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Cansado dos pensamentos desconexos e da falta de maturidade de Ivan, Pietro escolheu recorrer a um velho hábito.

Ligou para Yeva, uma conhecida do seu 1° ano em Moscou, a única pessoa além dele, que vendia drogas na boate que pertencia a Dmitry. Agora que ele estava fora do mercado, Yeva tinha basicamente o controle das drogas no estabelecimento.

Pietro não era amigo dela, longe disso, a menina não gostou nada quando ele passou a vender no mesmo lugar que ela e odiou mais ainda quando Dmitry, ainda que mantivesse seu jeito ameaçador, pareceu solícito e amistoso com ele.

Acreditando que a garota tinha esquecido o passado, Pietro pegou o metrô e decidiu que iria ao posto de gasolina no bairro de Chertanovo ao norte de Moscou, criticou-se durante todo o trajeto, mas toda vez que pensava em voltar, algo o atrasava e impedia, chegou a levantar do assento e andar até a porta, mas não conseguiu.

Fez as baldeações corretas e ao sair da estação e andar até o posto, pensou no porquê de está fazendo aquilo, estava há 8 meses sem a droga, uma marca imensa e que seria difícil de alcançar de novo.

Pietro suspirou ao virar a esquina de prédios cinzentos e avistar o posto, não gostava do que estava fazendo e não se sentia confortável naquele bairro, haviam muitos moradores de rua e ainda que tudo ali fosse arborizado, o local o remetia a antiga vida.

Parou em frente ao posto e pegou o celular, tirou o aparelho do silencioso e notou que Ivan tinha ligado algumas vezes. Respirou fundo ignorando o garoto e enviou uma mensagem a menina, não sabia o porquê de Yeva ter marcado ali, mas para ser sincero, não estava em condição de pensar. Até porque, todos os sentidos de seu corpo estavam dizendo que suas atitudes eram erradas, ainda que parecesse necessário passar por àquilo para ter uma recompensa.

"Porra Pietro, desiste... Desiste... "- pensou

—Se ela não aparecer em cinco minutos eu vou embora... —Disse a si mesmo, respondendo a sua consciência, enquanto olhava o único carro sair do posto. Enviou duas mensagens a menina e guardou o aparelho no bolso interno do casaco.

—Ei, está esperando alguém?

Pietro viu o baixinho de uniforme verde e cinza se aproximar e pensou em fugir, já que parte de seu ser dizia que o homem o julgaria, algo o dizia que o careca de meia idade sabia o que ele queria.

"Desconversa... Sai daí! "-Dizia sua mente

—Yeva, você a conhece? —Perguntou desviando o olhar para a bandeira do posto e as placas com preço da gasolina

—Ela estava no banheiro —Apontou para a passagem ao lado da loja de conveniência

—Valeu! —Disse ao acenar com a cabeça

Pietro passou pelas bombas e contornou a loja de conveniência e ouviu um barulho alto. Sem saber de onde vinha, seguiu andando, passou pelos banheiros e leu a placa escrito: lava-rápido.

—Me solta... —Ouviu a voz fina e feminina dizer

Antes que pudesse pensar no que fazer, seguiu as vozes e o barulho, que o levaram ao espaço destinado a lavagem de carros, passou pelo carro vermelho que estava no centro da máquina automática e vermelha, que possuía escovas enormes, uma de cada lado.

—Onde você colocou? —Gritou o homem

—Sai de cima de mim!

Preocupado, ele olhou em volta e ao ouvir novamente o grito, contornou a máquina de lavar carros e viu um homem alto sobre uma menina pequena, quase não via a garota, apenas as pernas cobertas por uma meia arrastão preta e as botas roxas.Não sabia se era Yeva e para ser sincero, não se importava.

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora