Capítulo 71 - Andiamo

280 29 21
                                    


Ellen

"Ei.. bom dia."
Ouço um sussurro em meu ouvido me arrepiar. Apenas sorrio e resmungo qualquer coisa então me viro de lado.
Chegamos a pouco e não é bem "bom dia" pois tenho quase certeza de que já passara do horário de almoço mas.. estou tão cansada.
Pouco dormi. As meninas se mexiam o tempo todo e por mais animada que eu estivesse para ver o Grand Canal, a Basílica de São Marcos ou até mesmo retornar ao "nosso" lugar, a maravilhosa Piazza San Marco eu ainda tinha de dormir um pouquinho mais.
- Amor.. eu vou voltar a dormir só um pouco mais tudo bem? Suas filhas não me deixaram descansar e o fuso horário também não ajuda.
O digo suave e ele não responde.. viro-me para olhá-lo e lá está a imagem mais linda do que qualquer das paisagens que ainda temos para visitar no mundo. Ele havia caído no sono uma vez mais.. e assim o acompanho. Lembrando-me o quão bom é estar aqui novamente. Adoro esse hotel. É realmente lindo.. fabuloso até eu diria.. sim, estamos hospedados no mesmo hotel — Palácio Gritti.—
As memórias, somente as que me permito, ou seja, as boas me atingem como um furacão e assim também é o sono e num piscar volto a dormir. 

☁️
- Seu Webber, não acredito..
Digo ao senhor em minha frente sorrindo e o abraçando apertado.
- Ellen, está linda..
Diz doce.
- Que bom vê-la.
Sorri.
- Muito bom ver você.
Sorrio no mesmo tom.
- Sr Shepherd..
Ele diz sorrindo e estendendo a mão a Patrick que o retribui igualmente.
- Posso ajudá-los em algo? De repente vocês podem subir ao terraço, a vista de lá é magnífica.. ou nadar.
Dizia atencioso.
- E quanto ao baile beneficente?
Patrick o pergunta e me olha cheio de intenções.
Seu olhar continha fogo, ainda que só eu o notasse.
- O baile desse ano foi adiantado. Já aconteceu a alguns meses atrás.
- Uma pena..
Sorri e me olha.
- Mas voltem o ano que vem.. será na data normal, ao menos é o que nos foi dito.. a nós funcionários.
Mais uma vez nos dá um sorriso amigável.
- Voltaremos, obrigada seu Webber.
Dizemos juntos e sorrimos ao mesmo que nos acena e assim saímos do hotel. Agora vamos em direção ao já conhecido por nós —Vaporetto— o passeio é de tirar o fôlego de tão bonito.. embora muito calmo e tranquilo.
E enfim chegamos a nossa praça.
Como de costume está repleta de pássaros.
Sorrio e ele me olha com brilho nos olhos.. a algo nele, ainda que eu não saiba o quê, talvez como eu.. nostalgia.
Mas, além disso.. posso sentir que há algo a mais.
O quê haveria de ser? Matuto.
Enquanto caminhávamos pelo local passando pela Torre dell'Orologio ele estava calado.
O quê deveria estar pensando?
Eu estava honestamente intrigada.
- Foi aqui..
Ele diz parando ao centro da praça onde bate uma forte luz do sol de fim de tarde e pessoas passam com seus filhos que estão distraídos com os muitos pombos habituais do lugar.

🌹Per amore hai mai fatto niente solo
Por amor, você já fez alguma coisa apenas por amor?🌹

- Foi aqui que você mudou a minha vida.
Continua.
- Foi aqui que eu te vi e mesmo de longe eu sabia.. sabia que era você. Que era pra ser.. eu e você.
Foi aqui..
Ele tenta conter as lágrimas.
Foi aqui, que eu me encantei pelo brilho dos teus olhos verdes pela primeira vez.
Pelo seu riso fácil que me enche de paz.
Foi aqui que eu pensei estar enlouquecendo e foi aqui também que eu percebi nunca estar mais são.
Ele sorri.
Ainda que eu achasse estar vendo um anjo com minha menina, e hoje, eu tenho a certeza de que anjos existem. De que eu via mesmo um.
Minhas lágrimas já não se contém e veem a tona.

🌹Per amore perso e ricominciato
Por amor, já se perdeu e se reencontrou?🌹

- Foi aqui.. que você me devolveu a vida.
Foi aqui que me apaixonei pela mulher mais doce, dona de um enorme coração.. forte, corajosa, inteligente, linda por fora, mas principalmente por dentro. E tantos outros adjetivos..
Ele revira os olhos rindo e faz uma careta antes de continuar.
E foi aqui também, que eu pude ver que a vida valia a pena ser vivida, e que eu ainda tinha tantas alegrias para provar e de que o amor à primeira vista era mesmo algo real.
Apesar de achar que não tenha sido a primeira vez que eu te vi. Devo ter te visto em outros universos, outras realidades, outras vidas..
Respirando fundo, fecha os olhos brevemente.
"Não" diz convicto.
- Não a tinha visto antes.. porque se tivesse, eu me lembraria.
"Uma obra de arte."
- Justamente o que pensei te vendo exatamente assim, com o sol batendo em seus agora maiores mas igualmente lindos cabelos louros. E reluzindo em seus olhos.
Algumas pessoas agora nos olhavam atentamente.
Portanto..
Ele começa e está nervoso.
Ele está se ajoelhando em minha direção..
por Deus, agora sou eu quem está nervosa.
- Ellen.. minha doce Ell.
O amor da minha vida.
A mãe das minhas filhas e do sr Peanutbutter.
Sorrimos.
Por um instante penso em nosso cachorrinho ainda, que saiba que está ótimo, pois está com nossa Emma.
E logo me volto a realidade atual.
- Dona do meu coração e do meu amor.
Ele respirava fundo.. ainda de joelhos e me olhando com os olhos molhados.
Talvez estivesse reunindo coragem para a pergunta que me veio à seguir.
- Quer casar comigo?
Ele tira do bolso e em seguida abre uma caixinha vermelha de veludo que contém o anel e a aliança mais lindos que já vi na vida. Honestamente.
O ouço mas pareço não conseguir dizer nada, meu corpo todo arrepia e ao mesmo tempo dói.
Sinto um líquido que logo percebo ser quente e incolor correr por minhas pernas.
O desespero chegando junto a ele.
Olho para baixo e meu vestido branco de flores está levemente molhado. E sabia que não poderia ter sido apenas por minhas muitas lágrimas.
Volto meu olhar para ele que ainda estava com a caixinha aberta a minha frente, ajoelhado.. esperando uma resposta sem notar nada.
Sorria mas sei que estava apavorado.
Ele ainda acha que posso não aceitar? Isso é... impossível.
Mas.. no entanto, não há tempo agora.
- Patrick..
Sorrio e ele balança a cabeça nervoso e esperançoso.
- Eu caso..
- Você.. você casa?
Então.. é um sim?
Oh.. meu Deus.
Sorria encantado, estava.. maravilhado.
Se levanta para me abraçar antes mesmo de pensar em por as jóias em meu dedo. Ainda que eu ache que com essas mãos inchadas não vão mesmo caber.
- Sim, sim eu aceito. É um sim, é claro que é um sim. Não haveria uma resposta diferente nem em mil anos.
Eu me caso com você.
Sorri mas a dor que me atingia era demais.
Ele chorava e sorria, a plenos pulmões.
Como eu o amava.
- Temos a Basílica de —
O interrompo.
- Não pode ser agora, não podemos falar disso agora.
- Tudo bem, não iria mesmo ser agora porque— ele dizia entusiasmado e uma outra vez o interrompo, desta vez completando para ele a sentença.
- Porque suas filhas vão nascer. Agora.
Patrick temos que ir ao hospital mais próximo, minha bolsa estourou tem alguns minutos.
