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Ivan não achou que seria possível, mas fugiu do apartamento com a chave que estava na mochila de Pietro. Saiu com tanta pressa que não se importou em pegar um casaco ou colocar um de seus suéteres. Na verdade, nem se quisesse conseguiria, Pietro tinha ido ao quarto ligar para Arina o que foi a deixa perfeita, para pegar a chave e sair do apartamento, portando apenas a carteira que estava em seu bolso.

Não queria precisar fazer isso, não estava em seus planos pegar um táxi e ir a casa de seus pais, mas precisava falar com a mãe, ainda que pudesse encontrar o pai no recinto. Não podia deixar o tempo passar, principalmente, agora, que sabia do sequestro.

Bateu a porta e Constantin abriu e com um sorriso forjado e olhos nervosos, lhe deu passagem para entrar.

—Minha mãe, eu a vi na televisão,achei que ela já estaria em casa...

Constantin engoliu a seco—A senhora não voltou ainda. Mas o doutor, está no andar de cima!

Ivan suspirou—Então estou de saída!

—Você não irá a lugar algum! —Disse a voz feroz que ele logo reconheceu

—Vai me sequestrar também, pai? —Ivan provocou e recebeu um olhar frio e feições tensas

—Constantin...—Górki disse o nome do empregado e fez um sinal com a sobrancelha

—Com a sua licença!—Disse o empregado ao sair

Ivan olhou para o pai, que usava um terno cinza e tinha penteado os cabelos loiros para trás, mal o reconhecia, Górki tinha uma expressão opaca e rude, porém havia mais embaixo daquele queixo firme e olhos gelidos.

—Vou ao encontro do meu advogado!

—Não me importo com o que faz. Estou de saída

—Ivan, eu preciso do seu apoio. Falei com você que sua mãe me trairia.

Irritado ele se aproximou do pai—Isso foi antes da verdade bater em meu rosto. —Gritou apontando para o homem—E ela não te traiu. Te denunciou pelos seus crimes

—Não grite comigo ,moleque. Você não sabe de nada!

Ivan deu uma risada nasal, ainda que seus olhos transbordassem, sentia necessidade em falar—Sei o suficiente!

—Não! —Górki gritou e fechou os olhos momentaneamente,como se controlasse a raiva—Ivan, eu não fiz nada com sua mãe. Eu achei que ela estivesse no Camboja!

—Não acredito em você! —Afirmou e deu as costas, enxugando as lágrimas — Assuma seus crimes!

—E quais são meus crimes?

Ivan não tinha certeza em como responder, então o questionou, ainda de costas para ele—Você...Roubou crianças?—Suspirou—Você me... Me conseguiu dessa forma?

Por mais que fosse a segunda pergunta que mais o perturbasse, ele ansiava pela resposta.

Górki cruzou os braços e respirou fundo—Sim, falsifiquei óbitos, paguei para trazer crianças a Rússia, ajudava a negociá-las... Você foi uma dessas crianças!

Ivan queria gritar ou quebrar alguma coisa, o pai tinha assumido tudo e ele não podia odiá-lo mais. Pensou imediatamente, em como teria sido a vida com outra família, em como tudo seria diferente e talvez, melhor em muitos aspectos.

Era doloroso demais ouvir o pai falar daquela forma, com naturalidade.

—Sua mãe queria muito um filho. Você nasceu no mesmo dia em que meu filho que faleceu, os dois eram bem parecidos então foi uma troca simples! —Ficou em silêncio por alguns instantes—Você já sabe do que realmente importa, então acredite quando digo, não fiz nada com a Kenia! —Prosseguiu—Não encostei nela!

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora