Capítulo 20 - Não poderia ser..

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☁️

Ellen 

Ele sai para atender o telefone e eu sinto que sempre haverá essa parede. Esse som que o leva para longe.. eu não quero o afastar dela. Delas.. Emma precisa dele.. e sei que Jill também. O quê diabos estou fazendo com ele? Ele não deveria estar aqui, o seu lugar não é aqui. Talvez não seja nunca. Pensando tudo isso sinto meu peito apertar, minha dor de cabeça triplicar e uma lágrima cair.. o que eu havia feito? Ele não é livre, ele tem compromissos, uma família e eu não era esse tipo de mulher, eu não queria ser.. eu nunca fui. Viajando nos meus dolorosos pensamentos por um tempo ouço Cristina dizer algo..
- Desculpa meu amor, o quê?— Digo a olhando e secando os olhos.
- Ele é realmente lindo, e muito simpático, dá para te entender melhor agora.. ela diz rindo e me olhando com nosso olhar, aquele em que ela nem precisa falar nada ou pensar muito para que eu a entenda e vice-versa. Eu adorava isso.
- Ele é não é. Digo simplesmente fungando um pouco sobre o recém choro.
- Oh sim, mesmo todo desarrumado de manhã.. e se ele ainda for bom de cama como eu acho que ele é só de olhar para sua cara de cansada.. minha amiga.. tirou a sorte grande. Ela me olha e sorri orgulhosa, feliz por mim.. algo do tipo.. ainda não defini.
- O quê foi Ell? Você não está bem.. o quê foi? Me fala preocupada.
- Eu só.. eu não vou a diante com isso Cristina... digo quase chorando novamente.
- O que? Por quê? O quê houve?! Ele não é bom de cama? Brinca tentando me fazer rir.
- Ele é.. digo séria.
- Mas, não é meu Cristina, ele tem família. Eu não vou ser a responsável por destruir tudo.. eu não suportaria.
- Ell.. dê uma chance a ele. Ele parece estar 100% entregue a você, a esse amor que vocês têm.. parecem ser predestinados.. e você sabe que eu não sou do tipo que acredita em destino, sorte, coincidências e afins.. ela me diz seria.
- Conversem.. só isso tá? Me pede.
- Tá. Digo sem ânimo algum. E depois de uns minutos a mais de conversa ele volta a cozinha e fingimos que nada houve.
- Voltei! Espero que o café ainda esteja quente. Diz brincalhão.
- Claro, e se não estiver, sinta-se em casa, e pode usar o microondas.. Cristina diz rindo.
- Ohh, é muita gentileza.. obrigado. Ele ri de volta.
- Então.. quem era ao telefone.. tudo bem com a Emma? Digo meio quebrando o clima alegre.. e ele me olha.
- Sim, tudo.. eu tenho que vê-la mais tarde.. mas tudo sim. Você é maravilhosa.. obrigada por perguntar Ellie. Me diz sorrindo com uma pontinha de deboche no 'Ellie' mas não dou muita importância. Não conseguia brincar agora.
- E.. continuo.
- E.. no telefone era o Sloan, meu amigo, mais pra irmão desde sempre. Ele diz de uma vez e me olha sorrindo enquanto pega uma torrada.
- Entendo. Digo simplesmente.
- Quer mais? Ele me aponta o café, notando que minha caneca está quase vazia..
- Não, obrigado...
- Como está a cabeça? Precisa de algo? Me diz carinhoso.
-  Não, está tudo certo.. dói só um pouco. Digo um tanto seca e Cristina me olha com um tom de desaprovação. O silencio volta ao ambiente..
- Bom, Sr bonitão, Ellie, eu vou indo.. preciso passar em alguns lugares antes do trabalho.. prazer te conhecer viu.. ela diz simpática estendendo a mão para ele e acenando para mim.
- O prazer foi meu, espero que nos vejamos novamente..
- Se você fizer café sempre tão cedo... ela ri
- Combinado. Ele ri de volta e eu aceno à ela.
- Ellie, só mais uma coisa.. você vai trabalhar hoje?
- Não, acho que não.. eu te ligo mais tarde e aviso, tá?
- Tudo bem.. "beijo beijo" diz e acena novamente.
- Beijo beijo.. repito debruçada sobre a mesa, mas ela já fora.
- Adorei sua amiga, espero que ela não me ache um esquisito com esse cabelo todo desalinhado, camisa desabotoada, calça toda amarrotada, descalço, fora a cara amassada.. mas foi tudo tão rápido que nem deu tempo. Ria.. - Acha que ela gostou realmente de mim? 
                                           ...

- Amor? Ouço ele me chamar, meu corpo todo arrepiar e minha cabeça doer disparando ferroadas. Deve ser a culpa.. Deduzi.
- Patrick?! Respondo séria e ele me olha como quem não entende o que fez de errado..
- Você está brava comigo? Me perdoa ter ido atender o telefone, mas é que eu disse ao Mark para me avisar de tudo na empresa. Tínhamos uma reunião hoje.. agora, na verdade. Ri e olha o relógio.
- E aí, ele está me representando entende? Ele diz calmo.
- E ele estava meio que cuidando da Em para mim..
- Como assim?
- É que desde que eu sai de casa.. ontem na verdade...
- Eu estou com Mark e como ia passar a noite fora, se a Jill ligasse precisando de algo pra Em, ele iria.. mas ela não ligou segundo ele. Eu só tenho que passar para pegar ela na escola mais tarde, fico um pouco com ela e depois posso voar para cá de novo. Ele diz sorrindo e fazendo carinho no meu cabelo.
- Voar?
- Sim amor, eu vim com o helicóptero da empresa, porque provavelmente naquele horário eu não acharia um voo comercial.. ele diz em tom suave e ainda sorrindo.
- Você pilota? Pergunto curiosa..
- Aviões e helicópteros, não.. ainda. Ele diz em uma gargalhada.
- Eu vim com o Franco nosso pilo— o interrompo.                            
- Onde você mora? Digo de uma vez, minhas mãos tremendo, minha mente girando.
- Agora com o Sloan, no flat dele. Responde cauteloso.
- Que fica?!
- Nova York
- Ah, que ótimo. Digo em um misto de raiva e deboche.
- O quê foi Ell? Qual o problema? Porque se você está preocupada sobre estarmos a duas horas de distância não se preocupe amor. Diz tranquilo, sorrindo.
- Vai dar certo.
- Não Patrick.. não é com isso que me preocupo..
- Você saiu de casa? Pergunto desacreditada.
- Sim amor.. e eu ia te contar tudo ontem. Mas não deu tempo e também— o interrompo mais uma vez.
- Eu não quero saber.. eu não queria isso, tudo isso está acontecendo rápido demais e eu.. eu não te pedi que saísse, eu não vou destruir sua casa. Nessa altura eu estava nauseada.
- Minha casa está bem firme lá no lugar não se preocupe amor.. diz divertido e eu o olho como se soltasse fogo pelos olhos..
- Patrick..
- Eu sei, eu sei.. eu entendi. Ele diz pegando em minhas mãos e beijando uma delas..
- Eu sei amor.. você não me pediu. E você não precisaria.. você não tem culpa de absolutamente nada em relação a minha saída, meu divórcio e tudo mais.. eu sai porque já havia acabado. Eu escolhi. Com você ou não eu sairia.. eu juro, você não destruiu nada, já estava tudo desmoronando a algum tempo. E eu só me mantinha lá pela Em.. Mas eu vou dar um jeito. Eu prometo. Eu.. eu.. você não tem culpa alguma. Sua única participação nisso tudo foi me fazer acordar.. e viver, voltar a VIVER.. ele diz dando ênfase no que diz.
- E não a sobreviver.. sobreviver a um casamento condenado.. a uma relação sem amor.. você me fez viver. Me fez lembrar de quem eu sou. Eu estou vivendo e estou feliz novamente como não acontecera em anos, e isso, isso é sua 'culpa' amor. Essa é a única 'culpa' que você tem. Ele diz tão doce e me beija lentamente. Retribuo, mas não dura muito.. seu celular nos lembra que havia mais coisas além de nós e nossa bolha de amor e paz.
- Você deveria atender..
- Estou tendo um Déjà Vu.. diz sorrindo.
- Atende vai. Digo sorrindo fraco. Ele me olha e atende em seguida.
- Alô.. 
- Tudo bem.... estou indo. Suspira e desliga.
- Amor..
- Eu sei. Você tem que ir—
- Espera escuta.. eu quero te ver hoje a noite.
- Hoje à noite eu não posso. Falo rápido demais segurando o choro.
- Por quê?
- Porque eu preciso pensar, e eu tenho trabalho. Disse sem o encarar.
- Mas você disse a Cristina que não iria..
- Eu sei o que eu disse.. e disse que "acho que não" mas eu não posso evitar o Chris para sempre não é.. suspiro brevemente.
- Chris? Ele diz franzindo o cenho..
- É Patrick, meu namorado.. ex namorado. Me corrijo com a mão na cabeça e vejo ele me olhar sério, em uma espécie de confusão e tristeza.
- Ah ok.. você trabalha com ele? Ele diz enciumado e cabisbaixo.
- Eu trabalho para ele.
- Entendo.. não sabia que tinham terminado. Diz simplesmente.
- Isso é um problema para você? Digo confusa.
- Não.. não Ell eu quero te ver feliz.. e eu pensei que eu fosse o cara que te faria feliz.. mas.. nós.. mal nós conhecemos.. toda hora nos surpreendemos com algo sobre o outro. E você certamente não está feliz com a situação em que me encontro agora. Eu só penso que.. se talvez.. e se ele fosse o cara e não eu.. eu não posso ser egoísta Ell. Eu te amo. Ele diz e me olha como se aguardasse por algo..
- Mas, e se eu não for o certo para você? Amor nem sempre sustenta uma relação. Cabisbaixo dizia com o olhar de quem sabe o que diz.
- E se você nem ao menos me amar? Você não pode me amar.. Você mesmo disse.. não nos conhecemos. Respondo. Seus olhos de repente estavam marejados. Até uma lágrima escorrer. Senti certa angústia.
- Eu não costumo fazer o quê fiz por todo mundo, não costumo me sentir assim.. eu nunca me senti assim. Você não acredita? Ele me olha e eu não sei como reagir, o silêncio volta a nos acompanhar.
- Eu.. eu acho que é melhor você ir, por agora. Digo  séria olhando para o chão. Não conseguia olhar para ele. O ouço chorar por um segundo, ou seria imaginação minha?!
- Tudo bem. Se você quer assim. Sinto seu olhar em mim mais uma vez. Levo o olhar a ele rapidamente.
- Eu te amo Ellen. Diz entre soluços presos na garganta e eu me sinto sufocar, eu queria correr e abraçá-lo. Dizer que entendo, que eu vou estar com ele porque ele é o certo e que não me arrependera de terminar com o Chris. Que com ele ou não eu o faria. Queria o beijar e dizer que o amava também. Muito. Que o amava tanto que chegava a doer e a assustar. E que sentia muito pela minha atitude insegura.. mas não o fiz. O olhei por mais um segundo. O vi secar os olhos enquanto esperava algo de mim.. qualquer coisa menos o que eu fizera. Suspirei.. me aproximei e o beijei a bochecha. Senti meus lábios queimarem, senti como se tivesse desfalecido. Lágrimas e mais lágrimas caíram. E o acompanhei até a saída, fechei a porta. Ele se fora. Depois da noite maravilhosa que tivemos.. o que eu fiz? O quê o medo e a insegurança me fizeram fazer.. eu me odiava naquele instante. E jurei que se não fosse ele, eu jamais iria me apaixonar novamente. Pensara em tudo que ele havia me dito. No amor que fizemos. Em Emma, quem eu tanto me importava, pensara em tudo que ele significava para mim desde o primeiro dia.. e em tão pouco tempo. Eu estava quebrada. Sentei-me no chão, peguei o celular, liguei para Cristina que não me atendera de imediato e chorei.. chorei por todo o dia. Chorei ainda mais a noite, quando ele disse que viria, e torci tanto para que ele ainda viesse.. mas não.. não veio. E que falta sua presença me fez.. e assim, segui em meus lamentos por ter o tratado como tratei. E torci mentalmente para que aquele não fosse nosso fim. Não poderia ser.. ele me entenderia, me perdoaria.. não é?!

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