Nossas meninas querem sair.
Digo sorrindo exasperada e ele olha para baixo e parece levemente assustado. Só agora ele notara o que me acontecia.
O que nos, acontecia.
Elas nasceriam.. e na Itália?
Minha bolsa rompeu... na nossa praça?
Céus.
Tecnicamente ainda faltavam dias.. mas agora já sabemos que são ansiosas como eu.
Ri.
- Vamos..
Diz pondo meus braços em volta de seu pescoço e me segurando em seu colo — respirando fundo—
Imagino estar pesada e sinto muito por isso e por sua coluna.
- Precisamos de um transporte e rápido.
- Você sabe onde o hospital mais próximo fica?
- Não, mas vou descobrir. Não se preocupe.  Não se preocupe com nada, nossas filhas estão chegando amor.
Sorrio e ele me beija a testa.
"Aguentem aí minhas meninas, o papai está ansioso para ver vocês também.. mas esperem só mais um pouquinho.. já nos encontraremos tudo bem.. "
Sua voz era trêmula, mas, por incrível que possa parecer as sinto se acalmar dentro de mim.
Ele tem esse efeito nas crianças.. e pra ser honesta em mim também. Apesar de tudo eu estava tranquila, ao seu lado era sempre assim. Me sentia calma e protegida não importavam as circunstâncias.
Não podia conter a emoção que sentia nesse momento assim como eu, que chorava e sorria com a certeza de que esse dia era um presente dos céus a nós, uma benção que nos batia a porta.
Temos de avisar a Lexie e o Mark, Cristina, Amy.. dona Carolyn, EMMA, pensei logo.
— "La mia futura moglie personale ha detto di sì" —
Ele grita comigo em seus braços e em uma pronúncia um pouco confusa dado seu italiano enferrujado, mas, que se faz entender pelo jeito como as pessoas o respondiam e batiam palma alegremente.
Provavelmente não era "aonde fica o hospital mais próximo?"
Deduzi.
- O quê foi isso?
Digo rindo.
- "Minha futura esposa pessoal, ela disse SIM."
Diz e me beija os lábios sorrindo, com os olhos em um brilho ainda maior do que o do diamante que ele me dera.
- Você ensaiou isso ou—
- Oh sim.. eu ensaiei isso dias a fio. Precisava anunciar ao mundo ou— aos aqui presentes a minha sorte. Caso aceitasse..
Sorria orgulhoso. Sinto meu coração errar as batidas.
- Eu te amo Sr piegas..
Digo fazendo uma careta — é claro que eu aceitaria— murmuro e ele ri.
- Eu te amo minha noiva.
Mais uma vez, sorrimos.
Mas a dor não me deixava aproveitar completamente o momento.
- Devia ter ensaiado a do hospital ou "minhas filhas querem nascer em outra cidade e no meio de uma praça o que eu faço?"
O olho e não consigo evitar cair na gargalhada enquanto ele me acompanha.
- Devia.
Digo ainda rindo e ele então me coloca cuidadosamente no enfim chegado táxi aquático
— Vaporetto. —
- Ao hospital mais próximo por favor.
Diz torcendo para que o moço a nossa frente o entenda e graças a Deus ele entende. Devia já estar acostumado com tantos turistas.
"Andiamo"
Diz acenando e sorrindo pra nós, que por fim seguimos.
"Andiamo"
Dizemos juntos e uma vez mais sorrindo.
Patrick o tempo todo com a mão em minha barriga, conversando com nossas meninas que finalmente estariam em nossos braços dentro de poucas horas.
Felizmente, respiramos aliviados.

🌺 A música usada é a mesma do segundo capítulo. 🌺 Até logo! ❤️

Meu Universo ParticularOnde histórias criam vida. Descubra agora