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Arina pretendia apenas ir ao banheiro, mas assim que seu telefone tocou, e ela ouviu a voz desesperada de Lev, sua primeira atitude foi colocar os pés nos tênis de Pietro, que eram bem maiores que seus pezinhos, pegar o casaco e as chaves do carro para sair correndo de casa.

Chegou ao hospital contendo todas as suas emoções, olhou o reflexo de seus olhos na tela do celular, para certificar-se de que eles não estavam vermelhos e tomou o elevador para sair do estacionamento subterrâneo.

Tinha dirigido tão rápido e passado com tanta velocidade pela recepção que quando entrou na sala de espera, correu até sua mãe que chorava sentada em uma das cadeiras verdes enfileiradas

—Ela morreu... Ela se foi... —Disse chorando alto.

Arina beijou o rosto dela algumas vezes —Calma... Eu estou aqui! —Disse ela, abraçando a mãe e passando a mão pelos cabelos dela.

—Seus irmãos... —Disse Vonda entre os soluços —Seus irmãos menores... ainda estão em casa, eles não sabem o que houve...

Arina ajoelhou-se no chão e pegou as mãos da mãe,não deixou que uma lágrima escorresse,estava calma e firme—Eu contarei a eles, pode deixar comigo. Eu explico aos meninos, converso com a Lana e ajudo com o que precisar...

Vonda assentiu, ver a mãe tão fragilizada só a fez perceber o quanto tinha que ser forte

—Eu não acredito que perdemos nossa menininha... —Vonda apertou as mãos de Arina

—Ari...

Ao ouvir a voz de Lev ela levantou do chão e encarou o irmão, ele não parecia está chorando, mas seu rosto rinha traços claros de quem faria isso a qualquer momento

—O papai está sendo atendido, ele desmaiou! —Disse Lev, arrastando uma mão na outra, ele ainda usava a roupa da manhã anterior e parecia nervoso enquanto falava, como se faltasse ar.

Arina o pegou pela mão e o levou ao canto da sala, onde tinha um bebedouro embutido na parede

—Eu estou arrependido... —Lev a abraçou assim que proferiu as palavras. Arina soube exatamente pelo o que lhe trouxe aquele sentimento

—Eu sei que você não queria que ela morresse! —Arina afirmou, afagando os cabelos dele com a mão, enquanto via a mãe ainda sentada com as mãos no rosto, só então notou que haviam outras pessoas ali, duas mulheres e um garoto tão jovem quanto seu irmão

—Eu não a queria morta, você sabe, não é?

Arina soltou o irmão —Eu conheço você, sei que não quer o mal dela, Lev, vi você andar com essa menina nos ombros, defender ela da implicância dos meninos, você a amava como todos nós!

Ele beijou a testa da irmã —Não se Culpe por te dito aquilo. Parte de seu discurso deturpado tinha haver com sua vontade de vê-la bem

—Obrigado! —Disse Lev—Você pode ver como o papai está? —Falou ao passar a mão no nariz, estava chorando, e abraçava a irmã como quando eram pequenos e tinha praticamente a mesma altura e idade, ainda que mentalmente a garota não aparentasse ser apenas um ano e alguns meses mais velha

—Onde ele está? —Ela perguntou sentindo um gosto amargo na garganta, estava evitando o pai, mas naquele momento de dor, não podia levar aquilo em consideração

—Enfermaria, terceiro andar, mas é do outro lado, no prédio perto da lanchonete!

Arina balançou a cabeça afirmando e tocou o rosto do irmão, enxugando as lágrimas dele—Fique junto com nossa mãe, ela precisa da gente!

—Eu sei, mas e você?

Arina mostrou sua feição mais serena e gentil—Eu estou bem!

Lev deu outro beijo na testa da irmã, sabia que ela estava sofrendo, mas preferiu deixar que ela lidasse com a dor da maneira que preferisse

Arina soltou a mão do irmão e andou até a mãe, tocou o ombro dela antes de seguir ao corredor a sua direita, para chegar na área aberta, sentiu as pernas falharem um pouco, olhou em volta e notou que estava sozinha. Pôs-se de cócoras e apertou o cabelo, fechou os olhos e um arrepio a percorreu, era difícil tentar ser racional, quando tudo estava ruindo.

Os dias anteriores já tinham lhe testado, os segredos dos pais, suas conspirações pessoais e agora perder a irmã. Tentando não deixar o sentimento a consumir, ela levantou e após respirar fundo, entrou no prédio a sua frente

--◇◇--

Ivan acordou no horário de sempre e ainda assim, estava cansado, talvez o fato de ter demorado a pegar no sono na noite anterior tenha contribuído para aquilo.

Sentou na cama devagar e não viu Arina na ponta esquerda da cama, olhou para seu lado direito e apenas Pietro dormia.

Por saber que Arina nunca levantava antes do despertador, pôs-se de pé e olhou no banheiro,que estava vazio,saiu do quarto e foi a sala. Arina provavelmente tinha saido, seu típico casaco não estava largado no sofá, mas suas botas de sempre, estavam no lugar.

Voltou ao quarto para pegar o celular e viu que Pietro tinha acordado

—Sabe se a Arina saiu?

Pietro coçou a pálpebra e sonolento lembrou-se de ter acordado no meio da madrugada e não ver Arina na cama, mas havia pensando que ela tinha ido ao banheiro ou algo semelhante.

—Não sei ao certo, não a vi durante a madrugada

Ivan sentou-se na cama com uma feição preocupada e ligou para a namorada, Arina não atendeu nem na primeira e nem na segunda vez

—Para onde será que ela foi? —Pietro perguntou ao levantar

—Ela não é disso, deve ter acontecido.... —Antes que pudesse terminar a frase,sentiu o celular vibrar, atendeu

—É ela? —Pietro perguntou e ele afirmou

—Onde você está? —Ivan perguntou com o celular na orelha

—Abrindo a porta, cheguei! —Ela respondeu e desligou o telefone

Ivan levantou—Ela chegou!

Pietro o seguiu até a sala e viram Arina entrar, com os cabelos bagunçados, calça de moletom e uma camiseta de seda-sua roupa de dormir -usava um tênis maior que seus pés e sentou no sofá, abraçando o casaco.

—O que houve? —Pietro perguntou ao sentar-se ao lado dela

—Daria morreu, nesta madrugada! —Afirmou de forma direta, e sentiu um peso enorme se abater contra seu corpo, agora estava segura, não precisava engolir os sentimentos —E pensar que eu fiquei com ela... Se eu soubesse que era a última vez...

—Por que não nos acordou? —Ivan perguntou ao sentar a esquerda dela

—Se fossem comigo, eu não conseguiria agir da forma que agi, não daria para fingir tão bem.—Respirou profundamente —Minha família precisa de consolo!

Pietro colocou a mão na coxa dela—E quem te consola?

Arina deu um sorriso triste—Eu espero que sejam vocês... —Disse sentindo uma lágrima isolada escorrer por sua bochecha.

Ivan colocou a cabeça no ombro dela e Pietro fez o mesmo, ela apenas fechou os olhos e chorou quietamente.

--◇◇--

Os capítulos voltarão cm força, tive que dar um tempo por conta do casamento do meu irmão e querem uma ironia?  Estou aqui concluindo esse cap em uma festa.

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora