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Ivan foi ao hospital disposto a escutar o pai, não queria brigas, na verdade nunca gostou de conflitos e isso, muitas vezes, favorecia àqueles que o tratavam mal.

Entrou na sala do pai após dar duas batidinhas na porta e o viu sentado com os olhos vidrados em uns papéis que ocupavam boa parte da mesa.

—Então decidiu vir? —Disse o doutor ao olhá-lo por alguns instantes, antes de voltar sua atenção a uma das folhas—Pensei que ignoraria seu pai para sempre!

Ivan sentou-se de frente para o pai e respirou fundo—Me chamou não foi? O que é tão importante?

O doutor endireitou a postura e encarou o filho—Eu não quis falar por telefone, porque sei que não acreditaria!

Curioso e um pouco confuso Ivan manteve-se quieto

—Sua mãe telefonou, disse que amanhã voltaria a Moscou, achei importante te avisar pessoalmente, para que olhasse em meus olhos e pedisse desculpas, após me acusar.

Ivan balançou a cabeça negativamente —Não o acusei!

Górki riu ao arrumar o jaleco—Dizer "Eu acho que minha mãe sumiu por sua culpa" é me acusar no mínimo de sequestro.

Ivan juntou os lábios, fazendo-os formar uma linha—Eu posso falar com ela? Você tem o número do lugar?

Górki deu uma risada nasal—Eu preciso te dizer que a única pessoa que você deve confiar sou eu?

Ivan suspirou—Desculpa ta legal? Eu não tinha como imaginar, estava preocupado com a minha mãe!

Górki riu—E a primeira pessoa que pensou em acusar fui eu! —Balançou-se na cadeira, fazendo uma meia volta antes de levantar—O homem que é casado com ela, o seu pai! Tudo porque sua namoradinha me odeia!

Ivan o viu se aproximar e assim que sentiu a mão de seu pai em seu ombro, uma  onda ruim o percorreu—Arina não te odeia, eu fiz minhas próprias suposições! —Afirmou rapidamente

O doutor tirou o telefone do bolso do jaleco—Dói saber que você me acha capaz de coisas terríveis —Apertou uma tecla, para discar rapidamente e entregou a Ivan —Fale com sua mãezinha.—Deu dois tapinhas no ombro do filho

Ivan levou o celular a orelha e sua mãe atendeu no quarto toque —Mãe...  Você está bem?

—Sim, achei que o e-mail tinha te tranquilizado

Ivan olhou para o pai envergonhado, aquela era uma lição em tanto, não podia desconfiar sem provas e muito menos acusar alguém da forma que havia feito.

—Eu precisei sair as pressas, você me conhece, sabe que sou assim, quando me sinto pressionada preciso organizar minhas energias

—Voltará mesmo amanhã?

—Sim! —Kenia afirmou e Ivan ouviu um barulho alto, como algo batendo

—Onde está? Que som foi esse? —Perguntou

—A porta é um pouco barulhenta, sempre me assusto!... Preciso ir, agora!

—Mãe...

—Por favor fique tranquilo!—Disse Kenia calmamente —Estou bem!

Ivan respirou fundo, era bom ouvir a voz dela—Fico feliz por isso!

—Boas energias a você, preciso ir!

—Tudo bem...Tchau! —Disse Ivan ao desligar a chamada e entregar o celular ao pai

—Não precisava se preocupar. Sua mãe é instável, não me surpreendo com as atitudes dela. Já a conheci assim!

Ivan levantou-se —Desculpa pai, não queria te acusar, mas...

Górki cruzou os braços—Tudo bem, eu também errei bastante com você. Mas vamos fazer o seguinte, eu tentarei ser um novo pai e você, como um bom filho, precisa me ajudar nesse aspecto

Ivan anuiu e sem pensar muito abraçou o pai que o retribuiu o gesto.

—Voltará a trabalhar aqui? —Górki perguntou

—Vamos devagar pai, eu ainda não posso fazer muito, não estou nem na metade do curso!

Górki soltou o filho—Você sabe o que faz, leva jeito.  Está no seu sangue.

Ouvir aquela frase o fez sorrir, já sabia que era adotado, mas o doutor ainda o tratava como se compartilhassem o mesmo sangue.

(...)

—Pega seu telefone e desce logo, eu só vou ao escritório do Chaban!—Disse Arina ao tirar o celular de Pietro do cabo conectado ao carro,estava cansada de ter de se explicar

Pietro revirou os olhos—Promete que essa é a única coisa que fará, porque eu quero te ajudar a conversar com o Dmitry!

—Eu não preciso de ajuda, já disse que não tenho medo dele! Sai do meu carro!

Pietro pegou a mochila que estava aos seus pés e respirou fundo, não desceria daquele carro até que ela prometesse que não iria atrás de seu ex fornecedor

—Ele é perigoso! —Pietro insistiu

Arina respirou fundo—Sai da porra do carro. —Largou o telefone dele no banco e se lançou em cima de Pietro para abrir a porta

Vencido, Pietro engoliu a seco, saiu do veículo e empurrou a porta para fechar—Cuidado!

—Tchau! —Arina acenou e o viu se afastar e seguir em direção ao prédio. Deu partida no carro e olhou para o celular de Pietro no meio de suas pernas, solto no banco.

"Merda! "-Pensou,cogitando voltar para entregá-lo o aparelho,mas se fizesse isso, se atrasaria e provavelmente não conseguiria pegar o detetive no escritório, pois segundo  a secretária, que havia marcado o horário com ela no dia anterior, Chaban saia cedo para investigar.

Seguiu seu caminho até o endereço que tinha anotado. O escritório não era longe de sua faculdade, por isso, chegou rápido a rua indicada. Estacionou na esquina e conforme andava, percebeu uma movimentação estranha.

Haviam pessoas na janela, encarando a viatura de polícia e a ambulância que se encontravam em frente a um duplex, Arina se aproximou devagar ao perceber que os policiais estavam no 231. Era o escritório do Chaban.

Viu uma senhora na calçada, com as mãos no rosto, aos prantos e decidiu se aproximar

—O que aconteceu? —Perguntou, curiosa e ansiosa por uma informação

—O... Meu Deus... meu Deus... —Disse a mulher ao apontar para os bombeiros que desciam a escada puxando uma maca, com um saco preto em cima.  Arina supôs que aquele era o cadáver do detetive mais queria confirmar

—Calma, ele era seu marido?

A mulher balançou a cabeça negativamente —Meu chefe...—Disse ao abraçar Arina, puxando o casaco dela com força

—Calma! —Disse Arina tentando resistir as mãos fortes da mulher

—Eu o encontrei... Ele se enforcou! —Afirmou entre os choros—Weremy não era esse tipo de homem... —Disse ela

Arina fechou os olhos frustrada ainda com a mulher grudada em seu corpo, a pessoa menos "perigosa" que tinha as provas para incriminar o doutor e seu pai, havia cometido suicidado e isso a preocupava.

Agora, só restava Dmitry e ainda que Pietro não gostasse dessa opção, iria atrás dele imediatamente

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora