Capítulo 9 - O quanto antes

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Ellen

Algumas horas depois, mais precisamente 11 horas e meia e enfim pousamos. Nem acredito que estamos aqui, parece que até o ar me soa mais fresco, eu realmente estava triste com muitas coisas mas, saber que eu ia ver a Cristina.. poder contar tudo à ela.. esse sentimento de poder confiar e me abrir, isso me aliviava o peito.
Perto do portão de desembarque, ao longe à vejo, a morena de cabelos cacheados ao vento, com um sorriso enorme, e seu jeitinho que eu tanto senti falta, somos amigas a anos, e sem ela não sei como seria minha vida.. honestamente, não sei mais viver sem ela.
- GATAAAAAAAAAA, você chegou! Eu a ouço dizer aos gritos e muita animação!
- Meu amoooooor, que saudades! Digo me aproximando para abraçá-la.
E um longo, LONGO abraço depois, estamos indo em direção à saída, Chris vira logo atrás, ainda em silêncio.
- Me conta tudo! Como foi? É bonito mesmo como nas fotos que vimos? O que vocês fizeram lá? Ela diz eufórica enquanto andávamos de braços entrelaçados.
- Nós.. bom, nós, nós fomos a um baile e— antes que eu terminasse, Chris se adianta vindo para nosso lado.. e depois nos passa dizendo; EU FUI A UM BAILE ELLEN, EU FUI. — Seu tom era rude, áspero, até grosseiro se me perguntar.
- Nossa, o quê houve? Estou vendo que o objetivo da viagem não foi devidamente concluído não é.. ela diz e me olha de uma maneira confusa e triste por mim.. e por toda aquela situação que ela já conhecia bem..
- É.. é complicado... digo simplesmente
- Mas eu quero te contar cada detalhe de tudo. Juro.. digo rápido demais
- E eu quero muito saber.. mesmo! Mas vamos começar por essa história de baile e essa hostilidade de Chris o que está havendo?! Perguntava confusa
- Podemos falar disso mais tarde? Eu preciso dormir um pouco.. essa troca de horários me deixou meio atordoada. Disse-a e apesar de ser verdade.. eu queria contar, eu só..não sabia como.. não sabia.. o quê..
- Claro que sim Ellie, depois você me conta tudo, você vai para a casa do Chris?
- Não, vamos para o nosso apartamento.. digo em prontidão.
- Ótimo! Você descansa, te ajudo com as malas, e depois bebemos uma taça de vinho enquanto colocamos tudo em dia.. pode ser?
- Uma garrafa. Digo e ela ri
- Uma garrafa. Repete ainda com seu melhor sorriso estampado.
- Perfeito! E assim seguimos para o táxi que nos levaria até em casa.

Patrick

Depois de quase 10 horas sentado em silêncio e ao mesmo tempo em um barulho constante formado por meus pensamentos, e vez ou outra por uma Emma enjoada e cansada, eis que chegamos. Eu realmente não aguentava mais estar naquele espaço tão pequeno com a Jill, ela mal me olhava e quando olhava parecia me lançar fogo pelos olhos, mas não vou julgá-la pois, eu também não estava mesmo com a feição mais amigável. Perto do desembarque, lá está... Mark Sloan! Graças a Deus! Meu melhor amigo de infância, a quem eu conto tudo, confio e de quem eu preciso agora. Espero que ele já se aproxime dizendo que tem algo inadiável na empresa para que eu não precise ir para casa agora, eu realmente quero descansar mas.. eu preciso contar a ele tudo que houve..
- ESSE É O HOMEM QUE EU QUERIA VER! Diz se aproximando aos gritos..o olho e rio alto
- SLOAN! nos abraçamos e eu o aguardo com alguma razão para pegarmos um táxi dali.. ou irmos no seu carro eu sei lá, só, irmos.
- Cara, sei que acabou de chegar, mas deixa eu te falar tem um assunto inadiável na empre— ele dizia quando Jill o interrompe. Como eu não previ isso?!
- NEM PENSAR MARK! Nem pensar Patrick! Ele vai pra casa comigo e a Emma! Acabou de chegar e não vai trabalhar agora! De forma alguma.
- Mas Jill— ele começa mas ela o interrompe.
- Sem mais! Sei que querem fofocar, mas amanhã vocês conversam.
- Cara, eu passo lá no flat mais tarde, pode ser? — Digo meio irritado.
- Claro cara! Vou estar lá, só me liga.. você sabe né, recebo muitas visitas. Ele diz com um olhar que eu já conheço bem.. Mark é muito mulherengo e, basicamente é nisso que consiste suas "visitas" quase que todas as vezes. O retruco revirando os olhos.. aceno e sigo com Jill e Em.

☁️
Já em casa, adentro ainda em puro silêncio, por quê raios ela me quer aqui?! Ela mal me olha. Não sei o que dizer sobre isso tudo. Eu não queria ter à traído, eu juro que não, e possivelmente vou me culpar o resto da vida, mas Ellen e eu somos um do outro, é loucura, é insano, mas é como me sinto.. e agora o mais decente que posso fazer é conversar com ela. Contar à ela tudo que houve.. mesmo sabendo que ela vai me odiar, e tentar me afastar da Em. Mas eu mereço, eu reconheço, eu me odeio por ter feito isso com ela.. ela não merecia, nem ela, nem nenhuma outra.. independente da situação, ninguém merece ser traído. Mas eu vou dizer a ela toda a verdade. E com esse pensamento predominante, me aproximo e a chamo;
- Jill— Jill?!
- Na cozinha Paddy.. ela diz e eu estranho, eu não consigo mais ouvir meu nome dessa forma, toda a culpa me consome como uma bola de neve.. mas, além da culpa também a saudade.
- Podemos conversar? Pergunto com um tom de voz leve.
- Podemos.. claro, por quê não poderíamos amor?! Ela diz debochada
- Eu só.. imaginei que você estivesse cansada.. digo meio baixo.
- Estou, mas para você?! Nunca! Ela diz em meio a risos.. e eu me sinto o mais sujo dos homens.. céus.. o que eu fiz?—
- Então Jill, eu preciso te contar uma coisa e— somos interrompidos pelo telefone.
(...)
- Claro, eu já estou indo! Ela diz rápido ao telefone.
- Podemos conversar depois? Eu realmente preciso resolver umas coisas de trabalho.. sinto muito.. ela diz rápido e me dá um beijo, o qual eu fecho os olhos em negação para não me afastar.
- Claro! Tenha um ótimo dia! Digo simpático e, confesso, frustrado.
- Você também amor! Ela diz mandando beijos com uma das mãos na boca e sai.
Depois de um tempo sem saber o que fazer.. ligo para Sloan, peço que ele venha até aqui pois a Emma está dormindo, devido à troca de horários ela realmente estava muito cansada, ficou acordada praticamente todo o voo, e não quero acorda-la ou tirá-la no frio. Ele logo concorda e diz que está a caminho.. abro uma cerveja, sento no sofá ainda com minha roupa do voo de algum tempo atrás e me pego pensando em Ellen por algum tempo, e quase posso senti-la, seu perfume está em mim.. e de repente a campainha toca.
- E aí irmão.. Diz um Mark animado.
- Jill saiu? Ri
- Sim! Foi resolver algo com trabalho ela não me disse em exato o quê. Digo meio querendo pular qualquer outro assunto..
- Quer uma? Digo apontando a cerveja em minha mão..
- Você vai precisar.. o que eu vou te contar é.. loucura. O digo e ele me olha desconfiado.. com o cenho franzido.
- Claro.. mas, me conta cara, como foi tudo por lá? Vocês se entenderam? O entrego a cerveja e me sento sem saber o que responder a ele.
- Cara.. eu não sei como te contar isso.. porque eu mesmo ainda não entendi direito, mas eu realmente quero te contar. Digo sério.
- O quê houve cara? Ele me olhava nervoso mas também, curioso.
- Nós não nos entendemos.. e nós não vamos. Pois eu estou apaixonado.. por outra mulher. Digo de uma vez e o vejo regalar os olhos e me olhar fixo virando um belo gole da cerveja.
- Você o quê? Quem? Meu Deus Patrick, como assim?—
- Cara.. eu a conheci em Veneza, na praça principal.. e quando a vi.. eu.. eu não sei, eu nunca senti isso antes, nunca em toda minha vida. Digo com meu tom mais honesto.
- Cara, mas essa mulher é de Veneza, um caso, certo?! Você vai largar seu casamento de anos, você tem uma família aqui Shep, você tem sua filha.
- Ela salvou minha filha! E ela não é um caso, acho até que a amo. Digo receoso e pensativo.
- Como?! Resolvo ignorar o que mais esse "como?!" poderia significar e respondo apenas sobre Em.
- Emma se perdeu da Jill, e em meio aquela praça cheia de turistas, estava ela, Ell.. ela cuidou da Emma quando a encontrou e depois daquilo.. aquele.. encontro.. onde mal trocamos meia dúzia de palavras, eu, eu achei que não a veria novamente e isso me consumiu por quase uma semana.. até que (...) faço uma pausa e respiro fundo.. como continuar?! Como contar que eu fui o que jamais imaginei que seria, o marido que trai a esposa. Inaceitável.
- Até que o que cara? Fala! Ele parecia alguém que acompanhara um capítulo de novela, estava muito ansioso e ouvia tudo atentamente.
- Até que teve esse baile beneficente do hotel onde estávamos e que por uma incrível coincidência ela estava também, com o tal namorado ou sei lá o que ele era dela.
- E? Fala cara. Seu olhar nervoso sobre mim... querendo saber o que de tão "uau" eu havia feito.
- E nós, nós, nos beijamos.. limito-me a dizer.
- E ela estava tão linda, aquele vestido destacando cada curva daquele corpo que eu— passo a mão rapidamente pelos cabelos. Estava cada vez mais perdido no que lhe dizer.
- Que você o quê? Vocês transaram? Ele me olhava ansiando a resposta.
- Não Sloan, nós não transamos. Digo firme. Mesmo sabendo que nós.. deixa pra lá.
- Mas estavam caminhando pra isso não é? Ele diz rindo malicioso. Esse cara parece adivinhar certas coisas, esses tipos de coisas. E ainda tem a vantagem de me conhecer muito bem.
- Cara, não importa o que fizemos. O que importa é que o pouco que fizemos me deixou louco, desejando ela o tempo todo. Mesmo quando durmo eu a quero, eu sonho com ela, eu a sinto comigo. E o que mais importa agora é, o que eu vou fazer? Eu tentei contar a Jill tudo hoje, mas ela teve que sair e acabei não tendo como falar, mas vou falar, vou me divorciar e mesmo que nunca mais a veja, mesmo que lute a minha vida toda para não perder a Emma, mesmo que passe a vida me desculpando com Jill, e mesmo que tenha que morrer com esse sentimento aqui, eu vou arriscar, eu nem ao menos sei seu sobrenome, onde mora.. mas eu não vou desistir. Passe o tempo que passar. Digo de uma vez e ele me olha feliz e aparentemente muito confuso.
- Cara, você sabe que pode contar comigo, tem todo meu apoio! Vai dar tudo certo! Vamos achá-lá! Ele diz e me abraça.
- Obrigado, eu sei! Mas, por quê mudou de opinião? Não parecia muito receptivo quando te contei.
- Eu sei, mas é que isso me pegou de surpresa, você apaixonado dessa forma, e ainda assumindo em alto e bom tom, cara isso é novidade você sabe, essa mulher tem algo mágico para conseguir isso de você, ela deve ser 'boa'. Ele diz e me olha rindo e com um olhar de quem sabe o está falando.
- Sloan! O repreendo fazendo uma careta.
- Desculpa.. ele diz ainda rindo e apoiando-se em meu ombro com a mão.
- Mas cara, boa sorte para contar isso a Jill ela vai surtar!
- Eu sei.. rio brevemente com ele.
- Mas é preciso.. eu tenho que ser honesto com ela.. eu errei e isso não tem volta, mas eu preciso ser honesto com ela, ao menos isso. — Eu realmente me sentia péssimo. Como nunca antes. Gostaria de poder voltar e não te-la traído, ter aberto o jogo de primeira. Mas, não se pode voltar no tempo. Ainda não. Quem sabe um dia alguém invente uma máquina que genuinamente nos possa fazer voltar aos primeiros erros. —
- Eu sei.. vai dar certo.. ele me olha positivo.
- E a Em? Estou com saudades. — Mark era mesmo um tio babão. Rio.
- Ela também está cara, mas ela está simplesmente apagada ali no quarto.. digo rindo.
- Imagino que ela cansou demais com essa viagem...
- Sim..
- Ela adora a Ell sabia? Até desenhou nós três na praça e a entregou no aeroporto. Relembro pensativo.
- O quê? Pera aí, esqueceu de me contar essa parte aí, que história é essa de que se encontraram no aeroporto? Seus olhos estáticos em mim.
- Sim, nos vimos.. brevemente, a Em a viu, correu até ela, a abraçou e lhe entregou o desenho depois de um tempo.. as duas choraram e Ellen prometeu que a veria de novo, e eu torço para que isso aconteça. Suspiro.. — e sabe o que mais, ela mal me olhou. Digo cabisbaixo sentindo um nó se formar na garganta uma vez mais e um aperto em meio ao peito.
- Cara, ela está confusa, provavelmente.. e sim, todos vocês vão se reencontrar, vamos fazer acontecer. Tá? Ele pergunta atencioso e preocupado vendo como eu estou por dentro. Era o único que me conhecia dessa forma.
- Tá bem! Obrigada! Digo simplesmente sem muito ânimo mas muito grato.
- Mas até lá, você tem que se erguer, você tem que levar a vida. Ele me diz e eu não gosto da ideia.. mesmo sabendo o quão certo ele está.
- Eu sei! Eu vou! Como estão as coisas na empresa? Fechou aquele contrato que estávamos revisando antes de eu sair em viagem?
- Fechamos! E eu estou ansioso pela nova parceria, amanhã vou te mostrar todo o progresso que já tivemos com essa transição. Me diz apontando um gráfico na tela do celular, o qual eu adoraria estar prestando atenção. A —Broth&associados— era tudo para mim, eu amava essa empresa como alguém da família, o que realmente sentia que era.. pois fundamos juntos, e Mark é como meu irmão. Ele é.. meu irmão. Eu só.. estava distraído. Ainda estava naquele baile, naquela sala que parecia um depósito.. naqueles beijos e carícias, mas eu preciso despertar quando ouço Emma me chamar.
- Papai.. papai.
- Oi meu amor, estou indo.
- Oi.. 'upa' digo quando a pego no colo e a levo até a sala.
- Olha quem acordou! Digo dando-a um beijo na testa e olhando um Sloan digitando algo no celular.
- Tio Mark! Diz animada estendendo os bracinhos até ele. Ele era um ótimo tio e padrinho. Quase um segundo pai. Sempre esteve aqui, sempre esteve com ela, meu melhor amigo, padrinho também de casamento e que possivelmente também já era pai... sendo Mark como é.. nunca se sabe.
- Vem cá meu amor, como foi a viagem? Soube que fez uma amiga.. ele dizia e me olhava debochado.
- Fiz sim tio! Ela é linda, e muito legal, o nome dela é tia Ellen!
- É mesmo? Nossa eu vou querer saber de tudo dessa "tia Ellen" ele dizia rindo e lhe dando um beijo na bochecha, enquanto ainda me olhava com deboche.
- Tá bom, eu vou te contar.. (...)
E assim ficaram, ela contou tudo com riqueza de detalhes a ele que a ouvia atentamente, e que mais tarde ficou para jantar conosco. Jill chegara muito mais tarde e logo em seguida fora dormir.. mal a vi. E quando vi, não tive como falar.. ela estava tão cansada, achei que não era a hora certa, se é que essa existira. Mas na manhã seguinte ou até mesmo na próxima, eu iria dizer! Logo.. O quanto antes. Era preciso.

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