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Arina não se sentia confortável desde o encontro bizarro onde sentiu-se ameaçada pelo pai no estacionamento de seu prédio, por isso escolheu conversar com homem em uma Pizzaria há duas ruas de seu apartamento, com a garantia de que ali ele não poderia ser amedrontador e contando com a sorte de Pietro está na mercearia da esquina.

—Estão contratando aqui... —Comentou ao coçar a barba—Avisarei ao Lev, acredita que seu irmão está prestes a ser demitido, de novo?  Ele não consegue chegar na hora! Você deveria conversar com ele... Não tem como um patrão aceitar alguém que não tem responsabilidade!

Ela olhou para a luminária pequena no teto,o lugar tinham cinco ou seis pessoas espalhadas por mesas quadradas de madeira clara e toalhas vermelhas.

Hugh suspirou e olhou para a filha—Minha capitã, seus irmãos estão preocupados com você. Conversa comigo!

Arina cruzou os braços, apenas olhando em volta, aquela pizzaria pequena, feita em um prédio antigo e de tijolos marrons eram como qualquer outro lugar da Rússia, luminoso e aconchegante ainda que gélido. Olhava para as próprias mãos na mesa e pedia ao universo que Pietro passasse por aquela calçada e a visse ali, sentada a mesa mais próxima da janela grande de vidro.

—Está com tanto frio assim? —Hugh perguntou— fica se encolhendo...—Comentou

Arina sibilou, ainda não sabia como iniciar a conversa.

—Filha?  —Hugh colocou o cardápio de lado e esticou o braço sobre a mesa a fim de tocar na garota

—Sabe?  Eu confiava muito em você, acho que essa confiança começou quando você me viu dando uns beijinhos no Gleb, eu deveria ter uns dez anos e você disse que eu não precisava fazer nada em segredo porque você era meu amigo.

—Eu lembro disso, você era uma menina muito sapeca!

Arina balançou a cabeça —Não me interrompe, por favor... Nossa confiança só cresceu, a ponto de eu te dizer aos quinze que tinha feito sexo pela primeira vez e te contar de uns namoradinhos.

—Não sei onde quer chegar! —Ele disse a olhando diretamente

Arina riu—Hera não tinha essa ligação com você e ainda assim, te contou que estava grávida e ao invés de dar um conselho a ela, você...—Arina pensou em como prosseguir, não podia ser burra e jogar toda a informação no colo do pai, ele não podia desconfiar que ela sabia de tudo

—Eu o quê? —Ele perguntou ríspido

—A ajudou, colocando a criança para adoção! Um bebê, seu neto!

Hugh parecia pálido e com a respiração um pouco descontrolada

—Eu não podia esperar isso de você, eu te admirava.

Hugh balançou a cabeça negativamente —Olha como fala comigo.

Aquela não era nem a metade do que ela sabia e não era nem um terço da raiva que passava por seu corpo, e por ser repreendida como uma criança fazendo birra, Arina bufou.

—Eu quero distância de você e de suas mentiras!

—Mentiras? Eu sempre fui claro com você, está revoltada por eu ter ajudado a sua irmã com uma criança que ela não queria? Não consigo acreditar. Tem que haver mais, o que mais você sabe?

Arina não teria problemas em responder, sempre fora boa mentirosa e numa situação quase de confronto,nem ao menos precisou pensar muito —Mamãe me disse que vocês tinham um filho biológico! São pais do Dmitry e eu sei que é ele que te ameaça!

Hugh deu de ombros desmerecendo a colocação dela—Tinhamos uma vida antes de adotar vocês, isso não nos torna menos pais! —Riu—Dmitry é uma decepção...

Arina fechou os olhos, agora que sabia a verdade, quase não conseguia suportar as falas daquele que um dia foi seu herói.

—Sua mãe não vai suportar perder outro filho, Arina.—Disse Hugh—A Dária morreu há três dias,tão pouco tempo... Mal consigo pensar e você me traz um questionamento desses, numa situação de Luto? Esperava muito mais de você!

Arina passou os dedos pelos próprios cabelos, odiava quando ele a fazia sentir assim, como alguém que falha com a família, como uma ingrata, mesquinha..
Ele não pode te colocar nessa posição.

—Pensa um pouco, vai se afastar da sua família por uma coisa tão pequena? Eu e Hera resolvemos o problema, você não está envolvida, se errei foi tentando ajudar.

Arina suspirou irritada—Tudo que vocês fazem é da minha conta,não se engane!

—Você sempre foi intrometida e superprotetora! —Disse ele, com um tom calmo

—Eu preciso de espaço! —Falou olhando para fora da janela, onde viu Pietro do outro lado da rua abraçado com três sacolas de papelão, com certeza Ivan estava certo e ela deveria tê-lo acompanhado nas compras, ao menos não estaria sentada de frente para o pai e com o sangue fervendo

—Arina, não seja infantil! —Disse com desdém

—Não vá mais a minha casa. Me deixa em paz! —Disse ao levantar e pegar a bolsa presa na cadeira

—Filha...

Arina nem o respondeu, só empurrou a porta e correu na direção de Pietro que tinha dificuldade em andar com as bolsas.

—Deixa eu te ajudar! —Ela disse já puxando uma das bolsas

—O que faz aqui?  Achei que estava "frio demais para sair"—Pietro provocou

—Meu pai veio me visitar! —Respirou fundo —Vamos logo para casa por favor!

Pietro respirou fundo e passou a andar tão rápido quanto a garota

--◇◇--

Arina não tinha dormido bem e para compensar o estresse que seu pai lhe transmitiu na noite anterior, ela resolveu tomar seu leite quente e ouvir música. Colocou os fones e fechou os olhos deixando que a melodia animada da música escolhida levasse tudo embora, gostava da batida por mais que não fosse fluente na língua estrangeira e não tivesse muita ideia do que a canção dizia

Ivan sentou-se a mesa ao lado dela e por não conseguir ouvir o que ele dizia,passou a musica

—Tomei uma decisão! —Falou ao levar a caneca com café aos lábios

—Então me conte!

Ivan deu mais um gole no café antes de arrumar a postura para dizer—Vou ao hospital depois da aula. Falei com meu pai e ele me convenceu.

Arina colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha—Deixe-me adivinhar, ele disse que gosta de ter você por perto e que precisa de você com ele no hospital, para mostrar que são unidos

Ivan a olhou um pouco envergonhado —Como sabe?

—É o que meu pai diria, sempre apelam para o lado emocional!

Ivan respirou fundo—Acha que eu devo ir? 

Arina pensou no que dizer, poderia apoiar e deixar que o doutor o enchesse de mentiras, mas não sabia se era o certo a se fazer.

—Eu... —Arina começou, mas ao ver Pietro entrar na sala apenas como uma toalha amarrada na cintura passou a olhá-lo. 

—Alguém viu meu telefone? —Pietro passando a mãos nos cabelos que estavam pingando

—Estava no quarto! —Disse Ivan

Pietro assentiu e virou-se voltando ao corredor

—Ele é lindo... —Disse Arina

Ivan deu um sorriso de lado—Disso a gente já sabe! —Deu um gole no café —Mas me diga acha que devo ir?

Arina sorriu—Se você acha que precisa, vá!

Os Traidores - Série Crianças de MoscouOnde histórias criam vida. Descubra agora