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Ivan estava na lanchonete do Hospital da cidade central, e após ter sido medicado, evitado falar com os policiais e esperado que enfaixassem a perna de Arina, enquanto ela tentava falar ao telefone com Olga e Lev, ele mal pôde comer ou pensar em algo que não fosse Pietro, ou no fato de ter matado um homem.

Seus sentimentos estavam tão confusos, estava buscando incansavelmente sentir algo que não fosse raiva,  em relação a tudo que tinha o levado até aquele momento ou preocupação, por Pietro está passando por uma cirurgia para retirada da bala.

—Meus irmãos estão bem...  Mas ainda não disse a eles tudo o que aconteceu, não quero preocupa-los, Olga está bem animada! —Disse Arina ao largar a muleta e sentar a mesa junto de Ivan, que tinha comprando um lanche para ela. —Você ainda está com dor?—Arina perguntou ao notar que ele não prestava atenção —Ivan?

—Desculpa... —Disse Ivan, ao coçar as pálpebras

—Está bem? —Ela perguntou, entregando o celular a ele

—Sim!

—Mas não me parece,desde que... Os policiais tentaram falar com você? Eles disseram alguma coisa que te magoou?

—Não conversamos, aleguei indisposição

—Você acha que sua mãe vai sair impune disso?

Ivan balançou a cabeça negativamente, abraçado com o moletom que Pietro estava usando quando foi baleado, a peça tinha furos onde o garoto havia sido baleado e estava suja de sangue.  Nem ao menos tinha pensado na mãe, que estava sendo procurada pela polícia e por Junkie, que seguiu irado para delegacia minutos antes.

—Ivan?  Ele corre riscos? —Ela perguntou apreensiva, guardando no bolso, com cuidado a medalhinha de Dmitry que antes estava em suas mãos

Ivan suspirou e pegou a mão de Arina na mesa—Ele vai sair dessa! Falei com médico, ele está em cirurgia, deve receber sangue e isso me assusta um pouquinho... —Admitiu suas preocupações —Eu só queria levá-lo para o hospital da minha família, esse hospital público não tem como dar toda assistência que eu conseguiria...—Hesitou, vendo os olhos da Arina se encherem d'água—Mas, ele vai sair dessa! —Afirmou com otimismo, para expulsar o que disse antes

Arina coçou a cabeça —Você não tem certeza disso! —Afirmou ao tampar o rosto com as mãos

Ivan suspirou e eles ficaram em silêncio por algum tempo,até que ele resolveu falar —Eu perdi o controle Arina, perdi completamente o controle, hoje!

—Do que está falando?

—Bem...Eu quase joguei o carro de frente com um caminhão, incentivei o Pietro a atropelar alguém e atropelei um homem, o matei e não me sinto completamente mal com isso.

Arina encarou o namorado por alguns instantes, Ivan nunca saia da linha, tentava sempre não se estressar, agia como um menino rico e certinho,  ouvir aquelas coisas a fez pensar. Ela sabia que ele tinha um lado que não explorava, um lado que gostava bastante de bebidas, um lado teimoso -que as vezes era apagado por seu jeito mimado-,  um lado firme e decidido, mas aparentemente, Ivan não se conhecia muito bem, pois parecia surpreso com suas próprias atitudes.

—Você fez o que tinha que fazer. Não precisa sentir remorso!

—Eu não... —Hesitou antes de prosseguir —Aquele traficante disse que queria minha mãe morta e eu concordei com ele! —Ivan balançou a cabeça negativamente —Eu queria minha mãe morta... —Fechou os olhos momentaneamente

—Depois do que ela fez,não se culpe por isso. Kenia merece, ela é odiosa!

—Mas eu deveria ter sentindo algo, uma dor, medo por ela, remorso pelo homem... Eu só sinto raiva! —Admitiu e Arina passou a mão na sobrancelha dele,penteando os fios loiros—Tenho medo disso, viro outra pessoa quando isso acontece. —Coçou a cabeça desconfortável—Chamei minha mãe de "puta, vaca e mentirosa" e não sinto nada, passei por cima de um homem com meu carro e não me arrependi,  eu faria tudo de novo. Arina eu faria tudo por você, eu faço tudo por você desde o dia em que nos conhecemos e eu te vi chorando... —suspirou—Foi ali, naquele dia eu decidi que faria tudo que pudesse por você e isso inclui a primeira vez que me chamou para ir ao Carlisle e me fez tomar aquele café com leite cheio de açúcar... —Ele sorriu, e ela retribuiu, passeando a mão pelo rosto dele, como sentiu falta daquelas mãozinhas — Eu faria tudo por você, mas tem uma coisa que você precisa saber!

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora