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Arina tinha falado sem parar e Pietro quase não demonstrava reação, apenas ouvia, sem comentar ou qualquer outra coisa. Disse que pretendia manter Olga longe de qualquer coisa que envolvesse Hera e os "negócios" de seus pais e que faria o mesmo com Ivan, fingiria o máximo que pudesse, manteria um raso interesse no que ele quisesse fazer ou descobrir simplesmente para que ele não descobrisse que ela já sabia de tudo.

—...Espero que você faça o mesmo! —Afirmou por fim

Pietro levantou-se com uma expressão que Arina não conseguiu definir, parecia nervoso e ao mesmo tempo pensativo como se avaliasse tudo

—Caralho, ele... Ele precisa saber é a história dele, é a vida dele!

Arina deu uma risada nasal e revirou os olhos—Ele descobriu que era adotado e foi  para a porra da Praça Vermelha se lamentar, acha que ele vai pensar racionalmente, assim que souber que o pai sumiu com a mãe dele?

Pietro passou a mão no rosto —Não quero mentir para ele!

—E você acha que eu quero? —Arina puxou o edredom o tirando de cima de seu corpo e ajoelhou na cama em um movimento rápido —Não é mentira é proteção! Eu sei que você gosta dele, tanto quanto eu e por isso precisamos protegê-lo...

Pietro parou de ouvir após aquela frase, gostar era pouco, ele amava Ivan e tinha admitido isso no dia anterior e era nisso que pensava, não tinha amado muito na vida, aquele era seu primeiro amor, mas ainda assim, sabia que Amar e Mentir, não combinavam.

—Pietro... Olha para mim! —Disse praticamente gritando para conseguir a atenção dele—Eu te contei tudo que eu sei e a única coisa que eu peço é que você fique quieto.—Bufou—Só te falei porque precisava, eu estou sufocando desde ontem. Uma parte de mim ficou naquele quarto junto com a Hera! —Suspirou —Eu pensei que meus pais eram heróis,confiáveis e magnânimos, não sabia que meus pais conseguiam mentir tão bem.

Pietro deu dois passos na direção dela,que ainda estava ajoelhada na cama, passou a encará-la enquanto pensava, dos lábios rosados semi-abertos, as bochechas rubras, daqueles olhos redondos e castanhos cheios d'água,aos cabelos bagunçados, ela estava sendo sincera,como raramente era,ele conseguia ver a vulnerabilidade que ela lutava para esconder.

—Eu só... Não me sinto confortável em mentir!

—Eu sinto muito por isso, mas eu estou pouco me fodendo para conforto, porque também é difícil para mim.Não é fácil!—Deu ênfase e levou a mão ao peito para prosseguir —Mas eu aguento, foi uma puta decepção, mas eu sei que aguentarei, já o Ivan, eu não consigo ter certeza! —Ela disse e cansada de insistir, jogou o corpo para trás deitando na cama—Pode me odiar se quiser, é menos incômodo odiar uma mulher, é mais natural,e eu posso viver com isso.—Olhou para o teto—Portanto que não diga nada ao Ivan, aceito que continue nutrindo um rancor a respeito de minhas atitudes!Eu não queria que fosse assim, mas...

Pietro levou uma a mão a boca e passou a roer a unha do polegar, não odiava Arina, as atitudes dela às vezes lhe pareciam possessivas e egoístas, mas assim como Ivan dizia, eram fruto da criação dela; Arina agia como se fosse mãe de todos, como se precisasse urgentemente defender e proteger aqueles que ama.

—O que pretende fazer com tudo o que sabe?

Arina tirou os olhos do teto e sentou-se na cama —Eu quero os meus pais e o pai do Ivan atrás das grades! —Suspirou, falar aquilo em voz alta, matou uma pequena parte de si—O Dmitry tem provas contra eles e o Chaban também, mas aparentemente ele é profissional demais! —Disse com tanta tranquilidade que mal sabia como se sentia—Eu tenho idade para cuidar dos meus irmãos se eles forem presos, meu medo é a justiça mandá-los para onde vinheram... Lerei uns dos meus livros de direito e ver em qual lei nos enquadramos! —Disse seca

—Está sendo prática demais. Se todos forem presos Ivan saberá que mentimos.

—Não—Arina fechou os olhos —Ele saberá que eu menti, só te contei tudo porque é difícil pensar com clareza quando está afogando...

Pietro sentou-se no chão com as costas na cama —O Dmitry não vai te dizer nada

Arina riu—Eu preciso tentar, não vou conviver com criminosos e não deixarei meus irmãos na posse deles! —Passou os dedos por dentro dos cabelos—Eles mentiram por muito tempo!

Pietro balançou a cabeça negativamente —Não se envolva com o Dmitry, ele te trará mais problemas que soluções! —Virou-se para olhá-la, ainda sentado no chão—Por favor, não o tenha como uma opção de ajuda no que pretende fazer.

—Eu não tenho medo do Dmitry, tenho pena da criação abusiva que ele recebeu. Acho que se ele quer se vingar dos nossos pais...Nada melhor do que vê-los presos!

Pietro viu os olhos de Arina brilharem, ela estava se esforçando para não chorar e ao notar isso, ele pegou nas mãos dela, se Ivan não saberia para não sofrer, Arina estava sofrendo em dobro, pela descoberta e por ser obrigada a mentir.

—Não te quero nisso sozinha!

—Você não tem o que fazer! Eu sou dona de minhas atitudes. —Disse Arina ao recolher uma das mãos

—Eu posso te ajudar com o Dmitry, ele gosta de mim... De um forma estranha, mas gosta!

Arina balançou a cabeça negando, mas Pietro beijou sua mão

—Não diremos nada ao Ivan, por favor! —Falou Arina, e ainda que fosse um pedido, seu tom gerava uma ordem implícita

Pietro respirou fundo e ao invés de responder,levantou e foi ao banheiro, precisava pensar um pouco mais. Ainda que estivesse cogitando não contar nada a Ivan, uma vozinha irritante o lembrava o quanto mentir era errado.

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora