Ivan sempre foi visto como um agraciado pelos prazeres da vida, ao menos era o que todos viviam dizendo, só não negava tal afirmação por concordar que seria o típico garoto nerd e esquisito se não fosse o dinheiro de seu pai.
Durante boa parte de sua vida, seu pai não estava presente, não que fosse intencional-viviam na mesma casa- mas o trabalho dele como diretor do hospital que pertencia a família, o consumia, e o fazia passar horas longe do filho e da mulher que, mesmo cansada dessa ausência, continuava agindo como a esposa certinha e dedicada.
Ao menos era assim que ela se apresentava, quando na verdade vivia presa no quarto ou saia para fazer compras só para ignorar o único filho. Mesmo assim, ela era muito dedicada em manter as aparências na rua, o que os fazia parecer uma família feliz e criava a imagem de agraciados,o que sem dúvida não era verdade.
Ivan sentia necessidade de ter alguém, mas por vezes, pedia para seu pai sair mais tarde do trabalho, já que nas poucas horas que o homem estava em casa,fazia questão de reclamar de tudo que sua mãe fazia,estando ou não relacionado a sua criação,ele nunca parecia satisfeito.
Tudo isso acarretou muito em sua vida afetiva, e talvez fosse esse o motivo de está cursando medicina, sem muito amor, apenas pela atenção e aprovação, do homem sério que não sorria nem para a mulher e o filho que dizia amar.Porém, dedicar sua carreira a outra pessoa, estava o tornando tão amargurado quanto sua mãe.
Ele não sabia quem era ou tinha motivos fortes para correr atrás de seu lugar no mundo, até que conheceu Arina, a mulher mais bela que já havia visto.
Quando seus caminhos se cruzaram pela primeira vez, ela tinha cabelos enormes e pretos, que no instante estavam sendo usados para esconder os olhos cheios d'água e o rosto vermelho. Mesmo nunca tendo visto aquela garota em sua vida, decidiu consolá-la e com certeza, aquela foi a melhor ação de sua vida, caso o contrário, não estaria com a pessoa que tornava seus cansativos dias alegres e deslumbrantes.
—Amor...
Saindo dos devaneios Ivan a olhou, os cabelos despenteados davam um ar selvagem àquela bela mulher, enrolada no lençol.
—Eu estava pensando no garoto que você salvou...
—Nós salvamos...
Ela apoiou no peito do namorado e sorriu—Eu cai em cima dele tentando ser sexy,aquilo não foi salvar.
—Você o encontrou...
Ela deu de ombros—Presta atenção. Você disse que ele não tinha um endereço fixo,não foi?
—Sim,mas faz um bom tempo que falamos sobre isso,por que está voltando nesse assunto?
—Eu quero que ele venha ficar aqui conosco....
Ivan recebeu tal reivindicação com surpresa —Por que eu traria um desconhecido, usuário de drogas a minha casa ?
—Nossa casa! —Disse ela
—Não posso trazer alguém assim para morar conosco. E se ele nos matar para comprar as substâncias que usa?
Arina suspirou e se afastou do namorado
—Ele pode nos roubar ou fazer algo pior a você. Não o conhecemos!
—Talvez você não saiba, mas tive aula de sociologia com ele, ele faz administração e é um ano mais novo que eu, dizem que ele veio da Ucrânia e que a mãe dele é Russa.—Disse ela ao dar de ombros —Eu sei disso porque fiquei preocupada,quero ajudar
—Arina, não! Eu já consegui um lugar para ele de graça na clínica a pedido seu,não sou uma ONG—Disse Ivan
—Mas amor...
— Sabe que eu odeio quando insiste —Disse Ivan a interrompendo
Arina revirou os olhos e sentou na cama—Eu só pensei que... —Mordeu os lábios —Podíamos ocupar o quarto ao lado e...
— Arina... —Disse Ivan de forma repressora, mas ela apenas o selou e passou a unha de leve em seu peito
—Ajudar alguém não vai te matar! Faz isso por mim, na verdade faça isso pelo Pietro... Não tem arrependimento quando fazemos a coisa certa
Ivan revirou os olhos, aquela frase antecedia bons argumentos —Falamos disso depois... Vamos dormir!
Arina suspirou— Depois?
—Sim,boa noite!
Ivan deu as costas a namorada e fechou os olhos,fugiu do assunto por saber que a outra não o deixaria descansar caso não parasse a conversa.
--◇◇--
Ivan sentou na poltrona no canto da sala e ligou a televisão, só para espantar o desconforto, não gostava de sentir um abismo entre ele e Arina,que ainda inconformada com a conversa da madrugada,não havia trocado uma palavra com ele.
Arina saiu do corredor e jogou-se no sofá,seus cabelos pretos e curtos estavam completamente molhados, seu corpo estava coberto apenas por uma toalha branca que mal batia nas coxas finas.
Ivan a olhou e balançou a cabeça negativamente —É por isso que moramos sozinhos!
Arina mordeu os lábios ainda jogada de bruços no sofá preto ao lado da poltrona—Eu sei...
Ivan passou a mão na nuca e respirou fundo —Não estou brincando, somos um casal, temos intimidade!
—Se tivéssemos um hóspede você gritaria "Arina,ponha uma roupa!"—Riu —E eu não obedeceria seu lado autoritário
—Não é?
Arina levantou-se e se aproximou de Ivan, deu uma mordida fraca nos lábios do namorado e soltou a parte de cima da toalha, deixando-a cair no chão
—Você não manda em nada! —Disse sorrindo ao dar dois passos para trás
—Por que esse interesse em ajudar um qualquer?
—Sou bondosa! —Deu de ombros—Quero que vá falar com o Pietro, e não é só um pedido
Ivan fechou os olhos com raiva, Arina tinha uma personalidade difícil, gostava de está no controle e era totalmente inconsequente, mas o fato de está nua no meio da sala com um sorriso quase infantil, acabou com qualquer futura discussão
Arina abaixou-se, pegou a toalha no chão e voltou a se enrolar—Estou indo visitar minha irmã. E você, vá a clínica
—Isso está fora de cogitação
Arina o encarou por alguns segundos—Depois me diga o que ele te respondeu —Falou antes de sair da sala
Ivan balançou a cabeça negativamente. Fazia de tudo por aquela mulher.
—Amor, vai querer carona? A clínica fica quase no mesmo caminho! —Gritou Ivan ao levantar
Arina apareceu correndo no corredor e jogou um beijo no ar—Você nunca me decepciona.
Ivan passou a mão na nuca e anuiu. Ela o tinha nas mãos. Mesmo muito contrariado era sempre Arina que tomava as decisões e talvez ele gostasse de deixá-la no comando.
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Os Traidores - Série Crianças de Moscou
Teen FictionPietro, Ivan e Arina tinham problemas e magoas que não seriam resolvidos com facilidade. Ivan era carente Arina só queria ajudar sua família Pietro sofria ao lembrar dos abusos do passado Por isso, assim que passam a conviver juntos, todo...