pego meu suéter azul de lã e o visto. Adicionalmente levo: minha jaqueta de couro marrom, um livro se preciso fosse (nunca se sabe quando se precisará de uma aventura, portanto, o livro) e finalmente, minha carteira. Fecho o quarto e saio.
É, eu fizera mesmo bem em trazer casaco pois apesar de estar um lindo dia de sol —20 graus— segundo o aplicativo no celular, o vento realmente está gelado. Sigo então em direção ao barco que nos leva a muitos lugares por aqui... o conhecido "Vaporetto". Não tinham muitas pessoas, acredito que pelo horário, mas de toda forma aparenta ser tranquilo. Estou por aqui a cerca de duas semanas, e apesar dos muitos turistas que vira, em nada se comparava com a grande agitação de Nova York, o que me tem sido um grande alívio. Chegando, avistei o que parecia ser um café... honestamente muito bonito. Como não tinha vindo aqui antes? "Caffè Del Doge" uma espécie de letreiro me indicava o nome do lugar. Assim que adentro percebo a grande variedade de opções... sento-me em uma mesa, peço alguns croissants e um "Café com Panna". Ele é muito comum por aqui, e depois de uma gentil atendente me recomendar bastante, decido que irei provar, e peço para viagem.

Ellen

São 06:45 de um sábado, e eu estou.. a c o r d a d a?!
Sim.
A algum tempo na verdade.
Ughh... repreendo-me ao pensar que poderia, assim como Chris e provavelmente os demais no hotel, estar em um sono profundo e relaxante, nesse enorme e confortável quarto. Mas não, não iria voltar a dormir, e um banho agora cairia bem, então, me levanto. Após todos os meus rituais matinais concluídos, sigo em uma busca desesperada por café. Até penso em pedir no quarto mas, eu deveria ver mais a vista, deveria conhecer pessoas e cardápios, deveria estar aqui por completo, já que logo estaria em casa. Está decidido, vou sair e pegar meu café em mãos.
Abro a janela milimetricamente e sinto uma forte corrente de vento me atingir, o que me faz pegar um suéter vermelho em lã e um jeans escuro. Pra fechar: uma jaqueta de camurça bege, meu all star azul marinho e voilà estou pronta. Passo rapidamente um corretivo para disfarçar o pouco que tenho dormido desde que cheguei... um protetor labial, o qual só reavivava o vermelho natural de meus lábios e arrumo meus cabelos, que agora se encontravam soltos e jogados em meu ombro. Pego a bolsa do dia anterior e só acrescento-lhe um livro qualquer caso precise (nunca se sabe) e o cartão da porta do quarto. O restante, como carteira, gloss e etc já estava ali.
Saio em silêncio, não quero —mesmo —acordar Chris.
☁️

No café (o melhor que pude encontrar aberto a esse horário) peço um Macchiato e alguns croissants, peço também que embalem para viagem e sigo em direção à cidade. Vou andar e "conhecer" esse lugar tão lindo. Já estive aqui... na verdade, já morei aqui a alguns anos atrás, não exatamente nessa parte da Itália... mas, tenho descendência italiana, e minha família por parte de pai arranha o idioma (inclusive eu) mas conhecer 𝑒𝑠𝑡𝑒𝑠 pontos tem sido novidade. Encontro-me agora em uma praça, que minutos depois ouço alguém comentar que se chama: "Piazza San Marco" a principal praça de Veneza. E uma coisa logo me desperta curiosidade... existe uma quantidade inumerável, —ao menos por mim— de pombos por aqui. E claro, algumas crianças brincando e aproveitando a  confusa presença deles. Prestava atenção vagamente nisso, quando ao longe avisto nesse meio uma menininha loira, de franjinha e leves cachinhos, seus olhos honestamente travavam uma batalha entre o verde e o azul e sem decidir qual prevalecer, existe um misto de cores em seu olhar que mesmo daqui é possível se ver. Sua pele é mesmo muito branca e seu semblante parece tão triste e amedrontado. Ela chorava em total desespero, era como se estivesse perdida e procura-se por alguém, qualquer um que a ajuda-se, e, eu não poderia simplesmente ignorar sua aflição... por tanto, vou até ela.

Patrick

Estou em retirada do café, quando vejo brilhar em cima da mesa o visor do meu celular. Jillian.
Minha esposa.
Atendo. Mesmo meio à contra gosto.
- Jill... - Digo calmamente e não ouço nada soar ao outro lado da linha.
- O quê hou...— sem que ao menos eu pudesse terminar a frase, percebo sua voz, —que parece segurar o choro,—  e sua respiração pesar... e sem mais delongas ela me diz entre gritos sufocados na garganta o que eu jamais quisera ouvir.
- PATRICK, cadê você? A Emma sumiu... — quando ouço aquilo sinto meu coração parar de bater por uns segundos... me falta o ar e posso jurar que sinto o mundo ao redor parar de girar.
- COMO ASSIM SUMIU JILLIAN? Do quê você está falando? Ela estava dormindo ao seu lado hoje cedo quando saí. Meu tom era mais alterado... eu sei... mas infelizmente era o único que eu conhecia nesse instante paralisante.
- Eu sei, eu... onde você está?!
Sinto-a mais preocupada com "onde estou" do que com o recente sumiço da nossa filha. Nossa menininha de apenas três anos.
Isso realmente me subira os nervos.
- JILLIAN... eu vim tomar café, só isso. Me diz como você perdeu a Emma ou o que diabos aconteceu quando eu deixei o quarto do hotel, por favor! 
- Ela estava comigo... - começa.                  
- Então, vi uma bolsa. Fui até a vitrine... sem dúvida minha mãe amaria "Paddy." E ela estava ali, estava brincando com os pombos. Eu disse para ela não sair dali. Eu disse. Estava tudo sob controle. Tudo era muito próximo. E ela estava na minha vista. Eu juro... eu só— ela não conseguia terminar a frase, devastada pelas lágrimas.
Tento me manter calmo, mas, acaba infelizmente sendo em vão.
- Jill, você deixou nossa filha de três anos —suspiro por um segundo— — SOZINHA em uma praça, cheia de gente, e isso sem contar que era um ambiente totalmente novo pra ela, — suspiro outra vez...— pra ver uma bolsa ou sabe Deus o quê? É isso?!
- Mas a minha mãe— ela começa e a interrompo. —
- Não envolva sua mãe nisso. Ela com certeza iria preferir a neta segura, você não acha?! — Aquilo tinha sido rude. Rude demais, e me senti mal na mesma hora. Mas, a verdade é que não pude me conter no momento. Era a minha filha, minha menininha. Meu bem mais precioso. —Jamais poderia perdê-la. —
E o único motivo pelo qual eu ainda me mantinha nesse casamento, meu único motivo de alegria a muito, muito tempo.
- Sim. - Diz simplesmente. 
- Me desculpe, Jill. Me perdoe. Mas, nós estamos perdendo tempo com isso tudo. Eu vou até você e vamos achá-la, eu prometo. Fique calma. Em que praça estão?— Digo de todo coração, tentando ser mais amigável desta vez. —
- Estamos, eu... eu estou na praça principal, sabe? Se cham...— e antes que ela pudesse concluir a frase. — Eu sei.
- 𝑃𝑖𝑎𝑧𝑧𝑎 𝑠𝑎𝑛 𝑀𝑎𝑟𝑐𝑜. Estou indo—
- Você conhece?
Me perguntou um tanto quanto alterada... mas nós sempre brigávamos por isso, esse ciúmes descabido foi o que nos desgastou para início de conversa... no entanto, por hora, temos problemas maiores. —
- Jill... pessoas da mesa ao meu lado no café estavam comentando. É um dos principais pontos turísticos daqui. É a praça principal, você mesma disse, pelo amor de Deus, agora não é a hora para isso.
Por fim, desligo. Minha prioridade sem dúvidas é a minha filha. Emma. —Depois de me informar um pouco com meu italiano nada bom e um sorriso fraco, acho o local e vou em direção à ele. Não era assim tão distante do café onde eu estava.
Graças a Deus.

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