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Pietro estava estressado, não tinha brigado com ninguém, mas assistir Arina e Ivan discutindo lhe machucou. Voltou para o apartamento em silêncio, se recusando a sentar no sofá e compartilhar do ódio que Ivan sentia, ao gritar olhando para a televisão, ele seguiu ao quarto de hóspedes e deitou-se na cama, olhando para o teto em silêncio.

Seus olhos estavam finalmente abertos, não haviam vilões dentro daquele apartamento e por mais que se culpasse por ter pensando o pior de Arina por muito tempo, tinha que admitir que ela havia contribuído para esta imagem na maior parte do tempo.  Porém, era sua culpa não ter tentado conhecê-la da maneira correta

Se não fosse por ela, depois de beijar teria fugido e continuaria vivendo em diversas pousadas, bebendo e usando uma quantidade absurda de drogas.

Sibilou ouvindo Ivan gritar algo. Colocou a mão no bolso, verificando se tinha pego a chave que Arina deixou na bancada e ao constatar que sim, arrumou o travesseiro.

Tentou deixar o pensamento voar para algo que não fosse um acontecimentos daquele dia ruim e cansativo. Estava tão exausto que pegou no sono sem perceber e só saiu de seu breve descanso quando a voz de Ivan o atingiu.

—Pietro?...

Ainda sonolento, sentou-se na cama e coçou a pálpebra

—Está com raiva de mim?

Pietro o encarou, o rosto vermelho e a voz falha comprovavam o descontrole que o acompanhou durante todo o dia.

—Não deveria ter mandado ela embora. Foi injusto! —Disse com calma, vendo-o encostar no batente da porta

—Fiz a coisa certa. Você sabe como ela é! —Ivan falou após respirar fundo

Pietro balançou a cabeça negativamente —Não, não sei. A única pessoa que a conhecia era você. E ainda assim a expulsou!

Ivan tampou a boca com a mão —Ela não deveria ter dado as provas àquele velho que acha interessante explorar a crise da meia idade. Denunciou nossos pais como se isso apenas a afetasse. Não pensou em mim.

Pietro levantou-se —Você teria denunciado seu pai? Teria essa coragem?

Ivan pensou em silêncio

—Eu sei que não. Você odeia o que seu pai fez e sabe que ele é um merda, que não se importa com você e que fez coisas erradas e monstruosas, mas ainda assim, você não o denunciaria.—Sentiu os olhos arderem, sentia-se tão frágil—Porque somos parecidos, eu não fiz isso com a minha mãe por pensar que esquecer e fingir que não aconteceu seria mais fácil do que admitir, a verdade é que a realidade machuca, Ivan. —Suspirou—Arina não é como a gente, ela faz o que acha correto por mais que doa, é uma maneira difícil de viver, mas hoje, ela está certa!

Ivan o olhou por algum tempo —Você nem gosta dela!

Pietro respirou fundo—Gosto, só não percebi tudo antes, porque... Porque fiquei encantado com você e seu jeito contido e seguro, enquanto Arina era uma explosão que me confundia! —Passou a mão pelos cabelos volumosos —Vocês precisam se acertar... Isso, o que temos ou tínhamos é o mais próximo que eu já tive de uma... De uma família —Admitiu sentindo o coração acelerar. Talvez não devesse dar mais questões para Ivan lidar, mas era tarde demais.

Ivan o olhou ainda abalado e como se buscasse algum controle, fechou os olhos—Vou para o quarto, minha cabeça está explodindo! —Suspirou—Você vem?

Pietro negou—Vou ficar aqui.

Ivan anuiu —Boa noite! —Disse ao sair do quarto

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Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora