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Kenia voltou para a casa após passar um tempo em um banheiro público pintando o cabelo e decidindo se deveria seguir em frente pedindo carona até alguma cidade pacata ou continuar na propriedade que a pertencia.  E mesmo contrariada, decidiu voltar, o caseiro já fazia perguntas suficientes e chegar com o cabelo tingido aumentaria a lista de questionamentos que pela maneira que agia, a fazia acreditar que ele sabia mais do que falava.

Assim que empurrou a porta e entrou na casa, viu o velho Oleg com duas xícaras em mãos, saindo da cozinha e seguindo a sala.

A casa era pequena,como era fácil de perceber, a cozinha a esquerda, o banheiro atrás da porta de madeira escura a sua direita e mais a frente a sala e o único quarto, que para sua infelicidade estava com a porta quebrada.

—Dona Kenia...  Quase não a reconheci! —Falou ao olhá-la—

Encucada com as duas xícaras de chá, Kenia foi obrigada a perguntar—Sabia que eu estava voltando? Para quem é esse chá? —Disse ao tirar o boné e pendurá-lo no gancho preso a parede.

O idoso não precisou responder. Dmitry que apenas esperava pelo momento certo de aparecer e surpreende-la, achou que aquela seria uma boa deixa. 

—Para mim. Vim fazer uma visitinha! 

Kenia deu um passo para trás e tocou na maçaneta da porta, estava desarmada, portando apenas uma sacola de mercado e em clara desvantagem, por mais que não visse Nikolai por ali, sabia que Dmitry nunca andava sozinho.

Provavelmente, se tivesse se atentado aos detalhes, não entraria na casa após ver o carro preto do outro lado da rua

"Puta merda! "- Disse e dessa vez não se recriminou por xingar

—Dmitry... —Disse o nome dele apenas para voltar a órbita

—Para uma mulher tão rica, saber pintar o cabelo seria uma habilidade, que ao que parece você não tem! —Disse Dmitry ao dar um passo em direção a ela

Kenia girou a maçaneta, mas o fato da porta abrir para dentro, dificultou bastante o seu plano de passar despercebida

—Mas que pressa é essa?  Íamos tomar um chá! —Dmitry cruzou os braços ao ouvir o barulho da porta e vê-la se mexer

Ela engoliu a seco e tirou a mão da porta—Eu não fugiria de você!

—Vai querer chá? —Perguntou o idoso Kenia não respondeu, estava tensa demais

—Ela quer sim!...E traga aquele biscoito que o senhor ofereceu antes!—Disse Dmitry para que o idoso se afastasse, e assim que o velho entrou na cozinha ele deu mais um passo para frente  —Ora, ora, achou mesmo que eu não te encontraria vagabunda?  Nem se você ficasse careca e se mudasse para a America do Sul, eu deixaria de te procurar! 

—O que quer comigo?  Eu não tenho nada contra você, só...

—Fala baixo!  —Ele apontou para cozinha e depois para sua orelha—Não quero preocupar esse senhor tão bondoso! 

Kenia respirou fundo —Dmitry, eu só quero sair daqui, dessa cidade, desse país, deixo tudo para trás! Confia em mim, nunca mais vai precisar me ver!

—Eu não confiaria em você, nem se eu recebesse um aviso divino dizendo que você é a merda de uma santa! —Dmitry riu e tirou o óculos escuro do rosto dela, Kenia sentiu que havia raiva em cada olhar, palavra ou gesto vindo daquele homem e não ter nenhum tipo de proteção contra ele, era a pior coisa que podia ter lhe acontecido—Nikolai? —Chamou ao recuar dois passos e colocar o óculos redondo e preto no próprio rosto

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora