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—Me trouxe a uma balada? —Ivan arqueou a sobrancelha, ao descer do táxi e seguir o moreno que andava rápido a sua frente—Estou de suéter e sapatênis!

Pietro o olhou, Ivan era o tipo de cara que parecia se esforçar bastante para manter a aparência. Camisa de gola alta por baixo do suéter amarelo, calça bem engomada, sapatênis preto. Sua vestimenta dizia tanto sobre sua personalidade e posses que ele sempre parecia um riquinho.

—Ninguém vai se importar! —Disse Pietro—As pessoas não ligam para roupas e depois que cruzamos a porta, a falta de iluminação te torná-los cada vez menos interessados na gente!

—Eu não sei, não gosto de lugares assim!

—Ainda quer beber?

Ivan deu de ombros em resposta, acompanhando Pietro que ignorou a fila, formada por pessoas que queriam entrar na balada, e parou em frente ao segurança.

—Boa noite, Ruslan! —Disse Pietro, estendendo a mão para que o homem apertasse

Ruslan, um homem branco, enorme e bombado, deu um sorriso aberto, mostrando os dentes tortos e amarelos —Veja quem é! —Disse a ninguém em especial—Há quanto tempo não vem! Senhor Dmitry não me disse que tinha voltado

Pietro deu um sorriso singelo e olhou para Ivan que parecia aéreo à conversa.

—Podemos entrar? —Perguntou por fim

—Claro —Se afastou da porta deu um tapa de leve no ombro de Pietro—Só fica de olho, tem uns caras marcando em cima, autoridades! —Sussurrou a última palavra

Pietro agradeceu e deu uma leve cotovelada em Ivan, indicando que ele precisava segui-lo.

Era óbvio que Ivan não havia notado que Pietro não estava ali só para consolá-lo, o garoto estava a trabalho. Tinha passado na casa de seu fornecedor e entregue mais da metade do dinheiro que conseguiu por repassar o lote anterior, para enfim pegar mais mercadoria. Tinha dívidas a quitar e como qualquer um, precisava de dinheiro.

Ivan sentou-se em um dos bancos pequenos perto do bar e pediu uma dose dupla de vodca, enquanto Pietro o informou que precisava se afastar para falar com uns amigos.

—Não saia daí! —Disse Pietro, ao ouvido do loiro

—Não está nos meus planos! —Disse ao pegar o copinho, virou a dose sem esforço algum. Aquele era seu segredo, dizia a todos que não era de beber, mas apreciava muito o álcool, talvez mentisse por medo de que o compararem a sua avó materna que era alcoólatra

Mas, gostando ou não, preferiu ignorar pensamentos profundos e focar no vazio que sentia. Como o amor pode se transformar em algo tão traiçoeiro? Havia dormido abraçado com a namorada, sentindo o cheiro doce de seus finos cabelos, tão castanhos quanto seus profundos olhos e acreditando que tinha o mundo em suas mãos e agora, pouco menos de vinte e quatro horas depois, não tinha certeza se seu amor estaria ou não com ele.

—Está com Pietro?

Ivan levantou o olhar e encarou o barman que estava de preto, passando pano em um copo de vidro.

—Sim, ele é popular por aqui... —Disse, constatando. Do segurança ao barman, era bem conhecido

—Ele trabalha para o dono! —Afirmou o barman

Ivan franziu o cenho, Pietro tinha lhe dito que estava desempregado, saber que prestava serviços para alguém o surpreendeu. Em silêncio, girou o banco e procurou pelo outro entre a multidão, mas haviam tantas pessoas à sua frente que parecia impossível vê-lo.

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora