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Pietro aceitou a carona de Arina e agradeceu aos céus por não terem trocado palavras após a conversa no quarto. A garota tinha respeitado o limite imposto por ele, ao menos era isso que acreditava.

Não tinha tempo para aquilo, viver um triângulo amoroso. Além disso, a mensagem de Dmitry, seu traficante, na noite anterior já era motivo demais para se preocupar.

A mensagem era simples dizia "Soube que teve alta" ,mas foi suficiente para fazer com que Pietro saísse da faculdade antes do final da segunda aula e fosse ao encontro do homem.

Dmitry era o tipo de homem que todos deveriam manter distância, era um cara de meia idade, tinha o tipo de olhar assustador e quando irritado, falava com um ranger de dentes ameaçador. Talvez tenha sido por isso que Pietro não demorou para ir ao encontro dele.

Entrou no prédio luxuoso no centro onde o homem morava e foi a cobertura,Dmitry tinha um padrão de vida alto para seu ofício, qualquer um que o visse com roupas caras, dirigindo uma Mercedes e morando em uma bela cobertura, diria que ele era um empresário bem sucedido e pensando de maneira fria e até mesmo bondosa, ele era.

—Meu favorito! —Disse Dmitry assim que seu empregado, alto e bombado abriu a porta—Estava a sua espera! —Completou ao levantar do sofá branco e fazer um sinal ao segurança, para que o deixasse entrar

Pietro passou pela sala em completo silêncio e parou em frente ao fornecedor que usava um blazer cinza com blusa branca e calça Jeans.

—Senhor Bazanov, da última vez que nos falamos você me devia quinze mil rublos, se não estou enganado! —Disse com um sorriso mortal, Pietro odiava quando o homem sorria, nunca era verdadeiro, cada puxada de lábio parecia uma armadilha.

—Eu ainda não tenho seu dinheiro! —Disse se aproximando devagar do ruivo que ainda sorrindo, cruzou os braços—Eu vim pegar mais para pagar depois...

Dmitry deu dois passos para frente com a sobrancelha arqueada, seus olhos castanhos nunca pareceram tão escuros naquele rosto tão pálido.

—Eu vou te pagar! —Disse Pietro, não admitiria em voz alta, mas tinha um pouco de medo do homem, Dmitry podia matá-lo e pensar em morrer não era prazeroso, mesmo que a morte às vezes não lhe parecesse tão ruim.

—Eu tenho cara de otário? —Olhou para o homem de cabelos castanhos que havia aberto a porta —Nikolai, olhe para mim, eu pareço idiota?

—Não senhor! —Disse o segurança

—Achou que viria aqui, sem dinheiro e levaria alguma coisa? Eu sei que você está usando, mas se parou de vender e se tornou usuário, é melhor mudar o nosso acordo!

Pietro revirou os olhos. Conheceu Dmitry em uma noite fria, quando dormia embaixo da marquise daquele prédio luxuoso, o homem disse que ele teria futuro vendendo algumas coisas para ele e por uma noite, ofereceu comida e roupas a ele. Desde então vivia assim, vendendo as mercadorias de Dmitry e ficando sessenta por cento do lucro.

—Eu odiaria ter de mandar arrancar seus olhinhos verdes!

—Dmitry, qual é... Eu sempre paguei, tive uns problemas, mas agora estou limpo, não precisa se preocupar! —Disse Pietro, queria enormemente acreditar no que dizia, já que ainda não tinha certeza se aguentaria ficar longe da droga, era inegável, sentia muita falta de usar.

Dmitry tocou no ombro dele—Eu te disse assim que nos falamos pela primeira vez, o vendedor não pode consumir! —Disse rangendo os dentes, o sorriso forçado, havia sumido

—Dmitry, te conheço há o que? Um ano? Você sabe que eu não vou te prejudicar!

Dmitry deu as costas para o moreno

—É a única forma que tenho de me manter por aqui! —Apelou. Vender as drogas era a única renda que tinha e sabia que Dmitry não queria seu mal,caso contrário ele já estaria morto—Você disse que me ajudaria...

Dmitry tossiu, não era de ter pena de ninguém, mas via Pietro como parte dele, se identificava com o garoto—Posso te dar algumas coisas, mas sua conta vai aumentar. Quero meu dinheiro! —Disse e olhou para Nikolai—Pega os comprimidos de MD para mim e trás três saquinhos da de sempre

Pietro sabia que a dita "de sempre'' era a sua favorita, a que quase o levou à morte. Havia prometido não usar mais heroína, mas assim que pegou seus pedidos e os colocou na mochila, estava pensando nos prós e contras do uso da droga.

—Eu vou vender essas e te darei mais da metade do dinheiro. —Disse ao fechar a mochila

—Caso não o faça, o Nikolai precisará conversar com você.

—Eu sei! —Disse Pietro —Pode me dar uma seringa?

—Não vai usar, não é?

Pietro nem encarou o homem, sabia que não aguentaria muito tempo, por isso estava tentando não pensar demais.

—Claro que não...

Dmitry fez um sinal para Nikolai que saiu da sala por alguns instantes antes de entregar as seringas

—Obrigado,agora preciso ir... —Disse ao guardar as duas seringas descartáveis

Colocou a mochila nas costas e virou-se, mas Nikolai parou em frente a porta

—Não achou que iria embora assim não é? Você me deve mais de mil, e eu preciso impor respeito, não posso ser mole com você. Todos me conhecem por aqui! —Disse Dmitry

"Ah Porra... "

—Faz um carinho especial nele para mim, nada muito sério! —Pediu Dmitry ao sair da sala

—Nikolai, você não precisa fazer nada disso... Eu dou um grito e finjo que você me bateu! —Disse Pietro

—Assim não teria graça...

—Ninguém pre...

Nikolai não o deixou terminar, deu um soco certeiro no rosto de Pietro que só não revidou porque precisava da grana que a mercadoria em sua mochila traria.

—Você fala demais! —Nikolai puxou Pietro pela camisa e o jogou para fora do apartamento

Pietro bufou ao cair no chão e apenas observou a porta ser fechada, tocou o rosto que latejava e soube no ato que sua bochecha ficaria inchada.

--◇◇--

Foi para casa o mais rápido que podia, trocando mensagens com alguns garotos que costumavam comprar ecstasy e afins com ele, queria repassar aquilo o quanto antes.

Assim que entrou em seu mais novo lar, pegou uma bolsa de gelo na geladeira e quando estava prestes a sair da cozinha, voltou ao armário e pegou uma colher.

"Dois meses sem usar, quando eu quiser eu paro de novo! "—Disse a si mesmo enquanto ia para o quarto. Estava sozinho em casa o que o encorajava a usar a droga.

Sentou-se na cama e assim que tirou um saquinho pequeno com o pó branco respirou fundo.

"Não preciso disso... "-Pensou-"Tenho que pagar o Dmitry "

Passou a mão na cabeça e respirou fundo, dois meses não eram nada, sentia falta daquela sensação, só de pensar em como se sentia ao usar a heroína, seu corpo passava a implorar

" Eu não sou viciado... Não sou, posso parar depois... "

Se culpando por tanta fraqueza, abriu o saquinho e jogou uma quantidade significativa do pó na colher de metal, procurou por um isqueiro na mochila e assim que o achou, passou a esquentar a parte de baixo do talher,usando a água que escorria do gelo para ajudar a diluir a droga.

—Que porra é essa?

Pietro tirou a colher que segurava entre os dentes,largou o isqueiro e olhou para Arina, assustado e em silêncio.

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora